“… Eu construo a minha própria espiritualidade. Entendo que não posso adquiri-la de outra forma, não posso ser militante de uma outra que não a minha, ser seguidor, comprador, imitador, enganador de mim mesmo.
Eu construo o meu próprio bem-estar de uma forma simples e verdadeira, e essa verdade é a minha, mesmo que não o seja fora de mim.
A minha espiritualidade são os momentos em que me esqueço que sou um ser vivo, em que me esqueço do tempo, do frio, do calor, do sexo, dos jogos, dos outros, e me encho de amor, me abraço e aconchego, e sou eu, de olhar cego, de voz abafada, de respiração cortada, de audição surda, de amor tão cheio, que não sobra nada se não eu mesmo, sentindo-me deus de mim próprio.
Não consigo encontrar fora de mim, o que dentro de mim habita.
Não consigo reconhecer fora de mim, o que dentro de mim ocupa.
Não consigo ouvir fora de mim, o que dentro de mim grita.
Espiritualidade é una, indivisível, encontrada, experimentada a sós, não são correntes de gratidão absorvidas em multidão.
Foi assim que retornei à terra que me viu partir e deixei o val de mar junto ao mar, e por la fiquei sem ficar…”
Este tempo de campanha eleitoral é divertido, Diverte-me. Depois penso bem e afinal não me diverte, deprime-me. Conheço naturalmente os candidatos, vivo aqui há mais de 50 anos, é constrangedor verificar a leviandade dos mesmos e das suas ideias em prol da gestão do erário publico na cidade, concelho, freguesias ou por que ordem for, se é que não existem mais variantes nesta equação, nesta ordem de grandeza, ou nesta grandeza de ordem, parece-me existirem mais factores em ponderação que não são explícitos, mas que implicitamente escapam ao que se quer esconder.
Uma tontaria pegada esta brincadeira das autárquicas. Desde os candidatos, - às não ideias -
" ... Sabes, no meu próprio respirar existe o mar alvoraçado de madrugada, e o pranto da mulher a chorar pelo amor que morreu.
No meio da minha vida algures ficou a vontade de ser viajante, trocada pela imóvel inércia de olhar para aquele oceano reflectido nas leves recordações das caras que já nem recordo.
Sinto-me "desvivo", sem retorno ou acipreste deflectido que me guarde em sua sombra, à boleia das ladainhas das viúvas, de choro disfarçado de vida, mais vivas do que eu, mais entusiasmadas pelo desnorte do que os ventos alísios, frios, corpulentos, desfraldados e orgânicos.
Sabes, no meu próprio respirar existe o mar alvoraçado de sonho, de fantasia, de outro planeta construído de gente, abraçada a gente. Uma quimera por fecundar um mundo …”
É assim com todas as mães, disse eu. Todas ficam mais pequenas e humanas. Mais despreocupadas, menos mães, apenas porque nós já somos mães também. É vida a regenerar-se a ela própria, são as mães a ficarem pequenas, e os filhos a ficarem envelhecidos. Depois somos avós e volta tudo ao mesmo, é sempre assim filha, disse o val de mar pai.
"... houve uma breve pausa no teu olhar que me gelou.
Conheço pelo reconhecimento da tua voz o teu olhar. Vejo-te sem te ver, e, sem olhar, sei o que a tua voz sente. Pelo teu andar detecto o chão, e sinto preso no teu caminharr, a tua vontade de abundante felicidade a querer enlouquecer a miséria do teu sentir. Sei da tua luta. Sei a estratégia da tua labuta.
Sei toda a tua força e juventude, os teu ais, o teu gemer, o teu sofrer, as tuas gargalhadas misturadas de animo e prazer, fecundadas pela ironia de querer sem querer, de ser sem saber, de ter sem precisar, de enlouquecer e cegar, entre a saudade e a mais profunda vontade de ficar.
Sei de ti só pela rouca voz sussurrada, de mãos cravadas e erguidas, desacreditadas dos deuses, mas aos deuses oferecidas.