Continua nessa demência mais do que enlouquecida de silêncio e noite.
Esquecerei toda a embriaguez irracional com que me presenteias quando me desfaço do que sou para te abraçar.
Lembrarei todos os goles de beijos que saboreei e de todos os poemas que construí sem que os relesse antes de te os enviar.
Sim, plantei a loucura num vaso na minha varanda, tão boa semente lancei que mesmo sem rega-la, floresceu viçosa e rebelde, espalhando-se pela pele, corpo, olhos, mãos e boca.
Continua nessa demência mais do que enlouquecida de silêncio e noite.
Estes campos parados de noite e descanso, fazem-me sossegar neste respirar solitário de me sentir em harmonia com as estrelas que me fazem companhia. Gosto da calmaria da lezíria em noite de arco-íris que nascerá pela manhã.
Canto uma cantiga antiga que diz: - a gente vai continuar - e, andando de canção em canção, percorro a saudade desordenada dos teus cabelos, na lembrança do perfume da tua pele.
Revejo a madrugada do rio que nasce e fumega, e o frio que agasalha as nossas peles nuas nos bancos quentes do namoro no nosso carro.
Recordo a serra em cada curva do regresso a casa, e os mil pensamentos castrados na torre geométrica do castelo que nos acolhia.
Recordo a cantiga, a canção e o embalo desenhado no: - enquanto houver ventos e mar -
Entre as árvores e as raízes que vão dar ao rio, espero ver entrar na avenida a tua silhueta descomposta e atrapalhada, de quem vai passar por mim e fingir a cegueira de não me ver.
Eu, igualmente, finjo não te ver por tanto te querer sentir. Transformo-me em árvore e deixo cair duas folhas no chão ao teu passar.
Pisaste-as e seguiste. Não me viste.
Amanhã voltarei a ser árvore e a soltar duas folhas quando passares, farei, até me veres.
Apaixonamos-nos por quem se descreve num pseudônimo sem referência efectiva ou escondido na sensibilidade defendida na alteração clara da penumbra segura, ou apenas queremos justificar sermos as palavras que ativam as mágoas em medo?