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Cardilium

Cardilium

Abril novamente

Abril outra vez sem que haja novamente abril. Abril é sempre um sonho. Não se acrescenta abril a todos os dias do ano. Restam meia dúzia de resistentes, duas gerações hipotecadas, uns poemas como lema é uns saudosistas por sistema.

O amor, esse continua a ser a causa e a consequência. Sindicalista militante e libertário, sempre. 

 

Excerto de setembro atrasado

"..  Depende disse eu. Tudo é terra. Nem tudo é caminho. Já percorri terra que não foi caminho. Já dei a mão a pele que não me queimou.

Já fui aos teus olhos poeta porque o teu corpo ardia pelo meu, mas a poesia nunca a entendeste com a alma. O corpo e a alma, só são caminho, se a poesia e as mãos forem calor.

Depende disse eu novamente. Tudo depende. Uma coisa sei. Na madrugada quando quero ser manhã, há possibilidade, mas quando me sinto demasiado composto significa que não entenderás nunca a minha poesia, porque na verdade não sou um poeta, apenas me expresso em poemas que o teu corpo surdo quis saber, mas a tua alma cega nunca viu.

Mais cedo do que tarde, sempre soube que o teu corpo cederia à banalidade dos corpos. Eu seria sempre a prisão de que te quererias desencarcerar.

Duas línguas, dois paradoxos intangíveis. Não é certo nem errado, depende. Eu entendo. Sou um poço de entendimento.

Não atingiste como o não o fizeste com o Torga . Como te digo, não depende mais. 

O fascínio atraiçoou-te, tal qual a traição..."

 

Barba de três dias

Depois de tanta estrada, ali estava, azul, anil, descolorado, com o céu depositado em ti, mar refúgio de mim, distante da agonia que te deixei na cidade.

Vim sem os meus órgãos. Deixei o coração numa planície antes de aqui chegar. Fico melhor assim, à mercê da alfabetização do meu peito, barbado no rescaldo desta viagem. 

 

Flor rasa

Quando acordo e percebo que afinal os meus dedos já não recordam os teus, e a saudade afinal nunca existiu nas palavras que me disseste, ruidas e infundamentadas, apenas confirmo o que te adiantei de cada vez que discordaste do meu amor.

Hoje, as fotos que guardava ganharam o rosto que escondeste.

Passei a ver-te e, és afinal o que sempre vi, és a flor que deixaste morrer. 

 

 

Tecnologia do amor

Nao existe tecnologia para a amor. Não existe control + alt + delete, esc, enter, pf10, ou print screen.

O amor é visceral. Imprevisível. Duro. Suave. Doce. Amargo.

O amor é a inexplicável vontade de deixar de ser o passado e passar a ser um uma carta em branco, pronta a ser escrita por quem não sabe escrever.

É como ser lançado em alto mar e saber que a praia será a nossa noite acompanhada e bem vinda. 

É passarmos a ser a música que ouvimos, e as paisagens que nos arrebatam.

É trocar o juízo pela loucura e perceber que não faz mal nenhum essa permuta, porque o amor é isso mesmo, a permuta entre nós e alguém, e querer ser essa troca com o olhar vivo e esperançado.

 

Permanência

Vivo em permanente atalho e adaptação, de paixões escondidas, surpresas extremas, noites disruptivas e a cada dia, acordo, produzo, ensino e aprendo.

 

Depois volta o:

 

- atalho, a adaptação, as paixões escondidas; as surpresas extremas e as noites disruptivas.

 

Vivo em permanência.

Acordo. Produzo. Ensino e aprendo. 

Moralmente

Tenho espasmos há anos sem que seja necessário privação física que seja responsável por eles.

Tenho em mim crises criativas e angústia de não ser dedicado exclusivamente à arte.

Sinto uma vastidão incontrolável de conceitos por debitar, um delírio avassalador de amor, uma raiva de mim, uma solidão precisada, uma incomum forma de ser, uma inconstante presença metamorfose da ausência.

Sinto a minha história no presente sem que seja necessário tempo para que o seja. Sei ser a diferença.

Sou o pensamento milimétrico que não se escapa ao sentir.

Sou a incompreensão, o bestial e a besta, sou-o para mim mesmo sem necessidade confirmada de quem comigo se cruza. 

Sou a moral da imoralidade. 

num jardim escrevinhando

“… as minhas necessidades não as suprimo encavalitando-me em alguém, nunca assim o foi, nunca assim o será, mesmo que no carnaval se mascarem de cavaleiros andantes. Como não aprecio o natal, igualo a páscoa e o carnaval. Retiro o 25 abril, o 1º de maio e o 6 de dezembro, merdas minhas … “

 

obs: num jardim escrevinhando

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