Enraizada turbulência recorrente e primaveril, de tudo o que sei e sinto, de tanto que digo e minto, no disfarce e tentativa, de não sentir o que sinto.
Traição mais do que traição, é não saber a virtude, não entender as minhas mãos, o destino e o caminho, não saber a direção, dos meus passos e ilusão, no recomeço diário, das noites que não adormeço, não ser eu a tempestade, a angústia e a coragem onde faleço.
Estás de costas voltadas para o mundo? Perguntou-me.
Nem respondi. Apenas pensei.
Não há ninguém de costas voltadas para o mundo. Isso não existe, é impossível. Se o mundo é redondo, tem céu e chão, mar e luar, jamais estarei de costas para o que quer que seja. Estarei com certeza e, penso que seria essa a pergunta, "de peito aberto para o mundo?" e, assim sim, responderei:
- estou de costas voltadas para a ignorância, para a idiotice, a maledicência, a realidade aumentada, o ajuste de interesses e a renegação da essência,
- estarei de peito aberto sempre para o amor que me avassalar, tendo em consciência a especialidade que tem que possuir o ser que me tocar.
Não. Não estou de costas voltadas para o mundo. Estou de peito aberto por encher.
Gosto de pessoas desequilibradas, crentes e cientes delas próprias. Sou igual.
Já o contrário fere-me.
Pessoas desequilibradas apregoando moralismos caducos, sempre com as mãos cheias de pedras para arremessar e equilíbrios esvaziados de ego e (des) conhecimento.
A liberdade fanática da escolha do pensamento não construído e próprio por permuta com as correntes equilibradas do pensamento, são a confusão entre a liberdade de escolha e a escolha da liberdade .
O chamado pensamento encarneirado ou invés do pensamento divergente.
Um, oferece pertença quase "prostitucional".
O outro, solidão e a verdade pouco "numérica" da amizade.
Bendita seja, senhora do desequilíbrio; da ilusão e da revelação.
No nosso último abraço senti que seria o último. Não estou triste. Sei que não eras pessoa para viver sem ser por inteiro.
Foi cedo ? Sim foi.
Injusto? Sim foi.
Dá-me raiva ? Sim dá.
Estas questões praticamente filosóficas não reajustam o que preciso ajustar.
Guardo-te em uníssona sintonia junto ao mar, a fumar na minha varanda, na planície onde passeámos, nas viagens que fizemos, nas risadas que promovemos, nas vezes que nos zangámos (e ficavas tão gira zangada), nas vezes que nos unimos.
Partiste. Estavámos unidos. Juntos. Fiquei contigo. Levar-te-ei quando for, como me levaste a mim