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Cardilium

Cardilium

casa III

forrei as paredes e o tecto,

os degraus e o céu com os teus beijos,

violei a fechadura da porta de entrada,

podes entrar,

o teu cheiro está espalhado pela casa inteira,

por mim todo.

o chão do corredor mantem-se suado,

com os nossos corpos por ali espalhados,

como a mesa,

que continua despida e as cadeiras tombadas.

 

2075

Enraizada turbulência recorrente e primaveril, de tudo o que sei e sinto, de tanto que digo e minto, no disfarce e tentativa, de não sentir o que sinto.

Traição mais do que traição, é não saber a virtude, não entender as minhas mãos, o destino e o caminho, não saber a direção, dos meus passos e ilusão, no recomeço diário, das noites que não adormeço, não ser eu a tempestade, a angústia e a coragem onde faleço.

Maio 17

Maio mineiro, siderúrgico, camponês, 

Terra arada de luta,

Sol que queima de dor a esperança, 

Sempre promessa,

Sempre adiamento,

Sempre o medo de vida igual para os filhos,

Sempre o silêncio presente e a prisão como ameaça,

O burguês empanturrado,

A mordaça como palavra,

Vil cabrao ditador sem sangue que te corra nas veias,

Sem sentir que te esfaqueie o sono,

Sem remorso, culpa ou alma

Profeta domingueiro engravatado, 

Doador de esmolas roubadas ao meu salário,

Pedinte do ceu habitante do inferno.

 

Agora chegou Maio, 

O povo saiu à rua,

Bondosos, perdoámos a revolução. 

 

 

 

Mundo (s)

Estás de costas voltadas  para o mundo? Perguntou-me.

Nem respondi. Apenas pensei.

Não há ninguém de costas voltadas para o mundo. Isso não  existe, é impossível. Se o mundo é redondo, tem céu e chão, mar e luar, jamais estarei de costas para o que quer que seja. Estarei com certeza e, penso que seria essa a pergunta, "de peito aberto para o mundo?" e, assim sim, responderei:

- estou de costas voltadas para a ignorância, para a idiotice, a maledicência, a realidade aumentada, o ajuste de interesses e a renegação da essência,

- estarei de peito aberto sempre para o amor que me avassalar, tendo em consciência a especialidade que tem que possuir o ser que me tocar.

Não. Não estou de costas voltadas para o mundo. Estou de peito aberto por encher. 

Ode ao equilibriozinho

Gosto de pessoas desequilibradas, crentes e cientes delas próprias. Sou igual.

Já o contrário fere-me.

Pessoas desequilibradas apregoando moralismos caducos, sempre com as mãos cheias de pedras para arremessar e equilíbrios esvaziados de ego e (des) conhecimento.

A liberdade fanática da escolha do pensamento não construído e próprio por permuta com as correntes equilibradas do pensamento, são a confusão entre a liberdade de escolha e a escolha da liberdade .

O chamado pensamento encarneirado ou invés do pensamento divergente.

Um, oferece pertença quase "prostitucional".

O outro, solidão e a verdade pouco "numérica" da amizade. 

Bendita seja, senhora do desequilíbrio; da ilusão e da revelação.

 

Abril com cada vez menos Abril dentro

Mais um Abril com cada vez menos Abril dentro,

menos gente,

menos sonho,

menos poesia,

menos canção,

menos sentir,

menos emoção.

 

Mais um Abril com cada vez menos Abril dentro,

onde parecendo que não,

de desilusão adoeço.

 

Podes voltar Abril sem medo,

que Maio continua a florescer, 

nalguns poucos resistentes de nós.

Beijo Sandra

No nosso último abraço senti que seria o último. Não estou triste. Sei que não eras pessoa para viver sem ser por inteiro.

Foi cedo ? Sim foi.

Injusto?  Sim foi.

Dá-me raiva ? Sim dá. 

Estas questões praticamente filosóficas não reajustam o que preciso ajustar.

Guardo-te em uníssona sintonia junto ao mar, a fumar na minha varanda, na planície onde passeámos, nas viagens que fizemos, nas risadas que promovemos, nas vezes que nos zangámos (e ficavas tão gira zangada), nas vezes que nos unimos.

Partiste. Estavámos unidos. Juntos. Fiquei contigo. Levar-te-ei  quando for, como me levaste a mim

Beijo sandra 

 

Ruas

Disforme. Vulnerável. Condicional. Musical. Elegante. Raciocínio. Desejo. Saudade. Medo. Fuga. Cheiro. Flor. Mãe. Mar. Madrugada. Passado. Sedução. Tesão. Lua. Noite. Planície. Rio. Foz. Perfume. 

 Na rua onde cresci levar-te-ei a cada beco de mim... 

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