nas palavras que não sou, reconheço a metamorfose delas em mim, depois sou-as, não poderia ser doutra matéria que não esta:
mar negro, manhã clara, ausência frio, abraço amor, despedida ausente, dilacerado contente, felicidade amargura, gente de gente.
as palavras tem uma missão em mim:
desassossegarem-me num sentir autista e lúcido, num reencontro festivo, único e solitário, celebrando-se de mim para mim, incompreensível para muitos, Inalcançável aos olhos de quem não sabe voar.
Como posso sentir o que não semeaste nesta agonia escanzelada e vil que não é senão e somente um espírito alucinado sem razão ou pertença, uma delirante fantasia procriada neste avassalador sentir que nego.
Ontem, o céu acobardou-se em mim, achou-me um bom cúmplice para desabar em trovoada.
Adormeci no último relâmpago que escutei, morto no frio que se sepultou no meu peito.
Acordo agora neste despertar em que a luz do sorriso me empurra para norte, onde a falésia amante do mar me espera recatada.
Rebolam as palavras como as pernas de uma mulher esta tarde ao sair da esplanada, fingindo-se distraída com o meu olhar. Revoltam-se as palavras com a distraída mulher desatenta ao meu olhar, ao levantar-se para o mundo, esta tarde, na esplanada. Ao fundo, um poeta embelezou de olhar um prédio desumanizado, com atenção.