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Cardilium

Cardilium

Missão

a poesia tem em mim a missao de:


visitar.,
revisitar,
descobrir,
dilacerar,
assustar,
amar,
ensurdecer,
acalmar,
encher,
esvaziar,
ajustar,
sonhar,
esquiziofrenar,
bipolarizar,
ficcionar,
funcionar,
observar,
matar,
ressuscitar,

nas palavras que não sou,
reconheço a metamorfose delas em mim, depois sou-as,
não poderia ser doutra matéria que não esta:

mar negro,
manhã clara,
ausência frio,
abraço amor,
despedida ausente,
dilacerado contente,
felicidade amargura,
gente de gente.

as palavras tem uma missão em mim:

desassossegarem-me num sentir autista e lúcido,
num reencontro festivo,
único e solitário,
celebrando-se de mim para mim, incompreensível para muitos,
Inalcançável aos olhos de quem não sabe voar.

missão...

Mais mar do que medo

"... Não. 

 

Como posso sentir o que não semeaste nesta agonia escanzelada e vil que não é senão e somente um espírito alucinado sem razão ou pertença, uma delirante fantasia procriada neste avassalador sentir que nego. 

 

Ontem, o céu acobardou-se em mim, achou-me um bom cúmplice para desabar em trovoada.

 

Adormeci no último relâmpago que escutei, morto no frio que se sepultou no meu peito. 

 

Acordo agora neste despertar em que a luz do sorriso me empurra para norte, onde a falésia amante do mar me espera recatada. 

 

Há mais mar do que medo. 

Há menos medo do que mar ..."

relógio de arvore

Gostava que as árvores dessem horas. Como o relógio da torre que me acorda da ressaca matinal.

 

Preferia ser acordado pelas árvores. Preferia ser rasgado na pele pelos seus ramos e beijado pelas folhas a caírem delicadamente.

 

Gostava de destrambelhado com a manhã, me cruzar nos olhos do cheiro a inverno, adocicado pela fogueira que ainda massacra a lenha por arder.

 

Se as árvores lamentassem as horas, plantava uma ao fundo do meu corredor, um relógio de árvore.

Timbre

sei de palavras iguais que significam coisas diferentes,

conheço palavras iguais que não significam a mesma dor ou amor,

a mesma palavra e um querer tão diferente,

um querer vazio,

um querer-te tão pleno,

um amor terno onde o corpo se

despreocupa com o que atormenta o coração,

sei de palavras iguais com timbre e compasso desafinado. 

 

 

Rebolam

Rebolam as palavras como as pernas de uma mulher esta tarde ao sair da esplanada, fingindo-se distraída com o meu olhar. Revoltam-se as palavras com a distraída mulher desatenta ao meu olhar, ao levantar-se para o mundo, esta tarde, na esplanada. Ao fundo, um poeta embelezou de olhar um prédio desumanizado, com atenção.

Tamanho

O meu amor tem a fúria do tamanho do mar,
a altura do desconhecido,
a largura de um abraço.

O meu amor não tem medidas conformes no disforme jeito de me encantar. 

30 anos que vão de Zeca aqui

"... redondos vocábulos, somas agrestes, amigos convertidos depois da liberdade sair à rua de cravo na mão.

Resistente ao ideal da fraternidade de ser um amigo em cada esquina.

Pinto hoje o quadro que o fascismo não deixou pintar.

Em todos os acordes dedilhados nas palavras feitas de sonho, junto o poema que será vivo eternamente.

 

Sem vampiros

com cem índios da meia praia

continuarei o sonho de abril

recordado no sangue misturado de Zeca

que me corre nas veias..."

Despertar

No despertar dos meus olhos não existe apenas paisagem, há um dia inacabado, uma vontade começada, um sôfrego e triturado beijo por dar.

No despertar dos meus olhos existe mais do que ver, existe toda a cegueira do mundo em bocados de sentir. 

 

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