As palavras são devolutas, cada um habita-as como mais lhe convir. Podem elegantemente vestir-se de verdade ou apenas dar-se-lhe uma roupagem leve e desprovida de conteúdo, por isso são devolutas com escritos de arrendamento nas janelas.
Tu, habitas despida as minhas e eu cuido desse amor despindo-me igualmente.
" ... Sabes, o mundo cega-me em tantos dias dos que vivo. Raros são os dias de luz. De permanência. De vínculo. De corporativismo e ensaio sobre a vida.
As imagens têm a vida que lhe dou. A vida é o futuro. Tudo o que foi já está morto. Não existe passado por ressuscitar. Existe futuro. O passado nada deixa por viver. Está vivido. Arrumado. Deslembrado. Exorcizado.
Hoje, saber que o sol me queima. Amanhã, saber que a chuva me há-de queimar também. Saber que os cheiros e a terra são sempre novos e nada é igual ou se repete, sepulta o meu passado, abraça-me ao futuro.
Sabes, sozinho entre gente não é igual a sozinho entre a gente.
Vou substituir as pedras pelos sonhos e fazer dos sonhos o futuro, tal qual Pessoa edificou o seu castelo com as pedras do seu caminho.
Porque escreveste Pessoa com maiúscula e deus com minúscula?
Frontal e directa é uma coisa que não existe, isso é agressividade. Existe outra coisa que se chama assertividade para gente de bem. São coisas diferentes.
Adoro quando oiço ou leio "eu nunca fiz isto ou aquilo" o que ouço é "vim daí ou pior mas tenho vergonha de ir ao mais fundo de mim" depois a confusão comum acerca de auto-estima, amor próprio, frontalidade etc etc etc, e as comadres e os comprades a tomar partido, e os filhos envergonhados compõem o ramalhete.
Os filhos deviam poder escolher os pais.
Inspirado num post do facebook essa rede social passível de stude casy que envergonha mais do que devia a humanidade.
Eu nunca fiz isso é muito bom .... Já as escrituras ditavam " quem nunca ..................atire a primeira pedra" eu ateu militante conheço isso.
Pobres os desavindos com os reinos do céu :-)
Algumas vezes a humanidade envergonha-me gostava de educar pessoas, pô-las a ler para começar.
Há dias que me dói a alma. Há dias em que necessito urgentemente de acreditar que estou no meu juízo perfeito.
Sei da tua coragem, já a provei, é amarga e doce, faz ferida e cura.
Sei que a tua coragem oferta a mim próprio a minha e, assim, encorajados um com o outro, um pelo outro, vamos a lugares tão fundo de onde só é possível regressar juntos e abraçados.
A tua coragem é um mundo, é um mar encantado de verdade, é para mim a descoberta vivida de que amar é um acto sublime ao alcance dos corajosos. É a descoberta, é a crença, é a antítese do medo.
Amar é a coragem livre de ser, a caminho de se ser livre.
Nesta quase saga sem feitiço ou feitiçaria praticada, neste meu mundo reconstruído e confiado, não me importo lá grande coisa de ser feliz, nesta quase demência lúcida de vida.
Não me importo lá grande coisa de arriscar a ser feliz, neste pranto de mar, e bonança das marés. Nesta descoberta de caminho que sangra e sara de cada vez que escolho ser. Nesta percurso “revirgindado” e limpo. Neste peito aberto de madrugada esperando o dia. Neste intrínseco compromisso com a felicidade, neste encontro antes da procura, nesta semeada colheita de almas.
Não me importo lá grande coisa de ser feliz.
Esta “desimportância” é um trilho para a decisão de aceitar ser feliz.
Chove torrencialmente dentro de mim. Brados sufocam-me a visão e desentendo-me com o desconhecido. Desabituado a desconhecer o trilho, só me resta oferecer a minha mão e deixar-me guiar. Adormeço sossegado nesta turbulência que não o é, quando em presença. Todos os dias menos um, foram iguais na minha existência. Do menos um ao dia decisivo passaram todos os dias, e todos os dias juntos foram iguais. Momentos iguais progrediram em mim em regressão, uns amorfos, outros desencantados, uns feitos de um falso domínio, outros de conhecimento, mas todos eles albergaram a mentira do entendimento e a compreensão da anti entrega.
As ruínas apenas deixaram de o ser, depois da obra nova estar edificada. A surpresa da escolha, do escolhimento, ou apenas da disponibilidade do sonho, tornou real a conversão interior numa alteração partilhada.
Quando o céu se debruça e nos toca, as nuvens irradiam uma fragrância de flor. Quando a terra se rebola e nos atropela não resiste em nós mais o medo, e a confiança tem como resposta a expressão da natureza na nossa pele. A imobilidade do sentir não se explica por palavras elaboradas em conceitos. Entende-se pela luz incolor, cega e brilhante. Quando assim é, não existe querer, existem quereres. Não existe vontade, existem vontades. Não existem poetas, existe em nós poesia e, as canções bailam-nos na cabeça a cada verso vivido. O amor é feito olhos nos olhos, sem pressa. Os orgasmos são confirmados pelo abraço seguinte e o acordar da manhã subsequente. O sexo é mais sexual do que alguma vez o foi e não tem nome, ou cognome, não carece de dúvidas nem de certezas, é somente a fusão das almas, sem regresso ou avanço, é somente o sorriso e o descanso. É uma decisão interior esta coisa de se entregar o amor.
Abundante, solto o rio e escuto o bando que ruma a sul. Copioso, exponho em mim este quadro arrecadado durante anos e planto a árvore da minha vida, num pedaço de terra aguardado, quente e fértil.
Já não é dor, é o reconhecimento biológico e patrimonial, são as células e a memória, a recordação e o sonho.
Já não é dor nem saudade, é o desafio, é o impulso da felicidade feita dela própria, de tudo o que é orgânico e corporativo com sentido e finalidade comum.
Já não é dor, e a metamorfose dos sentires no sentir da emoção, é ser e querer ficar.