Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cardilium

Cardilium

palavras despidas

As palavras são devolutas, cada um habita-as como mais lhe convir. Podem elegantemente vestir-se de verdade ou apenas dar-se-lhe uma roupagem leve e desprovida de conteúdo, por isso são devolutas com escritos de arrendamento nas janelas.

 

Tu, habitas despida as minhas e eu cuido desse amor despindo-me igualmente.

deus e Pessoa

" ... Sabes, o mundo cega-me em tantos dias dos que vivo. Raros são os dias de luz. De permanência. De vínculo. De corporativismo e ensaio sobre a vida.

 

As imagens têm a vida que lhe dou. A vida é o futuro. Tudo o que foi já está morto. Não existe passado por ressuscitar. Existe futuro. O passado nada deixa por viver. Está vivido. Arrumado. Deslembrado. Exorcizado.

 

Hoje, saber que o sol me queima. Amanhã, saber que a chuva me há-de queimar também. Saber que os cheiros e a terra são sempre novos e nada é igual ou se repete, sepulta o meu passado, abraça-me ao futuro.

 

Sabes, sozinho entre gente não é igual a sozinho entre a gente.

 

Vou substituir as pedras pelos sonhos e fazer dos sonhos o futuro, tal qual Pessoa edificou o seu castelo com as pedras do seu caminho.

 

Porque escreveste Pessoa com maiúscula e deus com minúscula?

 

Escrevi assim por ser passado e futuro.

Entendes? ... "

Juízo perfeito

Frontal e directa é uma coisa que não existe, isso é agressividade. Existe outra coisa que se chama assertividade para gente de bem. São coisas diferentes.

 

Adoro quando oiço ou leio "eu nunca fiz isto ou aquilo" o que ouço é "vim daí ou pior mas tenho vergonha de ir ao mais fundo de mim" depois a confusão comum acerca de auto-estima, amor próprio, frontalidade etc etc etc, e as comadres e os comprades a tomar partido, e os filhos envergonhados compõem o ramalhete.

 

Os filhos deviam poder escolher os pais.

 

Inspirado num post do facebook essa rede social passível de stude casy que envergonha mais do que devia a humanidade.

 

Eu nunca fiz isso é muito bom .... Já as escrituras ditavam " quem nunca ..................atire a primeira pedra" eu ateu militante conheço isso.

Pobres os desavindos com os reinos do céu :-)

 

Algumas vezes a humanidade envergonha-me gostava de educar pessoas, pô-las a ler para começar.

 

Há dias que me dói a alma. Há dias em que necessito urgentemente de acreditar que estou no meu juízo perfeito.

Coragem

Sei da tua coragem, já a provei, é amarga e doce, faz ferida e cura.

 

Sei que a tua coragem oferta a mim próprio a minha e, assim, encorajados um com o outro, um pelo outro, vamos a lugares tão fundo de onde só é possível regressar juntos e abraçados.

 

A tua coragem é um mundo, é um mar encantado de verdade, é para mim a descoberta vivida de que amar é um acto sublime ao alcance dos corajosos. É a descoberta, é a crença, é a antítese do medo.

 

Amar é a coragem livre de ser, a caminho de se ser livre.

pseudo euforia da felicidade

O vazio não se vê, embora o seu rumor se possa ouvir e o peito se possa sentir.

O vazio cheio de vazio pode enganar, precisamente por ser um vazio cheio de vazio.

A afirmativa assunção do vazio é o enchimento da alma,é silencioso, duro, recatado e libertador.

 

A imagem dos vazios apregoa-se na pseudo euforia da felicidade.  

Não me importo lá grande coisa de ser feliz

Não me importo lá grande coisa de ser feliz.

 

Nesta quase saga sem feitiço ou feitiçaria praticada, neste meu mundo reconstruído e confiado, não me importo lá grande coisa de ser feliz, nesta quase demência lúcida de vida.

 

Não me importo lá grande coisa de arriscar a ser feliz, neste pranto de mar, e bonança das marés. Nesta descoberta de caminho que sangra e sara de cada vez que escolho ser. Nesta percurso “revirgindado” e limpo. Neste peito aberto de madrugada esperando o dia. Neste intrínseco compromisso com a felicidade, neste encontro antes da procura, nesta semeada colheita de almas.

 

Não me importo lá grande coisa de ser feliz.

 

Esta “desimportância” é um trilho para a decisão de aceitar ser feliz.

“ - Eu aceito ser feliz - "

rio da madrugada

Ser a madrugada o teu olhar. O mar o teu destino. O vento o teu vestido.

 

Em todas as ruas espero encontrar-te feita cidade. No rio, vejo espelhados os teus olhos transparentes.

 

Adormeço no recomeço do sonho em cada rasgo de saudade por sonhar.

Chove torrencialmente dentro de mim em Agosto

Chove torrencialmente dentro de mim. Brados sufocam-me a visão e desentendo-me com o desconhecido. Desabituado a desconhecer o trilho, só me resta oferecer a minha mão e deixar-me guiar. Adormeço sossegado nesta turbulência que não o é, quando em presença. Todos os dias menos um, foram iguais na minha existência. Do menos um ao dia decisivo passaram todos os dias, e todos os dias juntos foram iguais. Momentos iguais progrediram em mim em regressão, uns amorfos, outros desencantados, uns feitos de um falso domínio, outros de conhecimento, mas todos eles albergaram a mentira do entendimento e a compreensão da anti entrega.

 

As ruínas apenas deixaram de o ser, depois da obra nova estar edificada. A surpresa da escolha, do escolhimento, ou apenas da disponibilidade do sonho, tornou real a conversão interior numa alteração partilhada.

 

Quando o céu se debruça e nos toca, as nuvens irradiam uma fragrância de flor. Quando a terra se rebola e nos atropela não resiste em nós mais o medo, e a confiança tem como resposta a expressão da natureza na nossa pele. A imobilidade do sentir não se explica por palavras elaboradas em conceitos. Entende-se pela luz incolor, cega e brilhante. Quando assim é, não existe querer, existem quereres. Não existe vontade, existem vontades. Não existem poetas, existe em nós poesia e, as canções bailam-nos na cabeça a cada verso vivido. O amor é feito olhos nos olhos, sem pressa. Os orgasmos são confirmados pelo abraço seguinte e o acordar da manhã subsequente. O sexo é mais sexual do que alguma vez o foi e não tem  nome, ou cognome, não carece de dúvidas nem de certezas, é somente a fusão das almas, sem regresso ou avanço, é somente o sorriso e o descanso. É uma decisão interior esta coisa de se entregar o amor.

 

Abundante, solto o rio e escuto o bando que ruma a sul. Copioso, exponho em mim este quadro arrecadado durante anos e planto a árvore da minha vida, num pedaço de terra aguardado, quente e fértil.

 

Chove torrencialmente dentro de mim

Já não é dor

Já não é dor, é o reconhecimento biológico e patrimonial, são as células e a memória, a recordação e o sonho.

 

Já não é dor nem saudade, é o desafio, é o impulso da felicidade feita dela própria, de tudo o que é orgânico e corporativo com sentido e finalidade comum.

 

Já não é dor, e a metamorfose dos sentires no sentir da emoção, é ser e querer ficar.

Pág. 1/6