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Cardilium

Cardilium

desgosto

Ainda não sei se gosto de escrever, se gosto de me descobrir, se gosto de descobrir os outros e/ou mundo, se gosto de depositar aqui o que pressinto na segurança do que sinto, em troca vantajosa com o choro num ombro desconfiado.

 

Na verdade confio na minha solidão. É segura. Já não é uma coisa má. É uma distinção esta forma de entendimento comigo. Tempos houve, em que ombros errados ouviram as minhas lágrimas errantes.

 

Com as palavras gosto e desgosto e tenho o desgosto de não gostar.

 

Ainda não sei se gosto de escrever, ou esconder-me para me abraçar.

Vaidades

A vaidade com que me olhas não é a mesma vaidade com que te vês,
Nenhuma é verdade, eu sei.
A vaidade com que te olhas é apenas um desejo,
É a vontade de quereres sentir-te bem na tua pele,
A vaidade com que me olhas,
É a ansiedade de querer que eu olhe pelos teus olhos, a vaidade com que te olhas.

morte mais certa do que a vida

Se me procuras,

Estou na noite adormecido à espera que a madrugada acorde antes de mim,

Se levante mansamente e me beije antes de partir,

Que se entregue na companhia que nunca arrisquei,

Da morte mais certa do que a vida.

 

Se me procuras,

Estou na outra margem de mim à margem,

Escuto o vento solto e destemido,

Estou, tal como o vento, livre e arrojado,

Sem medo do mais certo que reconheço,

 

                                                           Pelo desconhecimento certo que a vida tem da morte.

Escondo-me

Escondo-me numa folha de papel que não é de papel,
Já não se escreve em pergaminho,
Oculto-me em palavras furtivas e recônditas,
Levanto de mim a poeira já assente,
Exponho-me ao sol que me queima.

 

Escondo-me nos finais de tarde entre persianas semiabertas ao mundo,
Semicerradas de mim,
Pálpebras ausentes,
Enlouqueço o meu corpo de:
- espasmos,vontade,alegorias,mitos e ecos.

 

Nas horas longínquas e serenas adormecidas vagueio inerte,
Sentado viajo pelo mundo inteiro,
Entre os meus livros e autores de fim de tarde,
Viajo no desassossego proeminente da minha alma,
Na calmaria do espírito pousado no mar.

Qual a relação da loucura, da genialidade, do louco e do génio?

Qual a relação da loucura, da genialidade, do louco e do génio?

 

Nao têm que pertencer obrigatoriamente ao encaixe obvio da questão, porque a loucura não é pré-determinada e a genialidade nao é uma construção.

 

Ambos são momentos deixados de uma matéria que nos faz pensar, que nos dá o que não temos, nem sabemos existir. Por isto, os loucos e os genios, não têm que ser o que são, são o que anteciparam ser, antes de todos nós.

 

A genialidade, a loucura, os genios e os loucos são a antecipação ao conformismo da felicidade, são o sangue da poesia, a invenção de sentir as palavras.

caos

Caos. A imperiosa e necessária forma de me redimir da luz que se transformou em penumbra.

 

Coloco a face entre as palmas das mãos e deixo-me sentir. Dou a mim próprio a oportunidade do calor das minhas mãos embrulharem-me o rosto e, de me sentir como um rochedo que salva a praia da tempestade, salvando-se a ele próprio.

 

Caos. A agradável forma de essencial reconstrução.

se acabassem com a saudade

se proibissem a saudade acabavam com as minhas madrugadas de prisão e liberdade,
com as minhas lágrimas e esperança,

 

a saudade faz me falta,
é o encanto do meu passado,
o reencontro com a felicidade.

 

se acabassem com a saudade acabavam com o meu nome próprio, apelido,
e a esperança nas lágrimas que verto.

O “camaleonismo”

O “camaleonismo” renega a própria essência, é uma “substância” acessória, não essencial. A camaleónica vontade de ser, estar ou gostar, de acordo com os gostos não vigentes do bem-estar que nos oferece o prazer do que gostamos, é a subtração do que se é, sem adicionar o que quer que seja em direcção ao parecer bem.

 

O conhecimento são plataformas de partilha que se multiplicam de cada vez que se apresenta, um autor, um músico, um pintor, uma cidade, uma cor, um cheiro, uma floresta, uma flor, um rio, uma madrugada a alguém. Multiplica-se por cada pessoa a que nos apresentamos, pode ser, vezes um, vezes cem, vezes mil, o que for, recebemos pela mesma ordem de grandeza.

 

O “camaleonismo” é uma falácia intelectual e emocional. É procrastinação. Desconfio sempre das mudanças bruscas sem sustentação. Desconfio, mas vejo-o por todo o lado.

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