Espero sempre que seja a tua voz como espero sempre que seja o mar, Espero com as mãos cerradas nas grades invisíveis que desenhei, Espero sempre e não me importo que nunca sejas, porque nesta espera, tenho-te.
Espero sempre não acordar e acordo, Interrompo o sonho para ir trabalhar, Injusta esta vontade na minha vida.
Continuo de mãos cerradas nas grades invisíveis construídas no sonho, No mar, e na tua voz que não fala, Assim sendo, escuto a tua voz que cala e calo a minha voz na tua.
Cerro mais as mãos que se soldam a esta espera, Espero mesmo sentindo que a espera é demorada, Enquanto espero demoro-me na saudade, e esta saudade é presença real desta espera.
Esta saudade, esta espera, tem a tua voz, Tem os fios do teu cabelo, o teu sorriso, o teu jeito, a tua companhia, o teu beijo, a tua convicção, o teu cheiro, Esta saudade feita de espera tem-te, por isso continuo de mãos cerradas nesta invisível grade do sonho.
Outro Abril, Parece-me menos Abril que o ultimo, Menos ainda que o penúltimo, O sonho já não explode no Maio maduro, A liberdade já não passa por aqui, Abril demissionário e divido, Sem sabor e conquista, Promessa que já não é promessa, Povo que já não sai à rua num dia assim.
Resta-me sentir que tenho em mim todos os sonhos que Abril me deu, Por teimosia, resisto à desistência de me render ao futuro que quero livre e igual.
Os cravos já não abundam no Abril de outrora por aí, Continuo com Abril na alma, Até existir primavera em Abril.
"... como se um rio devorasse tudo o que sou em cada palmo de terra onde estou, edifico e preservo o que sobra do que sinto, No céu existe a sul escarpadas encostas da minha saudade, onde a angustia se abraça na paz, e o mundo existe como um sonho que teimo em crer. Recordo a pequenez simplicidade que torna tudo o que necessito suficiente. Já faz tempo que o sol que doura o mar me espera e as nuvens se embriagam carregadas de esperança..."
Invento e desculpo o amor, Perdoo, Gero, Digo ser rebelião, Descontrolo, Paixão e até doença, Digo tanto e tão pouco, Do escasso saber que sei, O muito que sinto num pranto. Sem amor nada seria tanto, Do tanto que eu sou, Caio e levanto.
Eterno cheiro que me devora, acorda e não me deixa adormecer, oiço os teus gemidos num constante ecoar das tuas mãos, na penumbra dos meus sonhos estás em mim enlouquecida, eu sou apenas eu, tu, és tu mais eu, quase que me torno devoto, nesta remota esperança de te revisitar, sem sequer ter que te dizer o meu nome.
fundo-me nesta louca vontade, e nesta demente eleição me entendo.