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Cardilium

Cardilium

dor antiga

Já vi a solidão matar,

Já vi a solidão libertar,

Não é a solidão que dá ou retira,

É a casa da solidão,

Que faz da alma …  dor antiga.  

Mãos, pés e olhos

As minhas mãos escrevem as palavras que o meu coração não diz.

Os meus pés percorrem os caminhos que o meu peito prende.

Os meus olhos cegam e veem os que as minhas mãos e pés não deixam morrer em mim.

idealismo

Ter coisas para dizer não é sinónimo de saber fazê-lo bem. Ter coisas para dizer de uma forma estruturada, consistente e crítica é um caminho, e um caminho, tem tudo o que um caminho contém, esforço, tempo, lucidez, rota e alma de viajante. Sou a história de que faço parte, mas nem sempre sou a história a que pertenço.

 

Houve alturas em que fiz parte. Outras em que permaneci. Outras em que me idealizei num eu que evolui, em cada acordar. Um eu renascido. Um eu falecido. Um eu evolutivo e desconhecido de mim mesmo.

 

Há sentimentos que me abandonam com a idade. Melhor, que menos vezes me transpõem, ou ainda, cada vez menos me fazem mossa. O abalo da infância desvaneceu-se na adolescência, aí tudo era vulcanizado e fervente. Depois, a verdade construi-a de idealismo. Depois, o idealismo construiu a minha verdade. A seguir, o ajustamento colocou a verdade num sítio a que não pertencia. Mais tarde, o entendimento percebeu o desentendimento.

 

Agora e em cada dia que passa, percebo que o meu mundo é muito pouco habitado, e cada vez mais tem uma linguagem que não tem idioma, e um dialecto que não tem palavras. Agora, o meu sentir, tem os mesmos sentires que sempre teve, como adjectivos substituídos, alegorias alteradas e uma desfigurada crença que não tem deus a quem entregar.

 

Agora, de toda as vezes que fui pássaro e que não aceitava voar, adequa-se há minha essência de viajante.

 

Agora, todos os cheiros dos aromas das fragâncias abraçam-se a mim, num compreendido sentir.

outra vez infância

O tempo avança rude e impiedoso, destrói barreiras, preconceitos, e não se esquece que os novos serão velhos, e os velhos serão infância novamente.

 

Neste percurso só se esquece disto os jovens, mas o tempo implacável recordar-nos-á.

fora de horas

os dias superam,

juntam e somam as árvores,

na beira da estrada a sombra abate-se,

crescem os dias,

a noite acontece,

já fora de horas a maré esvai-se,

como uma mãe que abraça e reprende o céu salpicado de nuvens e pássaros.

 

as vinhas nos socalcos rasgados pela pedras e pelo rio,

o frio de janeiro aguarda resistente um maio resiliente,

esperançado de um abril,

quase desistente.

O repouso da saudade

Repouso a saudade,

Descanso e cuido-a como se da velhice se tratasse,

Acarinhando uma sangrenta vontade.

 

Cuido repousando-a na margem dilacerada,

De não poder abraçar o peito que me faz brando,

E não gritar ao céu que me acalma.

 

Cuido-a cuidando do refúgio do reencontro,

Onde me escondo e encontro.

Eu, um livro, a viola e o cheiro a sossego das águas do lago do silêncio

Conservo o amor que amizade não exclui

 

Quando já não me reconheço pergunto-te se me viste,

E se tu também não souberes de mim,

Sei que ajudarás a encontrar-me.

 

Passam-me os amores,

Conservo o amor no amor que amizade não exclui.

 

Conservo e aporto todos os momentos

Em que não soube de mim … mas tu sabias. Amigo.

Um homem só é um homem acompanhado dele próprio

"... Estes frios raios de sol trespassam-me mais do que o corpo, mais do que a alma. São como as palavras ensanguentadas que te deixei, são como as lágrimas dolosas que me devolveste e a raiva do entendimento da madrugada passada. Acabou. Agora sabes que a voz que te sai sem dares conta, e o olhar que presenteias sem abraço por entregar, não são vida que se viva.

 

Agora tudo está mais calmo. O mundo afigura-se sossegado e esquecido de mim.

Há quanto tempo não respirava?

Há quanto tempo não era só mais um homem no mundo?

Há quanto tempo não era só mais um homem do mundo?

Um homem filho de uma mãe. Um homem filho de um homem. Um homem pai de uma filha. Um homem só.

 

Um homem só é um homem acompanhado dele próprio.

 

Finalmente acompanhado de mim próprio. Sem mundo que se me recomende. Sem recomendação para o mundo. Um homem só é um homem se: isento. Um homem dilacerado pela voz do fado. Um homem rasgado pelo rugido interior da voz de um poeta na boca de uma mulher, um homem disfarçado pelo sorriso de uma lágrima escondida. Um homem regressado na paz da amizade.

 

Mais de vinte anos de um abraço eterno. Fez esta madrugada, concluí …”

Geralmente

Geralmente no convencimento da inteligência escasseia a humildade.

Geralmente no reconhecimento da aprendizagem abunda a inteligência.

Intuição

Um ponto de partida é o esboço de uma ideia, alterada pelo pensamento em cada decisão finalizada pelo coração.

 

Um ideal é uma obra concluída depois de todos os pontos de vista alterados pelo pensamento, terem sido adoptados pelo coração.

 

A intuição gere todas as dúvidas quando as respostas não são suficientes, a intuição é toda a aprendizagem que o coração já fez, é a anti negação da adaptação do pensamento líquido.

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