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Cardilium

Cardilium

Entre nós existe

Entre a gente existe mais do que nós.
Entre nós existe gente que sente,
Existe, sinto,
Existe, sentes,
Existe, sentimos.

Gostaria de trocar de sentires,
Sentir o teu sentir por um dia,
Que sentisses o meu sentir por uma hora,
Que sentíssemos juntos,
O que sentimos separado.

Aí, talvez adormecesses ciente de que o meu sentir não te é oferecido mas que te pertence,
Aí sim, saberias o que sinto,
Aí sim, aceitaria o teu sentir não como um “amo-te” meu, mas como o teu amor em mim,
Aí sim, convergiríamos na unificação da proximidade das almas.

O amor não se oferece. O amor divide-se. O amor não é do outro.

O amor é de quem sente a alma dilacerada na outra,
O amor é duro e não nos pertence,
O amor não se dá, somente abre janelas para livremente se misturar perfumado na boca dos amantes,
O amor é a paz, da tempestade do sentir.

Vinho, abrigo e o meu abraço por doar

Delírio este continuado em absorto pensamento,
Quero descontaminar o que sinto com o que reajo,
O que vislumbro através deste céu carregado de escuras nuvens em dilúvio.

Neste beco feito de arcada e arquétipo da minha alma vigente,
Observo pessoas de rosto húmido atravessando-me no imaginário das suas vidas,
Construo aqui, invisível, o romance da vida dos outros,
Saído dos meus dedos recurvados,
E dos lírios murchados do meu jardim.

A esperança reconstruida e despedaçada a cada par de minutos,
Alegra-me e entristece-me,
O aroma quente desprendido do café relembra-me a criança feliz da minha infância.

O céu está agora mais rancoroso e tem luz de relâmpago em cada esquina,
Quase sinto medo, sentir quase medo doí-me mais, do que o medo feito do próprio medo,
O medo constituído pelo próprio medo é mais leal, do que o medo disfarçado de medo.

O meu romance continua a somar palavras e sentires,
O meu romance é construído pela minha vida em forma observada da vida dos outros,
É imaginado e real, triste e feliz, é um jardim e mar, dilúvio e boa esperança.

Tem aromas e aparências por moldar,
Vinho e abrigo e o meu abraço por doar,
O meu romance estará permanentemente inacabado e albergado de luar.

alaranjada tarde em fim de mar

Sou de ser, de mar, de funestas e crassas hipérboles descompassadas,
Tal como no meu peito urgem famigeradas e famintas necessidades de felicidade,
Sou feliz por ser e não me sei feliz por ter.

As madrugadas em que ousei, patrimoniaram-me o sonho,
Em que albergo a vida,
Em que me albergo a mim também.

Sei-me me feliz por não saber o porquê de me saber contente,
Desta ausência de perguntas às respostas que emudeço e cego,
E faço da surdez a vã gloria de me encontrar perdido,
Neste autismo feliz e duradouro.

Renego o meu corpo por prazer,
Dou-me por me sentir semelhante,
Desta natureza humana sexuada.

A felicidade, o sexo e o amor é o triângulo onde me equilíbrio,
Numa plena e alaranjada tarde em fim de mar,
Arco-íris rasgado na alma que promovo e abasteço.

Sei-me feliz por ser, por estar, por sentir,
Sei-me feliz por me doar,
Sei-me feliz por não me saber vigente.

Sou feliz … no presente do indicativo do verbo sentir.

um homem envelhece a cada mil palavras sem valor

Que este sensato acordar não tenha fim, mesmo que acordado de tripas enroladas,
um homem renasce em cada dia que acerta na vida,
em cada dia que é acertado também,
um homem envelhece a cada mil palavras sem valor vociferadas,
um homem amadurece a cada mil palavras relativizadas sem valor e conteúdo,
um homem floresce no entendimento do acerto que sente,
um homem é água, é terra, é fogo, é ar,
um homem é homem também,
um homem é um desconhecido aos olhos do desconhecimento,
um homem é um pássaro,

………quanto mais se eleva menos aparenta,
..........aos olhos daqueles que não sabem voar.

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