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Cardilium

Cardilium

Palavras por ver o sol um dia XIX

Quando os raios de sol me cegam caminho por intuição. Confio no passo seguinte de um caminho que tem que ser feito tantas vezes sem rede nem claridade.

 

Cada desafio é uma oportunidade, ultrapassável. Não há forma de saber o que está para lá da esquina seguinte se não a dobrar. Tal qual caravela quinhentista de velas desfraldadas, dobrando o Bojador em boa esperança. Desafiar-me é provocar-me. É saber que irei sempre mais além. É ser medo e força. Pensamento e decisão. Acção mais que sonhos delirantes e coloridos de uma natureza morta de palavras, que somente as palavras nos dão.

 

Que bem me sabem as noites estafadas da concessão de um sentimento de dever desafiado e cumprido. Que bem me sabe a brisa que corre na estação sintonizada de uma musica que me trás de regresso. Que bem me sabe aprender. Que bem sabe descobrir-me. Não tenho. Não existem desculpas para não ser eu.

 

Não consigo lamuriar-me e ser imóvel. Se o fizer a lamuria perde o sentido, e, diminui-me. Sou um homem de mangas arregaçadas. Um sobrevivente emocional. Sou o reflexo límpido de um lago cristalino, narcísico e transparente. Sou apêndice, extremo e metade. Sou variância com significado. Sou psicossocial, psicométrico e sociométrico.

 

Sou uma vontade extrema de ser, sem rede ou claridade.

A intimidade que encontro no olhar que procuro

Trouxe comigo o silêncio,
Adivinho o mar azul na noite escura,
Sei que o sol nascerá novamente,
Quando a nuvem escura se dissipar no céu,
O silêncio por si só é:

..........A intimidade que encontro, no olhar que procuro.

 

Trouxe comigo os silêncios do silêncio,
A companhia de mim próprio,
A alegria de estar só,
No pacto feito ao entardecer,
Quando me visitei,

..........No caminho abreviado de tempestade.

 

Celebro o silêncio que me trouxe,
Da rua que deixei no bairro que partiu,
Celebro o vinho que não brindo,
No abraço forte e amigo,
Do silêncio que me acalma,

...........Na madrugada que me afaga.

algo de mais

Procuro algo mais,
Estou tão perto por vezes,
E quase sempre me sinto tão distante.

 

Procuro algo mais,
No silêncio, em mim,
No vento, no tempo,
Na solidão, na admiração,
No mar, no estar,
No rio, na foz.

 

Estou tão perto por vezes,
E quase sempre me sinto tão distante.

 

Não procuro nas pessoas,
O mais que eu procuro,
Aí já procurei,
Não encontrei,
Essa procura adiei.

 

Procuro algo mais que já senti,
Procuro algo mais de que não desisti,
Procuro algo mais de que já tive tão perto,

.................E que sinto em mim, quase sempre, tão distante.

olhos de fragrância

Os teus olhos,
São feitos do teu bálsamo.

 

O teu perfume não possui o teu cheiro,
O teu odor não carece de fragrância.

 

Cheiras ao teu coração,
É esse o teu aroma, cheiro a coração.

sol porfiado

Estende-se na praia a areia branca. O mar a perder de vista. Horizonte azul. Perco-me.

 

Três linhas se me oferecem. Poesia, distância e natureza.

 

Solta-se-me primeiro a tristeza. Na segunda a demasia. A esperança nasce-me depois. Terra minha fecundada. Sal de mim transpirado.

 

Em cada onda espraiada o sol porfiado é o pranto. Dia de mar. Noite que se faz rogada. Rebenta já a madrugada.

fio de chuva

Responde-me às flores que te enviei,
Responde-me nem que seja somente com uma pétala,
Ou um raio de sol.

 

Responde-me sol à angústia desta lua,
Ao querer desta floresta.

 

Responde-me fio de chuva a este deserto de sequeiro.

Saberás que sou mesmo de ser

Saberás que sou mesmo de ser,
e se sou mesmo de ser,
sou de estar,
sou de ficar.

 

sou de atravessar o mundo e navegar nos mares que se me cruzam,
sou de deixar partir de mim os meus segredos,
sou de ficar.

rio que faz de espelho à alma

A poesia duplica:
A paz,
O entendimento,
A luz,
O trilho,
O que creio,
O que desconheço de mim.

 

A poesia acrescenta:
Tempo,
Vontade,
Verdade,
Sentimento,
Alegria,
Ao que conheço em mim.

 

Como um rio que faz de espelho à alma.

Sou eu que escolho o merecimento em quem me deposito.

O burburinho foi sempre a estratégia dos maldizentes, no sussurro, na dissimulação, na cobardia.

 

No olhar existe o mundo,
Num abraço existe o universo,
Em ambos, existe a vida.

 

Em todos os meus dias eu nasço,
Em todos os meus dias eu me enfrento,
E em mim habitam todos os elementos.

 

Terra e confiança,
Ar e luta,
Fogo e vontade,
Água e transparência.

 

… Sou eu que escolho o merecimento em quem me deposito.

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