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Cardilium

Cardilium

Noite

O sono esta noite não me adormeceu,
O meu corpo repousado pernoitou com a lua,
Acordado,
E eu às voltas com a saudade,
Adormecido e despertado.

 

Aos primeiros raios de sol,
Lavei os olhos com o cansaço,
Abracei a chuva,
Que me espera com o dia,
Na noite já acordada.

 

Deambulei pela cidade,
Sem luz,
Sem alma,
As máscaras na face de quem passa,
Não me sorriem, nem me abraçam.

 

Bebo um café quente,
Sempre o café,
Que me conforta,
Da noite já esquecida,
Num dia que não tem norte.

Excerto de palavras desconstruídas por ver o sol um dia_II

O sol brilhante embacia os meus olhos. Não te vejo. Não te sinto. As palavras são meras letras amontoadas sem sentido, quase que me sinto alienado, esta loucura é equacionada, com um:

- será que estou mentalmente são?

 

Entra-me pela alma adentro a minha verdade e a tua, sabendo eu, que não existem duas verdades para a verdade, questiono as palavras que silencio.

 

Mil vezes pensei em morrer desta vida descontinuada e, mil vezes regressei pelo sentido que queria que as palavras tivessem. Perdi sempre. Perdi-me sempre na floresta do meu entendimento.

 

Também ganhei. Ganhei na solidão que me enche, ganhei-me nos luares que decifro, ganhei-me nos acordes que dedilho, ganhei-me no desentendimento das palavras no condicional, ganhei-me no entendimento transumano, ganhei-me em humanidade, ganhei-me nos abraços dos amigos e na selecção natural, feita pelo entendimento do sentido das palavras.

 

Não existe uma mentira e uma verdade para a verdade, não existem duas verdades para a verdade.

Excerto de palavras desconstruídas por ver o sol um dia

“Foi no último dia. O último dia do mês. Seria o primeiro dia de um último por anunciar. O mar plantado depois do pinhal, uns acordes entoados, a pele tocada com pele, e as nossas almas arrebatadas.

 

Tivemos um rio, uma nascente, noites de nevoeiro e gelo que derretemos de corpos dados. Tivemos um castelo erguido que nos albergou, mas nunca alcançámos a paz que a paixão retirou. Existiu sempre em nós, um “fora de tempo”, um “fora de horas”, uma anormalidade seduzida e uma vida fora da gente, e, gente.

 

Fora de nós existiu a impossibilidade da fusão das almas. Não cresceram as manhãs com cheiro a café, e as gargalhadas palermas avizinhadas de nada, e não floriu o “querer-bem mais do que bem-querer”, o conforto do abraço e a intimidade criada, não foi sequer semeada.

 

Entre nós existiu, existe e existirá, o afastamento adiado da alma, o último dia e os corpos suados de nada. Depois, tudo será desdito por percepções anormalmente díspares e expresso em palavras diferentes, não entendíveis, não escutadas e incompreendidas.

 

A lagoa da nascente do nevoeiro e da madrugada, contínua intacta e desocupada, de todas as noites despedaçadas de última vez, de último dia, de último beijo”

coração

Nunca entendi os humanos ou nunca fui entendido. Já o mar, a lua grande da noite passada, o vento, o som da bicharada no mato, o desfiladeiro, o rio e a imobilidade da paisagem entendem-me, como se de mim fossem, prolongamento.

 

Os mais gostados pelo meu coração e os amigos que partiram, não compreendem o meu fascínio e a minha alma. As paisagens salpicadas de natureza, a perfeição de cada folha ou grão de areia, pertença do seu local e não a outro lugar qualquer, não me falham.

 

Já a humanidade despertence-me cada vez mais e existe a forte possibilidade, de um coração sangrar no esquecimento, de por quem o meu coração sangrou.

um dia que é só feito de um dia

Posso ser a chuva no teu choro,

A melodia e o encanto,

 

A parecença com a madrugada,

A gaivota e o mar brando,

 

Na areia que marca os pés,

Escrevo a direcção e o rumo,

 

Posso ser o farol que te falta,

O sal, a brisa e o pranto,

 

Posso tudo e nada posso,

Num dia que é só feito de um dia.

 

Frescos pedaços de Outono

Soltam-se pedaços de Outono fresco dos teus olhos,
A erva seca definha como o fim de tarde,
Agora as noites vão ser mais noite,
E os dias divididos pela madrugada feita mãe.
Acordo breve,
As folhas das arvores acenam para o chão,
E de dentro dos teus olhos adivinho que se soltarão,
Frescos pedaços de Outono.

Por vezes, até as raízes da minha árvore desentendo

Não será meu instrumento esta vida,

Mais do que me modificar e transparecer,

Os outros,

São os outros,

E eu deles, nada sei.

 

O que dos outros oiço dizer,

Não entendo,

Não oiço.

 

O que dos outros vejo fazer,

Não concluo,

Não vejo.

 

Estes meus anos plantados de vida,

Explicam que não conheço ninguém,

Não sei nada acerca de gente,

E pouco me surpreende,

O pouco que não sei.

 

Por vezes, até as raízes da minha árvore desentendo.

 

Rompe

E disfarço-me,
E escondo-me,
E enfrento-me mascarado,
E o corpo rompe,
E a face mostra,
O que eu quero distante.

E o medo dita,
E eu não obedeço,
E a raiva range,
E eu não cedo,
E faço por ser,
E o corpo rompe.

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