O sol brilhante embacia os meus olhos. Não te vejo. Não te sinto. As palavras são meras letras amontoadas sem sentido, quase que me sinto alienado, esta loucura é equacionada, com um:
- será que estou mentalmente são?
Entra-me pela alma adentro a minha verdade e a tua, sabendo eu, que não existem duas verdades para a verdade, questiono as palavras que silencio.
Mil vezes pensei em morrer desta vida descontinuada e, mil vezes regressei pelo sentido que queria que as palavras tivessem. Perdi sempre. Perdi-me sempre na floresta do meu entendimento.
Também ganhei. Ganhei na solidão que me enche, ganhei-me nos luares que decifro, ganhei-me nos acordes que dedilho, ganhei-me no desentendimento das palavras no condicional, ganhei-me no entendimento transumano, ganhei-me em humanidade, ganhei-me nos abraços dos amigos e na selecção natural, feita pelo entendimento do sentido das palavras.
Não existe uma mentira e uma verdade para a verdade, não existem duas verdades para a verdade.
“Foi no último dia. O último dia do mês. Seria o primeiro dia de um último por anunciar. O mar plantado depois do pinhal, uns acordes entoados, a pele tocada com pele, e as nossas almas arrebatadas.
Tivemos um rio, uma nascente, noites de nevoeiro e gelo que derretemos de corpos dados. Tivemos um castelo erguido que nos albergou, mas nunca alcançámos a paz que a paixão retirou. Existiu sempre em nós, um “fora de tempo”, um “fora de horas”, uma anormalidade seduzida e uma vida fora da gente, e, gente.
Fora de nós existiu a impossibilidade da fusão das almas. Não cresceram as manhãs com cheiro a café, e as gargalhadas palermas avizinhadas de nada, e não floriu o “querer-bem mais do que bem-querer”, o conforto do abraço e a intimidade criada, não foi sequer semeada.
Entre nós existiu, existe e existirá, o afastamento adiado da alma, o último dia e os corpos suados de nada. Depois, tudo será desdito por percepções anormalmente díspares e expresso em palavras diferentes, não entendíveis, não escutadas e incompreendidas.
A lagoa da nascente do nevoeiro e da madrugada, contínua intacta e desocupada, de todas as noites despedaçadas de última vez, de último dia, de último beijo”
Nunca entendi os humanos ou nunca fui entendido. Já o mar, a lua grande da noite passada, o vento, o som da bicharada no mato, o desfiladeiro, o rio e a imobilidade da paisagem entendem-me, como se de mim fossem, prolongamento.
Os mais gostados pelo meu coração e os amigos que partiram, não compreendem o meu fascínio e a minha alma. As paisagens salpicadas de natureza, a perfeição de cada folha ou grão de areia, pertença do seu local e não a outro lugar qualquer, não me falham.
Já a humanidade despertence-me cada vez mais e existe a forte possibilidade, de um coração sangrar no esquecimento, de por quem o meu coração sangrou.
Soltam-se pedaços de Outono fresco dos teus olhos, A erva seca definha como o fim de tarde, Agora as noites vão ser mais noite, E os dias divididos pela madrugada feita mãe. Acordo breve, As folhas das arvores acenam para o chão, E de dentro dos teus olhos adivinho que se soltarão, Frescos pedaços de Outono.