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Cardilium

Cardilium

A vida é medida às estações

A vida é medida às estações.

Frio, temperado, fresco e ardente.

Cada uma delas abarca os meses. Os meses as semanas. As semanas os dias. Os dias as horas, e, em cada menor partícula de medição temporal, a pele absorve a emoção de sentir.

Depois existem as pessoas que nos causam arrepio: - arrepio frio, temperado, fresco e ardente.

Depois existem paisagens duras e frias e olhares quentes em qualquer estação, é nesta altura que começo a ceder e, o meu entendimento sentido, mostra-me que existem pessoas que nos alteram as estações, tanto por defeito, como por excesso.

Depois, depois, depois … volta tudo ao princípio:

- Frio, Temperado, fresco e ardente.

A mim não me subscrevo

A mim não me subscrevo,

E a alguém subscreveria,

Se sou ninguém,

Não subscreverei alguém.

 

Ao nascimento das palavras,

Di-las-ei a mim por ventura,

Não direi a mais ninguém,

Que sou alguém.

Presságio!

duas vidas entrelaçadas numa,

ambas minhas.

Presságio!

 

Adivinhação.

pressentimento que o passado me oferece hoje,

 

O mar ensolarado põe-se com o que adivinho ser o sol.

milhares de vezes o sol pôs-se no mar,

milhares de vezes os vi diferenciadamente,

o sol e o mar,

abraçarem-se de forma desigual,

única e exclusiva,

deixo a minha imaginação rebolar encosta fora,

Sei que nunca obterei o certo ou o errado,

o que antecipei,

o que postecipei.

 

 

Palavras por ver o sol um dia XIV

O rosto enrugado pela dureza do frio esbate-se na sombra do seu corpo ao passar. A morte esconde-se diariamente e o olhar vigor, é onde deposita os seus olhos. Habituou-se a ver sem olhar. As sete horas nocturnas de que são feitos os seus dias, são a prisão que lhe prometeram em nome da liberdade. As encomendas, feitas numa surdina temerosa, seguem sem rota o roteiro normal do silêncio. A cama aquecida espera-o sem perguntas. Foi contrabandista. Contrabandeava sonhos. Sonhos de uma vida melhor.

Contrabandista: profissão improfícua da zona raiana de um Portugal quarentão de pseudo desenvolvido e liberdade.

 

… De dentro da alma da alma geme humana uma nação e, na desordem dos sentidos fico-me. Entristecido voo sem horizonte onde pousar. Na regenerada sequência balouço-me autista voltado para os declives em que me alberguei. Ensurdeço das palavras descarregadas e, num semblante inútil de choro, sorrio ao rio que me lava a saudade de pranto, já nem as tuas mãos me seguram, já nem o teu peito me cura.

 

Não me ofereças mais palavras desmentidas de nós …”

"Quem me quebrou o encanto nunca me amou”

Cheira a flores de rosas no meu quintal. As noites têm o silêncio dos amantes. Perdura a vontade de fazer do mar companheiro e de deixar completa esta obra que é a vida. Em criança tive o encanto da inocência. Já crescido aceito o desencantamento de alguns dias da vida. O desencanto da desistência. Aceito a loucura que me tolda. Os sonhos que vou sonhado. Expresso-me mais do que transpareço e muito mais do que digo.

 

Cheira a lençóis lavados e frescos no meu peito, de cada vez que acordo do único sonho que tenho. Aos poucos concretizo. Concretizar é o agradecimento à existência. Todos os dias me abandono e recolho. Todas as noites entendo a ruptura como uma oportunidade. Mudo sem estratégia pensada e amadureço com as estações, sem me aperceber, entendo que tudo o que preciso não se procura, encontra-se.

 

Tenho como “Pessoa” e todas as pessoas em mim: “todos os sonhos do mundo” e “pedras no caminho”.

 

Não construirei um castelo. Construirei uma gruta e um passeio empedrado de seixos, da nascente do rio que corre desalvoraçado em mim, até ao poente. Semearei um relvado com a lua ao fundo, para que me lembre da luz que me ilumina e cega. A lua tem a cor da minha alma.

 

“Quem me quebrou o encanto nunca me amou”, celebrou assim o Zeca.

já há muito que não de dança nas clareiras

O milagre é a vida,

O mistério é a morte.

 

Enquanto durarem as nuvens nos meus olhos,

as incertezas do amanhã jamais serão esperança.

maldito corpo que me pesa mais do que a alma.

 

Mística existência humana em cada ser,

e, nas florestas onde habito,

já há muito que não de dança nas clareiras.

 

O vento sopra desafinado,

e o meu par não comparece.

Não crente, sei que tens a paz como destino

Não me sai da garganta um grito,

Nem das mãos força demasiada,

Apenas me sai um abraço e uma flor desenhada.

 

Um sorriso sai-me em espanto,

Nesta cidade alterada,

Expressões são desencanto nesta alma recatada.

 

Sinto mais do que um olhar,

Sinto mais do que paixão,

Rumor passa a silêncio. O fim? Exaltação!

 

Não crente, sei que tens a paz como destino!...

Rasgada

Rasgada ficou a despedida,

e o beijo suspenso na minha boca.

 

Os dedos separados de mãos,

num adeus sem deus a quem professar.

 

Distância sem possível distância,

tão perto e tão longe.

 

Do instante tão distante,

ficou o tempo sem retorno.

Baez, Joplin, Dylan e Cohen

Já me ofereci verde laranja, castanho terra, cinza mar e azul planície,

para vestir a minha alma de outra cor momento,

mas teimo em possuí-la mais cinza do que amor,

e de amor despi-la de mim, para em ti vestir o entardecer pousado em cores e música.

 

Oiço Baez, Joplin, Dylan e Cohen,

e a nora fazendo sempre o mesmo movimento no mesmo rio,

não usa sempre a mesma água,

como a minha alma não veste sempre as mesmas músicas e cores.

 

o dia abreviou, a noite cresceu

As estrelas arrefeceram no céu escurecido,

esquecido,

o sol rompeu mar adentro.

 

o dia abreviou,

a noite cresceu,

 

em mim,

solavancos de te querer irrompem-me,

 

trouxe ontem a noite para o meu leito,

deixei a minha pele tacteada na tua,

aproximámos as nossas almas num alinhamento que entendo e desconheço,

 

existe entre nós análoga vida,

a vida que nos afasta,

a vida que nos aproxima e funde.

 

As estrelas arrefeceram no céu escurecido,

esquecido,

o sol rompeu mar adentro.

 

 

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