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Cardilium

Cardilium

O amor é mais amor

O amor é mais amor nas noites quentes,
Tem mais sentir nas mãos que escrevem um poema,
Tem mais sofreguidão no rio que corre fresco,
E nos olhos que iluminam a noite,
Como a sangue que jorra descontrolado no peito,

 

O amor é mais amor nos dias de ausência e saudade,
Na esperada sombra do reencontro,
Nas ideias por dividir,
No abraço por repartir aguardado,
O amor tem tudo o mais que a loucura feroz detém.

 

O amor tem mais amor na chuva inesperada que se abate,
Na praia da madrugada,
Tem mais amor, tem tudo e não tem nada,
Tem palavras choradas no poema desnudado,
E na musica que ecoa tem lágrimas apaixonadas

Parto desencantado

Parto desencantado com o tempo gasto de mim,
Parto sem nada de tudo o que gastei,
Parto sem sorriso ficam as lágrimas que chorei.

As línguas não se acertam com palavras,
Os abraços não se abocam com braços incompreendidos,
As músicas com versos desgastados são amor desentendido.

É tanto o que nos divide,
A coragem, depois a serra,
E o caminho de regresso antes da velha lua sempre foi a nossa terra protelada.

Agora jaz em paz este vulcão,
Feito seara em noite de verão,
Foi Agosto concluído sem gosto.

Sou desajeitado para viver

Sou desajeitado para viver, mas a simplicidade é mais do que sobra para estar vivo. Com meia dúzia de paisagens, acordes, cheiros, comida do antigamente, uns abraços e uns amigos e, sinto-me bem, por vezes até feliz.

 

Sou desajeitado para viver, é-me difícil olhar nos olhos de quem não empatizo. É-me difícil dizer sim, ou não, mediante a escuta da minha intuição. É-me difícil estar sem ser. É-me difícil ser e não estar. É-me difícil viver desajeitado no meio de gente com tanto jeito.

 

É-me fácil estar, ser e ter jeito, com quem é desajeitado como eu para viver.

Ode à filha que fez de mim maior

Guardo a ternura do tempo em que o sol era todo meu,

Como a tua vida tornada luz na minha,

E do teu sorriso mantido no meu abraço.

 

A tua voz abandona a paz que os meus dias preservam,

Como uma estrela,

Que se desfaz em claridade no desalumiado céu.

 

Como o teu cheiro,

Entranhado nos lençóis que me sossegam.

 

Como a lua,

Que me pertence inteira.

 

Como outrora me pertenceu o firmamento,

Rogo para que não finde o luar nos teus olhos.

Luto pelo luto de uma recordação de amizade (Parte IV)

Olhámo-nos e trocamos sorrisos sobre música,
Sentados sob o pó do chão.

Embriagámo-nos pelo cheiro em nosso redor,
Arriscámos ser amigos,

Depois, agora, já não nos vemos mais,
E quando nos cruzamos, somos apenas o tempo em que fomos amigos.

Construímos o tempo de ser,
E a vida fez-nos ser nós.

E sendo nós, dissemelhantes,
Já não somos mais, os dois rapazes sentados sob o chão de pó.

Um de nós deixou de o ser, sendo,
Afinal, não habitávamos as mesmas estrelas do imaginário.

delonga

Sem pressa,

Delonga o vento nas árvores que se agitam como o mar vermelho nascido de ti,

Emanam os teus cachos de anéis de cabelo,

Balançam com teu balanço,

Espero o tempo que não tem tempo de espera.

 

Penso na cidade erguida sobre o rio,

Saboreio os incensos transformados do pólen inebriante,

Junto ao açude do rio transbordado,

Transbordaste em mim numa enxurrada de saudade,

Ontem, foi como antes de ontem e adivinho que seja como amanhã também.

Morro

Morro Não procuro entendimento quando a minha alma me foge, Não procuro entendimento quando sei que morro todos os dias um bocadinho e que o amor me morre também, Amo e morro de saudade, Calo e não abraço. Ainda tenho medo de mim, Ainda tenho medo da minha voz desconforme, Ainda tenho medo de dizer que me apetece abraçar sem tempo aprazado, Não gosto de me ouvir.

Pertença I

Não pertenço!... A minha presença não se coaduna com a minha pertença, O certo é longe, É demasiado além. Não pertenço!... O incerto é aqui, E não pertenço disfarçado, Não sirvo. Não pertenço!...

basta-me

Basta me tão pouco para ser eu, E sobra-me tudo do que me faz feliz. Qualquer céu, estrela ou lago, Retletem em mim abraçado o momento. Guardo em mim, A magnificência e o imortal desejo. Bastam-me os lábios de palavras, Basta-me o silêncio e um beijo. Alberga-me o acordar rompido e alaranjado de mais um dia.

Tejo

O tejo não é só lisboa, o tejo é uma vila velha, uma barquinha navegando da foz para a nascente, uma constância de amores, poesia e poetas, canaviais avieiros, bocas sôfregas em delírio, pôr-do-sol partilhado, e beijos de despedida e esperança de um novo dia. O tejo é a paz oferecida nas madrugadas de insónia permanente. O tejo é música e o sonho abastado da felicidade da beira-rio.

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