Deposito tudo nos sonhos que mantenho, Sabendo que o vento não deixará de existir, Bem como deus para os crentes, E o sol para os ateus, Ambos se continuarão a abraçar,... Nas partículas de sonho que acalentam, Crentes, ateus, sol, vento e sonho.
Estar sozinho no meio de gente num burburinho alucinante, deixar de ver e ouvir, é demência?
O amor não se conjuga. Ou se pratica porque é, ou não se solicita que o seja.
O amor é justo. É o retorno do que se dá. Se não se sente, ele não mente. No mais intimo pensamento a verdade vigora. O amor não se escolhe. Se assim for ele descobre. No amor é-se escolhido.
O amor nunca será as palavras dos outros ou os pensamentos dos poetas, isso é uma coisa diferente, é apreciar o belo que não é nosso, porque o nosso, escondemos no agradável que é estar só, a fingir que se está ausente.
Um poeta tem nas mãos dedos de sentir, Um olhar cheio do que vê e um vazio olhado em que o observa.
Tem palavras simples de indecifráveis sentires, Tem na alma a presença da distância e presente a distância de um olhar.
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Um poeta é mais que um mundo que nem se sabe existir, Um poeta habita uma miserável fonte que jorra sede que a água não cala. Um poeta desassossega o silêncio.
Inolvidável tem dentro de si a morte e a vida, o amor e o desamor e da sua compreensão, faz a sua dor.
Um poeta sabe que nenhum dia será estrelado como as noites acordadas de si mesmo e que nenhuma manhã terá a normalidade dos dias “baptizados de bons”.
Um poeta tem uma alma revolta que sente na solidão presença e nas madrugadas, abrigo.
A vida ao contrário é a assimetria do real. Nem sempre nem nunca, nem nada nem tudo.
Todos os desígnios vão para além da vontade. As escolhas não são sempre escolhas. O que nos vem é nosso, o que se nos escapa entre os dedos não o é, nunca o foi. Não seria o mesmo homem sem Kafka na minha vida.
Toda esta ensanguentada existência já foi sarada e, na reserva que faço em mim, nada me garante que a morte que carrego no peito não seja a vida partida, mantendo-me vivo nela, mas m...orto como a lua quando não brilha.
O que me faz chorar são os dias em que não chorei. O que me faz amar são os dias em que não amei.
Como pode o início ser tão distante, desconhecido, enigmático e intenso?
O perfume que ficava quando passavas adormecia e acordava com a minha saudade. Saudade desconhecida do verdadeiro sabor da saudade. Saudade desentendida da verdadeira dor da saudade. A saudade mesmo estranhada não deixa nunca de ser saudade magoada.
Não sabia sequer o teu nome, de onde eras, onde te encontrar. Esperava por ti até não aguentar o meu coração desordenado e, quando te via, fingia não te ver, e voltava tudo ao mesmo. Saudade, saudade, saudade.
Num dia que não existiu beijei-te. A saudade atracou. Agora já sei o seu nome. Chama-se enleio e não tem época para florir, existe antecipada ao amor.
Aos vinte anos sabia muita coisa e tinha bastantes certezas. Há medida que fui subindo a íngreme escarpa das estações, fui perdendo sapiência e perdendo certezas por aí. Hoje sei que ainda me falta muito por saber, hoje tenho bastantes certezas nas dúvidas que me conservam.
Certo de que a dúvida me retorna à essência humana,
duvido da terra que lavrei um dia e da esperança semeada em torrões desfeitos,
fragmentos grossos de terra boa plantada em mim.
Os dias não avisam quando nascem e as horas são pródigas de desencanto,
nas searas da minha infância o sol assentou sempre,
mesmo sem a minha presença.
As mulheres que mais observaram são as que mais sabem,