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Cardilium

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Abril podia ser no natal

Abril podia ser no natal,
Ou o natal podia ser em abril.

 

Passado o enterro do fascismo,
Segue-se o funeral da liberdade,...
As lágrimas são ocasionais,
Mas a fome é permanente,
A vida é desigual,
Na vida de toda a gente.

 

A liberdade? É passageira!
A memória? É efémera!

 

O natal podia ser em Abril,
Ou em Abril podia ser o natal.

 

Ambos são para esquecer,
Ou lembrar num dia somente.

antes que Abril se faça tarde

antes que Abril se faça tarde,
e o mundo desacredite na sua própria crença,
antes que a loucura infeste mais do que invada,
o pensamento que diverge,
e em risco,...
habita mil homens que mandam,
noutros mais de mil que obedecem,
e se castre o que ainda é alicerce,
elevo estre trago,
que em gole beberico,
de liberdade da boa.

antes que Abril se faça tarde,
ressuscita branda,
a habitual madrugada de Maio,
sem as lágrimas combatentes,
dos que existem resistentes,
mais as mulheres dos que existem,
e os filhos que resistem.

 

Abril desabonado,
Não abandonado,
Ainda durmo sob o sonho do aroma a cravo!

Vivo num prédio de Abril!

Vivo num prédio de Abril!

Com um primeiro andar frente … à montanha,
Um segundo direito … à lua,
E um terceiro esquerdo … ao vento,

 

Prédio de Abril vivo,
De poesia desencarcerada, solta, ágil e fraterna,
Que moram nuns olhos que choram e riem,
Que morrem nuns braços que sofrem e se alegram.

Habito um prédio vivo de Abril!

e se?

E se de dentro de nós soltássemos as amarras e deixássemos o vento guiar-nos mar adentro e, descobríssemos, que para aceitarmos as marés nos basta lançar a barca ao mar?

 

E se descobríssemos que dentro de nós existe o vento e que até ao destino nos basta a abundancia do sentir?

 

E se descobríssemos que nunca nada está descoberto e nos descobrimos a cada bátega de água da chuva que se nos oferece em cada alvorada?

 

E se nos descobríssemos num encontro marcado connosco?

 

E se? E se? E se?

 

E se nunca nada nunca … fosse plantado e cuidado com “ses”?

Não arrisco o grito

Torturas-me em cada lembrança,

Possuis-me em cada recordação.

 

No vocábulo que engulo sem risco,

Não arrisco o grito.

 

E nas lágrimas que teimam sufocar esta saudade,

Vive em soluço a cobardia de não te oferecer o meu pranto.

Excerto de palavras por ver a luz um dia

“ … Foste um poema enganado e uma prosa adiada. Esta hora não é de dor mas é dolorosa. Tenho que partir mesmo amando cada desfalque teu no meu coração. De tão enraizada que está em ti o delírio da ilusão que já não creio na mudança. Preciso de ouvir cada melodia da música que escuto. Já me disseste nada e tudo e, em nenhum momento, entendeste que apenas te quis dar a mão e voar.

Provavelmente poderíamos ter voado. Na verdade, jamais poderíamos voar juntos.

 

E assim o caminho me levou com o peso de um poema enganado e uma prosa adiada …”

saudade

A saudade suada dos teus olhos verde pinho,

Amantizada de mar,

Percorrida nos pinhais que nos abraçaram,

Na nosso quase demente amor,

Vive repousado nas dunas,

Refugio nosso, cama e segredo.

 

A lua e o farol rasgaram os nosso corpos,

Mais do que as nossas bocas,

Juntos e amantizados neste querer de promessa,

De que tudo seria tão intenso,

Como a força do mar,

Falecido nas ondas da praia do nosso amor.

 

Na madrugada o pinhal refrescou-nos,

E o abraço na hora da maresia,

Salgou-nos a água que os nossos olhos gemiam de felicidade,

O cheiro forte a nevoeiro,

Adormeceu entre nós,

Neste querer plural de nos querermos.

primavera

A primavera acordou a chorar solidaria com a saudade que sinto.

Depois a Primavera ficou ensolarada quando soube que o tempo não se esgotou e é renovado a cada madrugada.

Depois, a primavera encantou-me quando tomou o teu sorriso como dela.

Mais tarde, abraçados, o gerúndio abraçando conjugou-se no verbo presente do abraço e, logo as flores desabrocharam em cores mais de mil, apanhei a mais bela e enfeitei o teu cabelo, beijei-te docemente neste desvario e loucura.

Agora sim, a primavera e tu afagaram-me.

Agora sim, a primavera aconteceu.

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Escrevo para repensar e voltar a pensar tudo o que pensei e, sempre que penso, penso novo o velho que pensei.

 

É uma tara, um vício, uma mania, mas desta praticamente loucura, floresço a cada pensamento e, verifico não ter fim cada momento.

 

Se fosse um escritor, difundiria cada pensamento ordenado de cada momento, e, em cada momento, sacrificaria todo o pensamento até sangrar, depois, publicaria os resultados.

 

Assim, apenas repenso cada velho pensamento tornando-o livre e dono de si próprio, validando-o. Depois suicido-me umas horas e, como cristo, ressuscito a cada manhã.

 

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O antes não é igual ao agora e não será nunca semelhante ao depois

A vida é desordeira por si própria.

Revolucionária em idade jovem, amadurecida pelo amanhecer da tarde. A fase da sabedoria é o resultado da soma dos dias. São as dores e as alegrias, o prazer e a espera, o encantamento e o visionário sentir, o respeito e o tempo como ele é, mais a adivinhação experimentalista da vida, que nos amadurece e sustenta, como uma árvore que cria raízes no solo que a sustém.

O antes não é igual ao agora e não será nunca semelhante ao depois.

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