“… Era eu e um outro corajoso habitante de mim mesmo. Guerreámos anos sem que a consumação da mesma alma ficasse menos distante ou una, sendo as duas pertença do mesmo ente.
Numa manhã enfeitada de valquírias no bairro da lagoa negra surgiu um fogo que nos retirou as palavras da voz. Restava entendermo-nos por sinais inventados que descapitalizassem as palavras e nos abraçassem em sintonia.
Descobrimos o abraço, aquele gesto que a palavra intimidade não decifra ou explica. Aquele gesto em que o coração partilha mais do que o coração. Aquela atroz fusão entre a proximidade e a necessidade de nos enlaçarmos. Afinal as palavras foram apenas sons emitidos sem descodificação.
Deixei de ser eu e um corajoso habitante de mim mesmo e, passei a ser:
Quatro luas no céu, sete ondas no mar, as colinas que avisto não são sete nem são quatro, no céu fica cheia a lua quando cresce, e no mar a sétima onda é o desejo.
...
Adivinho que para além da colina existe um chão forrado a poesia.
Fresca e profunda melodia. Derivante. Delirante. Nas esquinas da cidade escurecida a luz dessa melodia fascina-me. O rio cheira às flores que falecem nas árvores. No pranto da voz das mulheres escuto a dor que se solta das suas gargantas na felicidade que não as escolhe.
Penso! Somos escolhidos pela felicidade ou elegemo-la nós?
Bem sei que a aurora pode amanhecer ao entardecer se assim for o despertar do teu silencio, E pode acontecer a madrugada anoitecer se por aí ocorrer a tua chegada.
As tuas mãos posso confundi-las com os teus cabelos pela suavidade, O teu sorriso com o sol pela tua luz,... As tuas lágrimas com vento pelo teu sentir.
Posso adormecer no alvorada, E acordar na noite chegada.
Posso tudo! Posso tudo, por toda a desregra que existe em nós.