“Se as ideias insubordinadas se transformassem em diabólicas palavras, já tinha rasurado o meu nome e transformado esta vida, num paraíso inexistente e sonhado”.
Leio nos olhos do psicólogo a incredulidade da minha verdade, é como se ele próprio tivesse regressado a um compêndio ausente, tal a bravura em si dos meus pensamentos.
Leio-lhe na postura hirta e forçada, a rigidez facial de um sorriso esforçado de entendimento, que lhe peço o meu honorário e saio.
Como paciente levo mais em conta, só que resulta, ele está muito mais solto e esperançado.
O meu pai é um deles. Homem sábio de vida, sábio de uma sabedoria não académica, uma sabedoria de noites acordadas, de compromisso com a igualdade, quase uma sindicância familiar. Homem cheio de homem. Homem erigido com lágrima, partilha, numa infância sem liberdade, de metalúrgicos, camponeses e vidreiros. Homem amansado por uma liberdade conquistada e a glória de poder dar ao filho, uma vida somente conhecida nos seus sonhos de menino.
Existem homens faróis. Homens cheios de homem!
O meu pai é um deles e tem luz, vaidade, lua, beleza, céu, amor e luar, no olhar!
Três prédios e metade de outro da cor da luz em final de tarde alaranjada, alumiam o início da noite do dia já morto; espero conseguir pronunciar as palavras depois de ouvir gemer o contrabaixo que se avizinhou de mim,
e,
depois,
ausentar-me deste pátio a mim regressado. O vento esta noite perder-se-á nas flores amorosas que plantei.