Se até as flores rebentam nas pedras, como pode o amor morrer em mim?
Se o amor é uma morada sem endereço por ser habitação permanente e imutável, pode a temporalidade despejar-nos dessa direcção como se não cumpríssemos o pagamento devido?
O amor não tem preço, tem um simples valor incalculável, sem quantificação em medida de troca comercial possível.
O amor tem tanto de fogo como de mar, tanto de dilúvio como de planície.
O amor são os dias todos em que vivemos mesmo desapaixonados, porque o amor não é a paixão.
O amor é o precipício que fica depois da razão, bordado a arco-íris como uma lança acertada no coração dos que amamos, de todos os que amamos assexuadamente amados.
O amor é a soma dos momentos em que quero bem, em que me quero bem.
A elaboração do amor torna complexa a sua simplicidade.
Estamos sentados no mesmo lugar de olhos postos em lugares diferentes. As nossas palavras são as mesmas mas soltam-se e entendem-se disformes nas cores e nos sons.
Os teus lábios murmuram as mesmas lamúrias que as minhas mãos, mas nem eu te toco os dedos, nem tu a mim me beijas os lábios,
Os meus prantos não os sentes e, eu, não sinto os teus sinais vertidos.
Estamos sentados na mesma pedra defronte do mesmo horizonte mas, não somos o mesmo futuro depositado no mesmo destino.
Porque não levantamos as amarras, nos abraçamos, e partimos?
Olho em redor e não reconheço as caras de uma vida. As casas coloridas confundem-me e, sinto-me perdido nesta demência tolerada. Cheiro a chuva ainda ela está para além das nuvens, numa outra estação distante.
Junto desta baía os cigarros cheiram-me a bálsamo doce e os sorrisos encantam com um ar despreocupado que carregam, o que a mim me dilacera.
A solidão entre gente é mais solidão que dentro da gente. É maior.