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Cardilium

Cardilium

A demência e o medo

Tenho medo que o medo deixe de ser medo,

E se resolva aí nesse instante,

A incoerência racional,

Na concordância emocional,

E o medo se transmute em coisa nenhuma,

E o amor em alguma coisa,

E me sobre só e apenas demência,

Isenta de medo,

Amor,

Rios,

Mares,

Nuvens,

E arco-íris,

E não haja beijos abraçados de primavera,

E braçadas de cheiros prendidos,

Em alfazemas dependuradas nos olhares das pessoas,

Em fim de tarde.

 

Que a demência e o medo se embriaguem em mim.

Antes que Abril se faça tarde

antes que Abril se faça tarde,

e o mundo desacredite na sua própria crença,

antes que a loucura infeste mais do que invada,

o pensamento que diverge,

e em risco,

habita mil homens que mandam,

noutros mais de mil que obedecem,

e se castre o que ainda é alicerce,

elevo estre trago,

que em gole beberico,

de liberdade da boa.

 

antes que Abril se faça tarde,

ressuscita branda,

e habitual madrugada de Maio,

sem as lágrimas combatentes,

dos que existem resistentes,

mais as mulheres dos que existem,

e os filhos que resistem.

 

Abril desabonado,

Não abandonado,

Ainda durmo sob o sonho de aroma a cravo!

Logo a mim que sou silêncio

Confiaram-me o ruído,

Logo a mim que sou silêncio,

Entregaram-me palavras que não me habitam,

Para edifica-las,

Logo a mim que sou poema.

 

As palavras feitas de amor são silenciosas,

Emudeço no vento forte,

Glorifico no vento norte,

As palavras que me confiaram,

Não as abasteço,

 

Ao vento sopro o silêncio,

Ao sossego desenlaço o amor,

À lua solto o mar,

Confiaram-me o ruído,

Logo a mim que sou silêncio.

Desordem

Todos os segredos desordenam a existência,

Desassossegam a ordem das emoções,

Guarda-se o amor em segredo,

Que tal alvoroço é um abalo,

Da mais profunda paixão.

 

Desordena-se no peito … o peito,

Faz chorar o coração,

Inventa-se uma outra balada,

Dentro da própria canção,

Ordenar esta desordem,

Não tem ordem nem solução.

 

Unicamente os dias queimados de fogo constante,

Valerão a tua ausência.

Fontes

Revisitei as fontes,

A da barreta,

A da sapeira,

A do bom amor,

A da ribeira,

A da graça.

 

As fontes não enxugaram,

E em mim,

As nascentes rompem desenvergonhadas.

 

As fontes são os sítios da minha infância,

Nas fontes matei-me:

 

- de sede,

- de desejo,

- de liberdade,

- de juventude.

 

Matei em tantas luas o amor,

E em bastas noites experimentei o luar.

 

Nas fontes revisito-me.

 

A água ainda cheira a pinheiro,

E o silêncio,

Ainda sabe a sossego,

As noites ainda acalmam os dias,

O sítio ainda,

Pacifica o momento.

 

As fontes não secaram em mim,

As fontes rejuvenescem-me,

Como a água que delas rebenta.

Vivo

Admirado,

Absorvido,

Almejado,

Amor,

Amei.

 

Apaixonada,

Alma,

Apartada,

Alienada,

Amantizada.

 

Amanhã,

Amanhecerei,

Amado,

Amortalhado,

………………………Vivo

Homem mascarado de destemido

Em muitas horas já fui frágil,

homem mascarado de destemido,

as mazelas do meu fígado,

incorporam,

o meu pensamento,

o meu sentir.

 

Já fui um fraco homem,

a sentir-me invencível,

um sortudo declamando o azar,

um alcoólico em carnaval diário,

um aglomerado de fantasia e devaneio.

 

Reparti os dias em bocados de miséria de mim,

tornei-me num homem pagão,

ateu, abstémio, rendido, prendido,

a uns laivos de memória sem passado,

com promessa de futuro,  acrescentando ao espirito … a alma e o sonho.

Tu


Tu, estás tão viva

que nunca partiste madrugada.


dilacerado foi o adeus,

sem cravo,

sem beijo,

sem um ultimo e único olhar.


Tu, estás tão morta

que nunca ficaste.


romã aberta em chagas,

como fiz minhas mãos denunciarem,

o primeiro beijo,

o primeiro e único olhar.



Tu, partiste porque morreste em vida em mim ...

Transversalidade

 

Transversalidade por inteiro,

 

Nas lágrimas,

 

Nos bancos perfumados da primavera,

 

Nos jardins enfeitados de outono,

 

Nas crianças,

 

Nos sonhos,

 

Nos direitos,

 

Nos mais experientes,

 

Nos cravos,

 

Nas ideias,

 

Nos ideais,

 

Nos continentes.

 

 

 

Transversalidade plantada de vida.

 

Mar que salga a alma

Corpos disformes,

Rostos da cor do brilho,

Corpos em trabalho do romper do sol,

À lua que chega,

Corpos de musica que embala o trabalho,

Filhos depositados nas sombras que jorram,

Mar que salga a alma,

Senhor que rouba a jorna,

Corpos incandescentes dançam,

Ao ritmo lavado das lágrimas,

Sorrisos que teimam não morrer,

Esperança que abarca a liberdade,

Em faces difusas, quentes e humanas.

 

Com cor,

De cor,

Lindas de amor.

 

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