O cheiro dos cheiros é a soma dos aromas. Noite morna de odores transformados em perfume. Os cheiros em transfiguração tornaram-se numa única fragrância, que as palavras não abrangem em descrição.
Da praça mal iluminada brotou a tonalidade laranja. Desabotoam-se das árvores penugens em forma de algodão. As mesas de madeira desocupadas agora, antes, vertiam conversas de homens que falavam com musicalidade e código ritmado, purificando a garganta com goles de vinho rosa.
A noite ficou mais clara quando caiu dos teus olhos calmos, maresia. As tuas mãos suplicaram a paragem do momento nas minhas. Da tua boca ouvi gemidas palavras que me consolaram, e, se esbateram nas folhas caídas das árvores. Há mil anos que esta luz cai desamparada como o teu corpo exausto, suportando os pensamentos que amontoas.
Do céu e da terra, do mar e de ti, do fogo e da luz, os cheiros que o meu olfacto sente, são muitos e alucinados, vindos de toda a parte, são mil transformados simplesmente num. A soma deles na tua pele, no teu andar, na tua roupa e nos teus olhos, enlouquecem este sentir que não apreendo e me prende.
Tantas noites assim caídas esvaziaram e esgotaram a minha alma, como se funestos devaneios e madrugadas por romper espalhassem esses cheiros, que constituíssem esse aroma confidente e melancólico, onde me acolho e sossego.