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Cardilium

Cardilium

Varanda de lua cheia

O tempo por si só não passa de tempo, no entanto, enquanto tempo, o tempo é por si só, vida. A eternidade é uma parcela de tempo por viver. O tempo eternizado é a duração do passado, aliado convicto da forma usada enquanto tempo. O tempo subsiste concretizado com as emoções. As recordações são jardins que cuidamos enquanto sentimos. O sentir não é descontinuado. Quando recordamos, inclinamos o sentir como um quadro inacabado, onde falta sempre um retoque de alma. Os assuntos que julgámos encerrados mantêm-se permanentes e intemporais. Sentir é o elixir do espírito. O corpo embora mutável é um aperfeiçoamento inacabado. Na morte nada está concluído. A vida embora terminada, não é jamais encerrada. Adiantar a morte não é atrasar a vida. A vida é constituída por parcelas de ciclos inconclusivos. Por ordem de grandeza e razão, a eternidade não é o tempo vindouro, é o tempo envelhecido, é dimensão sensorial e a razão da decisão. O tempo eterno não existe, o que dura e se esgota, é a presença quotidiana do dia em que se vive. O tempo por si só é a vida. A morte não é a vida e a vida não é a eternidade. Os deambulantes prazos esgotam-se, na cacimba de beijos itinerantes que te dou, no alto da tua varanda engrinaldada de lua cheia. É vida feita de novos tempos que te presenteio.

Arco-íris

Nesta encruzilhada não há norte, nem há sul. O fogo aquece o horizonte que se torna futuro com o cair do dia, numa luz soturna e difusa. O amarelejado floresce espelhado no bulício da alma. O entardecer sempre formou em mim, o aditamento ao adiamento. Não sei se as tardes conhecem os encantamentos que me conformam e equilibram. Esta época o que tem de bom, é que passa também. Não me imagino um fantasma cínico a vida inteira. Assim, como assim, estes dias apenas contêm vinte e quatro horas como todos os outros. Se o natal perdurasse mais do que as horas que os dias têm, imagino-me a enlouquecer podre e barbado por aí, morrendo de uma forma rápida, escolhida e apressada, de encontro à morte sentida, abalando assim, deste desnascer improvisado que é a vida.

 

Nestes dias passados, a natureza expressou-se em entardeceres, marés, céu da mesma cor que o mar e o arco-íris. Todos se expressaram em respostas às minhas ansiedades e silêncios. Não foram necessárias palavras ou iluminados e extemporâneos devaneios, para entender o que preciso de entender, aceite e agradecido. As respostas possui-as a Natureza.

 

Li no arco-íris, companhia.

Na cor do céu cinza, amizade vinda num abraço do mar da légua.

Nos olhares entardecidos vislumbrei a poesia do entendimento e do silêncio.

Na viagem senti todas as viagens que fiz.

No amor, percebi todo o amor que abranjo.

A oeste, entendi a luz que me é cedida a cada acordar.

Nas ondas rebentadas na ravina, senti o sal das lagrimas que ali mesmo verti.

Naquele pedaço moreno de mar encantado por cactos de flor amarela, percebi o sentido magnificente da celebração de dois arcos iris ao invés de um.

 

Se sou a leste, a poente me fico, a sul me verifico e a norte me acaricio. Nesta encruzilhada, o pensamento seduz-me mais a mim mesmo, do que a qualquer frágua miserável entendida de crise ou de natal. A mim, não me vendem natal, há já algumas estações. Eu sou nascido da natureza, crescido pela poesia, falecido no passado e reluzente de presente. Sou ouro, mirra e incenso. Sou reflexão.

 

Pensar é, a maior imagem da alma que me conduz.

06.12.2012

Como uma represa prende um rio, tu, presenteias-me com o que comportas de mim. Nas veias correm-me lagrimas e medos improcedentes que me guardas. A essência não é o essencial. O essencial é a tua grandeza feita dessa essência. Legitimas-me. Autenticas-me. Fazes-me ser em mim mesmo, querer. Fazes-me ser feito de verdade e descontinuidade do passado. Fazes os meus dias serem pronuncio e momento. A minha vida voltou a pertencer-me dividida. Relativizaste o meu conceito de “nunca” e “nunca mais”.

 

Dentro desta barcaça à vela, o vento bolinado e suave mais a lua, sabem o trajecto que eu não sabia ser feito. Passaram-se minutos, horas, dias, semanas, meses e anos. Passei invernos solarengos e verões gélidos. As estações foram trocadas por noites demitidas. As madrugadas geraram em mim o anúncio de cada dia, e, da soma das horas de sentires intranquilos construídos por pontes inquietas, desenraizei o caminho do sossego.

 

Hoje, irei abraçar e dividir o que sinto. De que me vale ter tanto e tê-lo só comigo? Irei dividir esta celebração simbólica mas tão cheia de vida. A naturalização de deus na terra é o amor entre duas pessoas, de tão natural e fácil que se torna esta expressão, expresso todo o meu querer neste dia renascido de um homem novo, feito de um novo homem.

 

A alegoria é uma imagem do passado falecido. Hoje, e só por hoje, nesta antítese me descrevo num: “Ganho num momento o que perdi em anos” …