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Cardilium

Cardilium

A verdade versus auto-estima e o ego versus mentira ou inverdade.

Segundo Heidegger há uma questão denominada “essência da verdade”. Não é a resolução fora da realidade, porque se assim fosse, converter-se-ia numa falta de fundamentação, onde não se poderia encontrar a verdade da essência da verdade. Por isso, Heidegger propõe que a verdade se agregue à realidade. Ao ser assim tratada (a verdade) promove o bom senso, propagandeia a sua importância, pois não há como argumentar e manter argumentações sobre esta questão, sendo ela assexuada por si só. O que poderá manter o interesse e o debate sobre este assunto é apenas a própria filosofia, pois o senso comum não tem interesse na linguagem filosófica, apenas nas evidências.

 

Se pensarmos numa primeira definição sobre à auto-estima, iremos debater-nos com a primeira contradição; “… o fenómeno que estará relacionado ao amor-próprio do indivíduo seria, quiçá uma questão de senso, de capacidade pessoal e auto-respeito, esta estará eventualmente condicionada a uma opinião alheia, uma imagem externa acerca da pessoa, o que pensávamos ser um património exclusivamente íntimo, é afinal visitado, revisitado e alterado constantemente, aos olhos que não os nossos …”

- A crença de que se possui um potencial próprio que jamais pode ser violado;

- A sorte ou o azar;

- A aferição do potencial intelectual do indivíduo; apenas filosoficamente podem ser validados.

 

A auto-estima advém da capacidade de reter, aprender e elaborar determinado conteúdo, tornando-o prático para as necessidades da pessoa. A relação da pessoa com o meio em que vive, os conflitos, a cooperação, a admiração, o desinteresse, a exclusão, a sedução, a inveja, a competição, o ódio, são características vulgarmente confundidas com defeitos de caracter e ego. Começa assim e aqui, a inquinação dos conceitos que se vão tornar cegos.

 

A afectividade e sexualidade descritas enquanto ser desejado ou não, é diferente do conceito requisitado, ou da atitude género masculino do ego em prol do encantamento de quem acredita nas formas sedutoras da auto-estima, tornando-se esta, uma sábia inverdade justificada por um amor-próprio apenas racional e físico, não relacional, sem estrutura ou conhecimento, sustentado numa aceitação de vocábulos sem o proeminente e real, sentido da vida.

 

“O verdadeiro é a verdade, é a proposição verdadeira. É aquilo que está de acordo. Que se ajusta mesmo não o sendo. É uma convenção disruptiva. Ser verdadeiro e verdade significa aqui: estar de acordo de duas maneiras: de um lado, a concordância entre uma coisa e o que dela previamente se presume, por outro lado, a conformidade entre o que é significado pela declaração é a “coisa”.

 

O ego segundo Kant ou mesmo Sartre concorda que “… o Eu penso deve poder acompanhar todas as nossas representações”. Mas é necessário concluir disto que um “Eu” de facto habita todos nossos estados de consciência e opera realmente a síntese suprema de nossa experiência? Parece que isto seria forçar o pensamento kantiano. No problema da crítica, sendo um problema de direito, Kant nada afirma a respeito da existência de facto do “Eu penso”.

 

Parece, ao contrário, que ele vê perfeitamente que havia momentos da consciência sem “Eu” já que disse: “ … deve poder-se  acompanhar”. Trata-se, com efeito, de determinar as condições de possibilidade da experiência. “...Uma dessas condições é que eu possa considerar a minha percepção ou meu pensamento como meus: eis tudo...”

 

Sartre segundo a transcendência do ego afirma “… ser um esboço de uma descrição fenomenológica, um problema clássico da “filosofia
transcendental”, doutrina que investiga as condições de possibilidade do conhecimento – e passa ao campo da investigação fenomenológica, tal como Sartre a compreende…”

 

O problema é a passagem não percebida  do ego da consciência transcendental para o ego empírico (a acção), trata-se de saber ou perceber como e porquê, uma consciência que não tem originalmente nenhuma estrutura egológica, ou seja, é uma consciência impessoal, se dá “… a um objecto tal como o ego…” para, em seguida, se projectar nele e se identificar como sendo ele. “… Nós queremos mostrar aqui que o Ego não está na consciência nem formal nem materialmente: ele está fora, no mundo; é um ser do mundo, tal como o Ego de outrem … “

 

Mostra-se de forma representada muito mais perceptivelmente o ego mentiroso que uma autoestima chorosa, mesmo usando esta estratagemas, para que pareça o contrário. As concepções da essência são a verdade enquanto adequação do conhecimento, não como o desconhecimento de um sentimento. “… A verdade como adequação do conhecimento…”, ainda não exprime o pensamento transcendental, esse só se torna possível a partir da essência humana, enquanto subjectividade, segundo a qual “… os objectos se conformam com o nosso conhecimento….”

 

Neste contexto muito mais filosófico do que o entendimento normalmente pseudo psicológico em casas de negócio fácil, desrespeitoso, duvidoso, e desonesto, promover-se a auto estima mais do que o ego, é como vociferar que não tempos direito a sentir, o que culturalmente nos foi retirado antes de nos ser entregue. Tais como a: auto consciência, a inveja, a raiva ou o medo. Como se existisse num ser não estruturado, contextura rápida e fácil de entendimento ao desconhecido. É como se, se enchesse uma seringa de heroína e se dissesse, vá toma, sê feliz novamente. Felizmente existem uns seres que divagam e acham que o tempo não se relativiza, e se julgam sabedores do melhoramento da vida dos outros, e, espelhados neles, na
sua chegada e partida, os seguram com abraços, e alguns, com sorte ficam pela “desimportância” de entender o que quer que seja. Não ter frio ou fome já é tanto, que o principal passa a acessório, e os princípios a forma de vida. Todos, sem excepção, conhecidos meus ou não que se questionaram, ficaram somente depois da primeira vez. A primeira não resultou. E, aqui se reflecte em espelho, o titulo desta reflexão. 


A verdade versus auto-estima e o ego versus mentira ou inverdade.

 

Deve-se então promover a consciência do ego como verdade, ou o entendimento da auto-estima enquanto mentira ou inverdade?

Vive-se com a auto-estima, ou com o ego?

Nenhum deles é sexuado, mas ambos necessitam de orgasmos.

 

Referencias a Heidegger, Sartre e Kant.

Jasmim em cachos de olhos negros

O céu perfumado de jasmim larga cachos de perfumes, uns mais intensos, outros adocicados, outros distintos e agros, suaves e intensos, imaculados e revoltosos, inocentes. A eternidade dura um momento. Os momentos eternos são aqueles que não se destronam pela substituição dentro de mim. Nunca ninguém partiu, depois de em mim ter existido. Sobranceiro, recolho-me refugiado no meu sentir uno, nos meus sentires plurais. Tenho saudades do mar, do mar de abundância, mexido, de cheiro vigoroso, robusto, encantado, entardecido pelo pôr-do-sol, desperto pelo nascer da manhã. O mar que esconde o sol de nevoeiro, e a maresia encoberta no seu regaço cinzento. O mar dos pescadores e das varinas. O mar das gaivotas salgadas. O mar de alma desprendida a perder de vista. As saudades não se matam, as saudades castram-se, semeiam-se, muito mais do que se colhem. A saudade é um famigerado substantivo qualificativo de um sentimento desqualificado, tóxico, de um veneno sem profilaxia apropriada ou prática de resultado, é anti profiláctico, sem virgindade resistente e conspurcadamente poluente. O sótão da minha infância tinha vasos com flores. Uma camilha redonda. Amigos. Uma escada de madeira. Os primeiros e inocentes pecados. Beijos. Música, musicas, livros, uma viola, presença e solidão. Um mundo simples visto com os olhos de hoje, um mundo secreto ajustando aos olhos da época. Este meu sítio, criado e cuidado, remete-me à fantasia real e relativizada do tempo, e, torna-se hoje sim, uma fantasia e vontade impossível de retrocesso, sem abrir mão do conhecimento. Impraticável e desconexa esta inexequível firmeza da saudade, de um mar e de um céu, perfumado de jasmim … em cachos de olhos negros.

Poetas ou naufragos?

Resumindo: um poeta não escreve. Um poeta sente necessidade de deixar sair as suas aflições feitas palavra, ser fluído como o líbido sexual, representado por algo da força e significado de um orgasmo que, o arrebata ou inquieta. Descomandado por um sonho não crente ou entendível, pela realidade, pela paixão, por nada e por tudo, pelo desamor, talvez mais do que o amor, o poeta é uma mistura de pólenes raros e comuns.

 

O poeta, não tem posição para dormir enquanto não naufragar o seu incómodo no seu porto do mundo. Os versos de um poeta são um momento. São o raio antes do trovão, são segundos, deslocação, remoção. O trovão é, o efeito das suas eloquentes e imperceptíveis interpretações dele mesmo, no seu id, ego e alter-ego espelhado, abrangente, descoincidente às vorazes sanguessugas do entendimento linear como se quer, mas disruptivo como é.

 

Um poeta não é a poesia. A poesia são os poetas, todos.

 

Um poeta é quase sempre visto como um lírico sonhador que vive num mundo irreal?

 

Mera fantasia esta, de quem quer entender a poesia antes do poeta. Um poeta jamais saberá se o é, foi ou será, no máximo, o estado mais próximo dessa certeza é a dúvida. O entendimento de si próprio como ser isolado do sentir, é inexistente, e, se se torna altruísta de fazer bem, é um mero e soturno acaso.

 

O sonho pode-se materializar pela força do desejo?

 

Sim, não, talvez, concerteza, algures, provavelmente, quiçá. A força de acreditar não é uníssona ou bilateral. A força do trabalho, sim. A força do desejo, não. O tango é seduzido pela nota seguinte à sétima do acorde, pelo olhar, é encantado pela diminuta da escala, pela voluptuosidade da divisão do silêncio é nota maior, pelo espaço, é encantamento é menor.

 

As mãos dadas são adúlteras e desentendidas, depois de semanas dadas são doadas. É a dança do conjunto dos elementos que nos forja: ar, fogo, terra, agua.

 

Ar, pela descrença assimétrica do céu. Fogo, pelo metafórico inferno e pecado praticado na vida. Terra, no desenhado das raízes e crepúsculos vigentes, por um conto de adamastor convertido em boa esperança, depois de dobrado o bojador. Agua, pela imensidão dos terços dela, representada no planeta e metabolismo humano.

 

Ser poeta não é ser sonho. Ser sonho sim, é ser poeta. A poesia é como a matemática, o quadrado é sempre a raiz elevada dela própria. Tudo o que alcançámos antes foi sonhado pragmaticamente. O milagre do alcance do sonho está no conseguimento do que somos, sem sonharmos na metamorfose da quimera. A magia está no alcance da superação. Está na ressurreição. Está na desambição. Está no agradecimento.

Escrevendo

Escrever é lembrar para esquecer,

É sentir para purgar,

É rezar para perdoar,

É companhia ao isolamento,

É entendimento para o desassossego,

É paz para a guerra,

Ondas calmas e vento,

Mar tempestades e marés.

Escrever é,

Amar pelo sonho,

É sonhar que se ama,

É vida para a morte e sorte para o azar,

É sol para a lua,

Norte para o sul,

Hemisfério para o mundo,

Sal para o tempero,

Astrolábio, dissertação, loucura agreste e rima.

Frases são: amontoados de olhos do mundo,

Molhos de gente abraçada,

Braçadas de beijos repletos de oceanos.

Os pássaros do sublime céu,

Dançam melodiosos chilreares, abençoados pelas árvores,verdes e entroncadas de chão,

Escrever é nada e tudo,

É tao pouco e tanto,

Catedral e capela,

Esplendorosos relvados … e areal,

Montanhas,

Lagos e florestas,

 

Descrito assim … se escreveu.

A chave

Como se pode ter um problema de ego e auto estima em simultâneo? O ego como um problema passa pela necessidade de ver suprida de uma forma desajustada e nunca suficiente, as suas necessidades irreais. Auto-estima pode ser uma deficiente necessidade, como que meritória, depois da vitimização de necessidades reais, isto, num contexto de erro por decisão merecida. Uma ilusão fantasiosa e falta de filtro cognitivo projecta-nos para um eu inexistente, mas necessário e narcisista. Os egos são a razão de muito sofrimento, são lacunas do ego por sublimar. São gritos silenciosos por escutar. Sinais visíveis por vislumbrar. Sítios inventados. Realidades aumentadas. Vida diminuída. Depositar nos outros a culpa, aquietamentos, jogos mentais, pressão sanguínea em aceleração ou batimento cardíaco em descontrolo, é fraudulento. Antever no fundo é prever. Idealismo no sentido idílico da antecipação, calmaria e resolução. Não mudo coisa nenhuma. Não mudo o mundo, nem ninguém, mas também não me prostituo, nem fisicamente, nem emocionalmente, nem intelectualmente. Sou um homem atento. Algumas vezes não o fui. Já construí castelos que não arquitectei. Já arquitectei sonhos tricotados em madrugadas de acordes defronte do Tejo. No fundo, sou um ser normalíssimo. Sou azul de sonho, margem alargada, canavial, bolina. Um furação cristalino, opaco, de pensamentos impenetráveis, perspicaz e arriscado. Diz-me quem me vê, e, aí residem os meus momentos. Em quem me vê…

 

Guardas a chave,

Chave pesada,

Corroída pelas marés da vida.,

Inconscientemente,

Encontras a fechadura,

A que pertence.

Abres um cofre magico,

Secreto,

Onde guardo gargalhadas já esquecidas...

 

Entre o sorriso e a lágrima

Este soberbo espaço entre o sorriso e a lágrima não é néscio, não é ridículo ou obtuso. Este soberbo espaço é, vida viva. Já fui muito mais velho do que sou hoje. O tempo não é infalivelmente idade, não é fatalmente velhice, desastrosamente menopausa, ou inevitavelmente andropausa. Isso é apenas o que deriva num desgovernado e mentiroso delírio, na cabeça de quem se recusa a existir no tempo, como vida. Percepciono fugazes entradas de existência em mim. Num mesmo dia ocorrem-me nas veias, rios imensos e vorazes, correntes vigorosas, e vontades possantes. Eu? Eu deixo-me ir. Não adianta o desgaste da resistência que é perder-me a mim mesmo. Causas são causas, não passam de causas, eu sou muito mais, ideais. Solto-me sedento do que acredito. Aceito uma evadida fé que troquei por perseverança, trabalho, descontextualização e verdade. Não me traio, sou-me fiel, constante e coerente. Não represento ou falo de saudades por agradabilidade, não acho que possa ter o que não me pertence, ou ser de quem não pertenço. Pertenço-me antes de pertencer. Gosto de verbos. Conjungo o alento em dias e desenho pedaços harmoniosos de ser, que às vezes sou, outras vezes não. O resultado de ser não me pertence, pertencem-me apenas sonhos enfatizados e queridos, de muito querer. Na verdade já fui mais antigo com menos idade, e, dentro de mim, informal e a quem escolho, exponho de mim a música que componho e os poemas que escrevo, como se a vida sempre me tivesse sido progenitora.

 

Este soberbo espaço entre o sorriso e a lágrima não é néscio, não é ridículo ou obtuso.