À medida que crescemos não perdemos amigos, modificamo-nos. Reaprendemos então, e por força de um processo cognitivo/emocional/evolutivo, que os nossos amigos verdadeiros são os que, mesmo não gostando de tudo, em tudo, gostam de nós. À medida que caminhamos verificamos que a nossa pele estica ou encolhe consoante o peso que pesamos. Os amigos têm como normalidade encolher. Recordo-me ter vinte e cinco amigos do futebol, dezoito da natação, mais vinte da música, trinta e quatro da catequese. Por ordem invertida de factores tornei-me ateu, e, logo aí, perdi trinta e quatro amigos a quem eu apenas servia em número de fé, assim sendo, agnóstico, já não contava para a estatística e podia ir à minha vidinha. E fui. De seguida deixei de nadar em grupo. Acabou a idade do jogo de futebol. E fiquei só. Só mesmo só. Só de solidão. Só no meio de uma multidão e de um bairro. Outra fase. Os amigos do jardim-escola perderam-se para os do ensino básico, estes para o do preparatório, os do preparatório para os do secundário, os do secundário para os da universidade. Resolvo assim dentro de mim a questão existencial da volatilidade da amizade, se eu reparar, ela ajusta-se aos tempos e às vontades, logo, só existo e permaneço apenas, no companheirismo do momento. Cinco amigos são uma fortuna. Três, uma taluda. Um, um tesouro. Nenhum, uma miséria. Preservo na memória momentos. Guardo-os para sempre. Amando uma vez, ama-se para sempre, e os amigos amam-se. Mesmo que se mude a vontade aos tempos, mesmo que os beijos adormecidos no pensamento ainda saibam, ou o abraço defunto no tempo, ainda aparte o cheiro a mato rubro, amigo uma vez, amigo sempre. Mesmo que a vida nos separe, mesmo que ajudemos a vida a fazê-lo, na verdade é-se mais feliz sendo, que representando. Na verdade, choram-se mais as verdades com os amigos, do que se riem as noitadas. É-se mais serio do que não. É-se mais presente do que ausente. Um amigo sabe de ti, nós sabemos dos amigos. Se um amigo te perdeu, perdeste-lo também. È recíproco. Ser-se amigo não o sendo, não se é, não se poderá ser, ou nunca se foi, porque: Amigo uma vez, amigo sempre.
Posso ser mágico, pedreiro, artilheiro de fantasia, poeta, mecânico, ou até deus, mas jamais poderei ser quem não sou. Jamais me castrarei ou direi sim, quando quiser dizer não. Foi uma conquista que tanto e demoradamente me custou. Posso mesmo dizer que me atacou em créditos de sangue, suor e lágrimas. A vantagem de não me renegar, é saber exactamente o caminho que percorri, as noites que não dormi, e o viver na expectativa, do que ainda não me foi revelado. Essa primazia a longo prazo é-me vantajosa, porque me faz por inteiro no imediato, mas é uma atitude inconveniente e solitária.
A solidão não é a mesma coisa que estar só. Solidão é uma dor contínua, que nos azeda e ressabia. Estar só são momentos quase decididos, e como momentos que são, são instantes, logo vão e depois voltam. Hoje, no meio do bosque onde o cheiro a Outono já habita, e o fresco da manhã me desentope da civilização crescente, a que não consigo fugir, apeio-me da minha viravolta, olho o céu, elevo-me, mas não rezo, não rezo apenas porque não creio. Estranho. Sei rezar. Mandaram-me aprender em miúdo, mas não consigo. As palavras de uma oração, são para mim, como júbilos dilacerados, vozes que me corrompem. É como se ouvisse nessas palavras, as pessoas que as soltam, e que aos meus olhos não exemplificam, e, como limitado que sou, não aprendo sem exemplo. Não me basta ouvir. Preciso de fazer. Logo, não me basta saber que é assim que se faz, careço de ver saber quem faz, e como faz.
Encontro-me em plena crise existencial acerca do conceito, amizade.
Amizade, segundo consta e de uma forma simplista, significa afeição recíproca entre dois entes.
Ora, afeição é apego, gosto, inclinação ou parcialidade favorável.
Recíproco é, a troca mútua entre si ou permuta, ou compensação.
Agregando as palavras e analisando o objecto de estudo amizade, direi que amizade será:
Afeição recíproca entre dois entes, um apego, gosto, inclinação ou parcialidade favorável, com a constante e não a variável de ser, recíproca, uma troca mútua, permuta, ou compensação. O meu entendimento está a aguçar. Estou a começar a compreender. Mais que as palavras, amizade é um sentimento tão forte como o amor, pois do amor faz parte e vice-versa. Amizade é ser, estar, doar, dar, receber, presença, aceitação, perseverança, e isso faz com que:
Desço a avenida. Envergo um cartaz. Peço por paz. Espera-me um homem, Enche-me de porrada. Castigo divino. Deu-lhe o Gaspar. Nem férias. Nem natal. Nem subsídio vai gastar. Olhei para o lado. Fiquei estarrecido O homem que me bateu. Estava rendido. Gritava revolta. E a sua conversão. Esperava-o o colega. Cego de razão. Deu-lhe porrada. Filho da puta. Cabrão. E mais uma volta. Indignados à farta. Desce-se a avenida. E já não há farda. Os que antes usavam. Gritam por pão. Querem nos filhos educação. Querem um lar. E direitos humanos. A pouco e pouco. A avenida fez jus ao apelido. Liberdade. Igualdade. Fraternidade. Desce-se inversa a avenida. Já não há porrada. Mudaram de sítio. Pelos filhos. Descendentes. Do sentido primogénito. Esta não vai com cravos. Escutei. Que paguem os culpados. Soltem os operários. Marcha solidária dos embuçados. Assim se faz uma nação. Paz, pão, educação, saúde e habitação.
Às vezes apetece-me morrer, outras vezes não. Ninguém está preparado para morrer antes de perder a memoria e, esta, segunda consta, perde-se de trás para a frente, enquanto a vida se perde, de frente para trás. Não se parte enquanto se tem amigos. Parte-se, quando se muda de consciência. Partir este figurado, transfigurado, cadáver de dor solta, desprezado e silencioso. Quando a energia nos dá alento e os livros conhecimento, parte-se de quem fica desconhecido. Não é uma partida de partida, é uma âncora desamarrada, um ir leviano aos olhos de quem fica, aventureiro e sedento de quem parte. A partilha diminui o infortúnio. O infortúnio deixa de o ser quando aos amigos já não interessa ser afecto, mas apenas existir aos vocábulos. Acredito na verdade relacional mais do que na fantasia relacional da verdade. O sentir é fugidio, mas quando adiado, esfuma-se como um uivo de um lobo, em prol de gargalhadas desculpadas de um “agora não me apetece falar/sentir disso” e desfazem-se assim as palavras, em ironias breves, como escalpes adiados do coração. A minha relação com deus é muito conflituosa e enraivecida umas vezes, e resignada pela indiferença e a não compreensão, outras vezes também. Sinto-me por vezes grávido, esse estado de graça onde as ideias e os sonhos fervilham, como uma preparação para a mudança. Sinto me grávido nas mãos, na cabeça, no peito, nas decisões, nos medos e na esperança, mas nunca na fé. Tudo em mim se equaciona e resolve, é uma questão de gestação e amadurecimento, daí as minhas gravidezes e abortos fervilharam na minha conflituosidade com deus. Destroi-se para criar e cria-se para destruir. Na verdade já não me encontro em lugar nenhum, em sítio algum me encontro, vivo ou descanso. Redesenho a minha letra e evolutivamente agito o mar. Faço disto a poesia e aceito nos seus versos o destino.
Quando decidido me enfrentei, descobri em mim um tesouro e umas ruínas. Descobri um tesouro de sensibilidade que se transformou em ruínas, à medida que os dias se aglomeraram, nessa senda espaçada de tempo em crescendo. Descobri igualmente umas ruínas por edificar, uma margem enorme de criatividade, uma bolsa de oportunidade e a reconstrução de um palácio desconstruído, mas que se manteve alicerçado à terra, essa terra fértil, onde apenas se pode levantar do chão, uma obra sã. Descobri uma sapiência desconhecida mas análoga a esse desconhecimento. Descobri um menino e um idoso. Um homem e uma mulher. Um rico e um pobre. Um democrata e um fascista. Descobri um fado e uma canção. Um poeta e um prosador. Um delinquente e um justiceiro. Um amigo e um inimigo. Um negro e um branco. Um índio e um cowboy. Um pássaro e um peixe. Uma madrugada e o solstício. Uma onda e uma maré. Um lago e uma floresta. Uma pétala e uma flor. Reconstrução é: saber quem sou. De onde vim. Para onde vou. O que é a traição. O que é o amor. Lucidez e confusão, mas acima de tudo paixão, paixão pelo tacto e o bom senso, familiares que são da coerência.
Quando decidido me enfrentei, descobri em mim um tesouro ... e umas ruínas.
A fingir que está tudo bem, se vive. O tempo solta-se em brados pelas ruas e as esquinas da cidade ficam translúcidas nos encontros que marcamos. As pessoas encarnam sorrisos moribundos e olhares de soslaios invernosos. Ferve-me o sangue destroçado. A árvore, plátano centenário chilreia e agita-se por dentro das suas folhas. Amei-te, amámo-nos numa mesa de pedra por debaixo dela, madrugada embriagada aquela onde fingimos estar tudo bem. A passarada à solta espiou-nos mais os vultos que vimos passar. Em Outubro existe na lua nova, nos montes, nos rios, nas nuvens e no mar, o Outono. O Outono é a decadência e o declínio, o ocaso e o decrescimento. Os amantes do conhecimento apelidam-se de filósofos, loucos ou estranhos. Os loucos, excessivos ou arrebatados. Os estranhos, desusados ou misteriosos. Os filósofos excêntricos e lunáticos, ou mesmo indivíduos portadores de défice cognitivo. Tanta mentira, prenhe de tanta verdade. Os amantes por si só, carregam dentro do peito um mar incendiado de emoção, um pranto incorrigível, e uma enxurrada de incertezas transformacionais, como o fogo do olhar primeiro. Aquele olhar. Aquele abraço. Aquela pose inundada de ti, a fingir que está tudo bem.
A negação do desenvolvimento social da juventude está nas ruas. Estudar ou não estudar vai dar no mesmo. Desemprego. Esforçar ou não esforçar tem o mesmo resultado, mediania que se torna numa imagem de esforço com uma boa recomendação, a chamada “cunha” de uma forma dissimulada.Aprender não é importante e não aprender até tem a sua importância, retorna-nos ao tempo em que tínhamos um povo feliz pela desinformação e analfabetismo.
A pouco menos de duas horas de viagem temos um exemplo bem vivo disso. Onde há a maior taxa de abandono escolar? A maior taxa de analfabetismo? De alcoolismo? De subjugação eleitoral?... Na Madeira esse paraíso à beira mar plantado...
A Madeira escondeu 1.113 milhões de euros em despesas, que deveriam ter sido reportadas às autoridades estatísticas, mas foram omissas.
Comparando, o "buraco" da Madeira é superior à receita que o Governo vai arrecadar com o corte no subsídio de Natal este ano, que ascende a 1.025 milhões de euros.
Os cortes previstos pelo Governo nos sectores sociais também ficam além desta omissão do Governo do Alberto: no Serviço Nacional de Saúde, o corte é de 810,2 milhões de euros; na Educação, o valor é de 506,7 milhões de euros; na Segurança Social, o valor chega aos 205 milhões de euros.
Foi descoberto um desvio orçamental da magnitude de € 1.880 milhões, que corresponde a 1,1% do PIB.
A composição do buraco orçamental, é a seguinte:
1.) € 783 milhões em derrapagens com salários e outras despesas; 2.) € 500 milhões provenientes da contracção das receitas fiscais; 3.) € 320 milhões do BPN; 4.) € 277 milhões da Região Autónoma da Madeira.
O buraco orçamental vai ser tapado da seguinte forma:
1.) € 840 milhões do Imposto Extraordinário (Subsidio de Natal); 2.) € 597 milhões da Transferência dos Fundos de Pensões dos Bancários; 3.) € 343 milhões dos Congelamentos das Progressões dos Militares e Forças de Segurança. Antecipação das Concessões previstas para 2012 e Cortes adicionais na Despesa; 4.) € 100 milhões da Antecipação do Aumento do IVA sobre Electricidade e Gás.
O que me causa perplexidade, neste caso, em concreto, não é o Desvio Orçamental em si, mas o facto, do Desvio Orçamental ter sido apresentado e explicado pelos 3 peritos da Troika. Fiquei na dúvida, será que Portugal tem um Ministro das Finanças com 3 excelentes Assessores ou será que temos um excelente Cicerone com 3 Ministros das Finanças?
“Conhece as taxas de analfabetismo da Madeira? Sabe quais são os que ficaram na Madeira e quais foram fora daqui? Só cá ficaram praticamente os analfabetos, por isso votam no Dr Papadas, tal como os cubanos votam cegamente no seu Fidel Castro e continuam a viver na miséria como muitos Madeirenses vivem. É amor cego por um político desactualizado, atrasado no tempo e quem se vai lixar são os meus filhos e netos! O Dr Papadas manteve o seu eleitorado fiel 30 anos com paus de espetada e vinho seco pago pelos contribuintes europeus e continentais e para arrecadar o voto daqueles mais escolarizados, deu-lhes tachos na função pública e negócios sem concurso público”. In mamadeiralaranja.blogspot.com
O homem entrou em “delírio gerôntico”, se não lhe tiram a carta de condução, continuará a conduzir assassinamente.
O que sabe o Alberto que nós não sabemos, o que sabe ele, que todos acabam por lhe enviar o cheque e calar.
O que saberá o Alberto?
Soube hoje da forte possibilidade de voltar a ter mais de 50% dos votos.
Estou agoniado.
É tudo a mesma carneirada.
Vou-me drogar.
A negação do desenvolvimento social da juventude está nas ruas, à conta destas merdas...
Sim, estou sempre, respondi. Mesmo acompanhado estou só. A minha cabeça traiu o meu coração. Já estou esbatido deste sentir, o fogo percorre-me a cara, sinto-me quente. Empedradas, as minhas mãos estão calejadas. Presumo que o amanhã será como anteontem. Envelheço por dentro mais rapidamente que por fora. Também é certo que jovial me encontro, perante os demais da minha geração. Mesmo não vivendo de acordo com a fase em que me encontro, vivo. Eu sou de viver, não sou de existir. Existir, existe todo a gente. Viver, só vive quem escolhe. Há “coisas” que são autênticas montanhas russas na minha cabeça. “Coisas” vertiginosas. “Coisas” descabidas e sem sentido. Um dia tive um amigo que fugiu. Fugiu das noitadas dos amigos. Um dia sem sentido levaram-lhe os quadros por dinheiro da sua arte, quando apenas companhia seria necessário. Um dia, os meus amigos do meu amigo, pactuaram com a sua misarabilidade interior, raiada de vulnerabilidade, vertendo anti-discursos, acenados com sins desassertivos. Um dia percebi a sua fuga feita de entrega, era o caminho mais fácil e melhor. Antes lá do que cá, acredito que meditou. Um dia afastei-me e foi por aí que tudo começou. Um dia, senti-me abandonado sem saber porquê. Um dia, as minhas palavras tornaram-se aborrecidas. Um dia, fiz-me lembrar que “quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar”. Um dia, o meu amigo voltou e como já não é social visitá-lo, está com os companheiros que escolheu, numa sala pequena, sem nada, sem ninguém, apenas o acompanham as suas escolhas. Estranho, quando nos sentimos únicos e abençoados pelo bom senso, pela coerência, e conseguimos acompanhar-nos mesmo sós.