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Cardilium

Cardilium

Beijos a uns e abraços a poucos.

Antes o tempo corria lento. Agora os dias sombreiam e o tempo esbraceja como se uma nuvem ou nevoeiro castrasse os dias em horas e as horas em minutos sucessivos e redutores.

 

Esconder-me por detrás de um nome de outra pessoa, é tão cobarde como assumir-me no nome de alguém igualmente. É doentio, e é explicado pela psicologia como transferência e má gestão relacional com o ente que o pratica.

 

Esta dissertação tem um alvo. Um alvo com incidência central e pontual à medida que se aproxima do epicentro. Esta breve introdução é dinamizada pela indignação que sinto por alguém que me é querido ou foi, se esconder numa personagem querida de mim e postar neste meu blog cardilium, sentenças ou meras e discutíveis opiniões, em que eu por sinal até sou receptivo e aberto, porque uma discussão no meu ponto de vista, é uma oportunidade de me aproximar e nunca o contrário. Preservo a liberdade de expressão, especialmente a livre, construtiva e criativa, é prazeiroso para mim tê-las. Mas só as concebo “face to face”, de uma forma corajosa e assertiva, plural e pluridimensional. Agora esconder-me, disfarçar-me ou transferir-me para outro, já basta o meu alter-ego e o trabalho de estabilidade que ele me dá.

 

Por conseguinte caro leitor ou fã, post´s são bem-vindos e recomendam-se, mas assinados pelo titular. Com este pequeno acerto e acervo me despeço por agora, saudando de uma forma glorificada quem me quer bem. Quem quer que seja está perdoado pela “desimportância” que tal facto me merece, a quem simplesmente e numa atitude de cobardia me lê e espia, ou espia e lê.

 

Outra particularidade de não somenos importância é o seguinte esclarecimento:

- Estas singelas palavras ao longo destes modestos seiscentos post´s baseiam-se única e exclusivamente num amor sincero às palavras, às minhas observações, sensibilidade, ficção, e experimentalismo de estórias e da minha história como património emocional.

 

Beijos a uns e abraços a poucos.

A tua chegada foi o regresso da tua partida

Sórdida,

Amante,

Proxeneta,

Emoção,

Mentirosa,

Duvidosa,

Traição.

Pintado olhar,

Negros lábios,

Sorriem,

Severos.

Ironia,

Um homem,

Só quer,

O que não deve ter,

Loucura?

Sobra.

Nos lençóis alfazema transpirados,

Quanta verdade na lágrima te espera?

Perdoados abraços,

Ribeiros de pétalas ardentes,

Searas de vento cortadas,

Como veias sufocadas,

Esperando,

Olhando o teu acordar regressado.

Homem duro,

Envelhecido,

Guardaste a paz para mim,

Deita-te aqui,

Sossega.

O teu caminho amainou,

Vou soltar borboletas em tua honra,

Vou lançar amarras na ponte.

A tua chegada foi o regresso da tua partida.

Sossega,

Cheira a giestas,

Aqui é o teu lugar.

De manhã irei depositar flores amortalhadas,

Jarros com orvalho.

Como estão embaciados os teus olhos!

As mulheres?

São púrpura,

Negras,

E vermelhas.

Com a luz da lua ao invés do sol

Hoje, um sonho distante e presente pôs-se com o sol.

 

Queimou-me. A tristeza é apenas uma sensação de desconhecimento. As rugas escorrem-me pelos olhos abaixo. Mato de mim esta fantasia cristalizada. Vou acordar antes do dia romper e transformá-lo numa dádiva anti-divina. A passarada recolhe-se dos grossos pingos que do céu provêem. Antes o sol torrava. Assim estão os meus olhos pintados, de uma clara esperança transformada num escuro colorido, olharento. O deserto fascina-me. Vou até lá. O silêncio tórrido do dia e a aridez fria da noite cambaleiam nos meus sentidos. As estrelas no deserto são como pérolas, com que engrandeço um colar imaginado que devolvo. Uma duna é mais do que uma montanha e muito mais dolorosa. Subi-la, é enterrar cada passada, cada passo revoltado na areia. Subi-la, é deixar de mim toda a miséria. Todo o infortúnio, todas as oportunidades. As dunas não têm fim no Sahara. São eternas e melancólicas. Subtis e agrestes. Quentes e longínquas. Secas e amargas. Doces do tamanho do encanto. Uma febre repentina assolou-me em Timbuktu. Estive tão fora de mim por ferver. Alucinar é um estágio que guardo. A loucura já morou dentro de mim. Saiu aos poucos, sem que me desse satisfação. A loucura continua a visitar-me, “mas noutra onda”, mais respeitosa, mais delicada. Bamako ficará comigo até aos cinquenta anos, depois partirá comigo de lá, da sua própria terra excomungada. Terra banhada pelo Níger de margens negras de negros. Terra encantada de cânticos pela madrugada.

 

Ontem, um sonho distante e presente pôs-se com a luz da lua.

Seria um olhar suficiente para te lembrar...

A maior estrela cadente que vi foi a teu lado. Era verão. Foi no nosso ultimo verão. Madrugada era o tempo que fazia, mais o teu calor em debandada. O sul ficava a norte. De África acenava-nos o vento, que trazia o teu cheiro forte, novo, e desconhecido dos teus seios. Trazia o teu perfumado e frequentado ar cândido. Adormentada, a tua vida emprestava sentido à minha. Desejei que o Alentejo não acabasse nunca mais, e que Trás-os-Montes existisse para sempre no meu leito. Mas tudo tem um fim. Tudo tem um, e o momento. A nossa hora mesmo existindo, acabou. São as memórias de futuro que me acorrentam aqui e não me deixam seguir a minha circum-navegação. Não dá, não consigo, já não sinto prazer senão comigo, e só às vezes. Cansado, não me quero deixar de sentir cansado. Das oito às vinte quatro vão dezasseis, sobra pouco, sinto muito. Alucino e vejo-te ao dobrar de cada esquina, no decorrer de cada paisagem, em cada verso que invento, em cada serra que traço, em todos os acordes de uma pauta de jazz, o teu abraço sufoca-me de distância. Amei pouco, tentei muito, errei bastante e acertei uma. Não sabendo de ti ou de mim, sinto que ambos sabemos que a vida foi um momento. O que nunca te disse escrevo, e o que escrevo no silêncio, seria um olhar suficiente para te lembrar.  

Parte do que me sobra

Prende-se atrás do tempo a vontade. Uma candeia mantém ténue uma luz que teima não deixar de brilhar no sopé da minha existência. Dentro de mim encoleriza-se este remorso. Prende-me, vá, prende-me. Não me prendas, não me amarres. Solta-me e solta-te de dentro de mim. Brado a ti mais que aos céus. Límpido este olhar seco e longínquo, esvai-se na ira da planície, ainda a sementeira está grávida sem se saber. Sem ela saber.

 

Porque não te fiz um filho?

Porque não me fizeste um filho a mim?

 

Esta noite, pela doçura da madrugada, embriaguei-me. Doutra forma não teria adormecido, cegavam-me os pensamentos, apertavam-me num sufoco as tuas mãos e a saudade queimava-me, a solidão esganava-me, e já não conseguia respirar. Fui salvo por três tragos de aguardente. Fiquei lúcido ao primeiro gole, os restantes foram para me confirmar. Entediado com estas palavras, deposito aqui parte do que me sobra, parte do que me falta. Eu vim de longe trazido e salvo por amigos. Já estava meio sepultado quando me acordaram e me fizeram crer, e me causaram querer. Tenho saudades de dançar uma balada e de me embalar no mar. De boiar de costas, de olhos fechados, com o peito inchado de prender a respiração, sem querer saber se a nordeste está temporal, se a sudoeste a bonança. Partem de mim milhares de rumos por hora, chegam a mim centenas de olhares que guardo, teus. Guardo.

 

Resguardo aquele quadro pintado na planície, defronte ao mar anil, espumado nas rochas do alto do nosso cabo.