Não sei, respondi. O frio e o vento não me parece, mas o frio e a ventania têm-no certamente. São plural e géneros que se complementam.
“Não percebeste. Perguntei se tinham sexo no sentido de terem sexo em si, e não de serem ou não sexuados”.
Ah ok. Já entendi. Então têm sexo e são sexuados.
“Questiono-me se serão homossexuais tal é a sua cumplicidade” insististe tu.
Não sei se são ou não são, não me interessa, sinto que são felizes, isso basta-me e abona-me. Já assisti a um concerto dado pelos dois e sei que são felizes, asseguro-te. Senão vejamos: - o vento sopra ligeiro em mi bemol numa tarde de Outono, e o frio logo pressentindo a festa galga desenfreado sobre ele. Juntos criam uma fusão tresloucada e arrepiada. Dançam muito, dançam tanto, e tão bem.
E o mar?
E o mar espião delicia-se em movimentos fortes e lânguidos, arrebatados e suaves, como dois amantes num mundo desocupado. Finalmente e como agradecimento a lua aplaude, lançando ondas brancas desordenadas, vigor e arco-íris, para se juntarem ao deleite, juntos os elementos desmaiam num orgasmo frenético e ruidoso ao abraçar uma praia de dunas de areia acariciada.
Falo-te de vento e de frio quando deveria falar de calor e chama...mas isso fica para a próxima. Chamas-me louca? Talvez seja...mas confesso que é o que mais gosto em mim...a minha loucura, disse-me o céu segredando e arrepiando-me ao ouvido!
Pára. Pára de te chicotear com esse teu espírito aventureiro. Pára de sentires que o amor morreu em ti. Que tentas e não consegues. Que apenas e egoisticamente sentes saudades tuas e do teu “sítio”, esse “sítio” que te guarda e embala. A circuncisão com o mundo é real. Esforças-te durante as horas que tens que te esforçar. Rapidamente a saudade do teu mundo te invade, sufoca e massacra. Só jazes por lá, “no teu sítio”. Amaste o que tinhas que amar e foste amado o que tinhas que ser. Agora soçobra a multidão que te habita e faz de ti obra sua, assinada de essência tua. Não crês, não crias. Apenas deixas sair de ti essa criação que escondes e te envergonha. Não te tens. Não és. Sentes desajustado. Entre-os-rios a noite e a lua continuam sábios. Precisas dos teus silêncios e dos teus rumores. Aceitas e acedes. Já não lutas. O teu desentendimento é apenas os olhos de quem não te avista. O teu acertamento, é a aceitação que em ti existe mil anos por descobrir. Jamais poderão decidir por ti, querer por ti. Jamais poderás ser feliz aceitando as escolhas que não fizeste. Tu queres. Tu tentas, mas dentro de ti o fogo e a água misturam-se, e o fogo não se afugenta. Dentro de ti a miséria e a fartura encontram-se na mesma mesa. Dá-te sossego. Dá-te alegria. Dá saltos e piparotes. Dança. Canta e toca. Põe melodia no teu olhar. Abraço terno e paciência. amigo J.Fogo Homem.
Não gosto do Eng. demitido é público, os meus amigos mais próximos sabem-no. Mas detesto o próximo. Faz-me urticária. Não vislumbro saída. Não existe qualidade intelectual ou política. Quem provavelmente nos poderia ajudar não entra em politiquices e não quer nada disso para a sua vida. Fico apreensivo com o que aí vem. Se mal geridos estávamos, mal geridos vamos ficar. Enfim logo se vê o que isto vai dar.
O rio pranto espraia-se entre verdes subidos e profundos feitos de erva, e rebenta em cascata no teu peito, foz do meu. Os teus cabelos ao vento reflectem a sombra do teu movimento. O prazer de te possuir relativiza o ferimento de não te ter. Aguardo mansamente os dias feitos de tertúlia das semanas, embriaguez e demência da viagem consumada, da planície que me leva de ti e até ti, que me eleva e tortura, que me fere e agoniza. O meu cheiro é o teu corpo enrolado no meu. Bandos de ventos agrestes sopram-me o teu nome. Pranto. Rio pranto, quero uma noite sem mágoa e madrugada, um nascer do sol sem se pôr, uma vida sem a morte e um caminho sem viagem.
Falei com uma mulher sábia, sabedora de tempo, que lê as estrelas e a chuva como se uma cartomante fosse, a Dona Nazaré.
Respondeu-me assim: - ”Pranta-lhe um xaile pelas costas e quebra de ti ao mar, agasalha-te da nortada, que a maré vai passar por aqui, a tua alma está nua, o céu calvo e adormecido, faz mezinha homem do senhor”
Os limos são escorregadios como tu. Tento apertá-los entre as mãos. Fogem-me. Foges-me. Amor descompassado e inerte. Deambulámos por tantos bairros cheios de fumo, luzes, pó, putas, polícias e rusgas. Tudo. Tudo se fez de mim e eu de tudo me fiz. De desamor, de escuridão e prisão. De amor, luz e liberdade. De procura. De encontro.
Sento-me e espero debruçado sobre mim próprio carregando-me. O vento passou apressado por aqui, agora mesmo. O céu está translúcido. Vê-se para além dele próprio. Nunca o tinha visto assim, transparente. Também nunca sentira sob os meus joelhos o peso da minha alma. Estremeço quando olho para o azul paraíso e vejo do outro lado a continuação do mundo. Vejo as pessoas de cabeça para baixo como se caminhassem ao contrário. Sinto-me louco, como se uma droga fortíssima me dominasse.
Será que a loucura se instalou em mim, ou o que vislumbro existe?
Esta transparência de mim mesmo e do céu, precisa ser arrancada antes que o inverno se apodere frio e cruel, do meu coração. Em campos floridos dançam as árvores de que fujo. Abraço-me e enrolo-me na terra. Não quero ver, nem ouvir. Preciso de acordar e purgar-me. Uns olhos azuis fitam-me serenos. Estendo a minha mão. Acalmo-me. Sinto presença ali. O medo alvorou e sinto um mar calmo invadir-me. Uma luz forte de um sorriso embala-me. Um afecto, um afago, uma voz sabedora da ausência do meu medo, aconchega-me, com uma palavra dita:
- Filho, estou aqui. Sempre soube que te encontraria, e mais, sempre soube que te encontraria, salvo. Foste tu que te salvaste. Pelo céu rompido a que tu chamas transparente, vi o sal das tuas lágrimas e a solidão do queixume gemido, esfaquear-me o peito. Só tive que te estender a mão, porque tudo o que tinha que ser feito, fizeste-lo. Sempre o soube. Sempre soube que o inferno seria a salvação. Sempre vi um furacão arruinar-se em bonança. Sempre acreditei na intensidade sôfrega da tua sensibilidade. Uma pessoa como tu, não pode ser uma má pessoa, apenas pode ter más atitudes. És genuíno, e como eu sei tão bem, a dor que é ser genuíno neste mundo. Fizeste o teu caminho. De agora em diante filho, jamais o inverno te afogará nessa chuva que ainda está por cair. No próximo verão nunca te secará a boca de espasmos. A tua travessia está concluída. O teu mar será marés sempre vivas, mas tu já sabes navegar e ler o vento. Já sabes orar com a lua. Já sabes adormecer no meridiano da tua decisão. Já sabes existir em ti mesmo. Era isso, não sabias existir dentro de ti. Como S.Lucas me relatou és pródigo, e ser pródigo é ser generoso, liberal e magnânimo. Vai, voa.
É bom estar ali de madrugada com o rio a passar-nos por trás, a ver as luzes do bar e os roufenhos gritos existentes. Dádiva esta noite de amigos. Como de costume madrugada fora e por desistência sobramos eu e tu. Começamos lá atrás e devagar atracamos no hoje. E tanto que já vivemos. E tanto que já passámos, e tanto que nos zangamos e abraçamos. Rimos cúmplices de conhecimento. Falamos dos nossos pais e filhos, das nossas mulheres amantes. Da nossas viagens recentes como esta que aqui sentados fazemos. Falamos nas nossas músicas e poesias, dos nossos tratados como património emocional, da debandada que foi o passado e do prazer do momento. Mais à frente ouvem-se as roulottes abafadas de gente esfomeada, e nós ali serenos, agasalhados do frio das quatro da manhã. Sítio mágico este, o rio, o açude, os bares lá em cima, as pessoas movimentando-se e nós ali no muro pertença das nossas conversas. Preciso de um noite destas de seis em meses pelo menos, não é que não a tenhamos, mas assim, só eu e tu, sem mais ninguém, de madrugada, e com o rio como testemunha. Abraço amigo.
Tanto que passamos juntos mais o mar. Prolongamento de mim. Elevas-me. Ar do ar que me aquece, brisa do vento que me tempera. As noites são os metros quentes que percorremos. Os dias são o sangue da vida que nos une. Baralho-me e confundo-me com os raios que me cegam ao entardecer. Já gosto mais dos amanheceres, do que dos entristeceres. Há semanas deitei-me num pedaço fresco de relva, onde me guiaste. Entre as rochas, a água corria em melodia. Senti o meu corpo ausentar-se da minha massa corporal. Como se a minha alma adormentasse, mantendo-me eu acordado. Paz feita daquele momento. Entre arribas e vales os dois fecundamos. Não sendo, tu um ser vivo, concebes vida em mim. Não sou de concentrações e essas coisas, com “gajas” de mamas ao leu, iron maiden, e “mines” a correr em bica, escorridas peito abaixo. Acho que tens orgulho no dono que tens. Eu e tu, mais ninguém. Os dois decidimos e escolhemos os carreiros. Somos anti-social, um apêndice das nossas vontades, adoptamos estados, sítios, sóis, luas e girassóis, perfilhados e doados de vida. Não sendo um ser vivo, já senti saudades tuas, arrepios por ti, um nó na garganta, uma vontade imensa de ti, os olhos flamejados de saudade, sudação cutânea, e tesão. Uma tesão imensa de te montar e ir por aí, tantas vezes, mais que sempre, sem saber se pela direita ou pela esquerda, se por cima ou se por baixo. Apenas sentir-te entre as minhas pernas, apertada nos meus joelhos, com esses 750 CC desfraldados ao tempo, que me guiam, mais do que são guiados. Admiro-te, tens de mim a promessa de cuidar de ti, até que possa em ti subir e montar-te. Fiz uma pasta no Facebook nossa, eu e tu e: