Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Cardilium

Cardilium

Sentir farto

 

Instalou-se um sentir farto. Farto de um querer tão farto, como farto de um não querer, tão farto de sentir. A intuição comanda-me os sentidos. Dolentes por um sentir de querer. Embalado por uma música que ruiu nos momentos e afaga os instantes seguintes, fartos de ocasiões. A ambiguidade gere os meus dias. As noites, juntamente com a senhora madrugada, num sonho inventado e descoberto, acompanham-me. A madrugada trouxe-me a notícia em jeito de boa-nova. Envenenada. Adivinhada e sentida.
 
Passeio pelas noites agraciadas p´lo um ar quente que o mediterrâneo exala. Uma luz encaminha-me pela noite cheia. Os barcos salpicam o cais ténue de luzes que aguardo. O firmamento desconjuntou-se aguardando a ordem de regresso a mim. Falta-me o pé nesta maré de enxurrada. O sono não me acompanha. É vespertino este vulcão desconcertante de lama fervente. Aguardo enquanto deixo o meu cérebro comandar o coração. Volto-me em mil voltas desconfortáveis, na esperança do conforto que não tem hora marcada. Virá quando fôr o momento.

Abraço urgente

 

Dá-me um abraço urgente,
Pela urgência do abraço.
Decepa-me desta gente,
Raiva sorrateira, construída,
Dá-me um abraço urgente.
 
Dá-me um abraço urgente,
De amigo, de verdade.
Vil dor que se sente,
Confusão, culpa e erro,
Dá-me um abraço urgente.
 
Dá-me um abraço urgente,
Madrugada, ilusão,
Incorporada e quente.
Vem ter comigo amigo,
Dá-me um abraço urgente,

O meu primo carlitos

 

Não sei se todos têm um primo como eu. Tipo exemplo. O Carlitos. Eu tinha. Sim, tinha porque já não tenho. Ainda é vivo mas não me é nada. Desfamiliarizei-o. Todos os Invernos no mês de Dezembro, mais propriamente de vinte e quatro para vinte cinco, as marafonas das meias aos losangos a largar pêlo, lá estão depositadas em nome dele. O comentário anual é igual, vindo da minha mãe: - “não sejas assim”, após a minha observação habitual e também anual.
 
Acabou de sair da minha frente. Vê-se que está de férias pela indumentária. A bela da calça de fato de treino, os ténis fluorescentes e uma t´shirt de marca desportiva que não vem ao caso. Gostei do respeito que demonstrou por mim. Falou aprovadoramente do meu título honorífico. “Ó Carlitos vai-te f……” gritava a minha cabeça num ruído que me cegava e ensurdecedia. Cago de alto para se a tua mãe (minha tia) teve um avc, dois, três ou dez. Que raio tenho eu a ver com isso.
 
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, é bem verdade. Estás velho, feio e barrigudo e já não és exemplo. És o mesmo totó que sempre foste. Um menino da mamã queixinhas e fateloso. Eu continuo igual. Irónico. Desafiador. Desafio-me a mim mesmo. Ainda estou a caminho. Só pararei quando não puder mais. Carlitos por mim…. Vai morrer longe. O teu pai era o único de jeito nessa puta dessa casa. Deus o lá tenha, morreu cedo. Quanto a ti e mais uma vez …. Vai defecar à mata!... Ah e leva a Ludovina…….E o Pedrito. A tua vida sempre foi de tantos “inhos” e “itos”….

Mais logo Kusturica!...

 

 
Numa esteria colectiva o paredão passeia as tias. Os cães abanam-se vaidosos olhando de soslaio os rafeiros junto aos caixotes do lixo. Cães amaricados, vestidos e penteados. Os do caixote são elegantes. Têm amigos em vez de donos. Eu sou um cão vadio, não tenho dono. Gosto mais dos cães dos caixotes do lixo e de crianças. Sentado ali na marginal passa várias vezes o mesmo cão apaneleirado com a dona pela trela, ambos se abanam em tons rosa chock intragável e perfumado intenso, de sandálias brilhantes a condizer. Gosto dos hippies, não adoptam cães de marca, cuidam-nos.
 
Do outro lado da rua um arrumador faz-me um sinal. Leva dois dedos à boca em sinal pedido de um cigarro. Dei-lhe três e meti conversa. Dei-lhe sinais. Ficamos amigos. Falei-lhe de mim e ele ouviu-me. Ouvi-o também. Sabe viver na rua e não ter amigos, mas quer uma casa e amigos também. Não sabe se sabe. Mas precisa. Não sabe até se quer. Sei disso. Sei o que é não saber. Sei o que é não saber se se quer. Disse-lho. Olhamo-nos numa piscadela de olhos, cúmplices do mesmo dialecto. Mandei abraço para o Steve.
 
Mais à frente uma mulher de preto lia a sina aos que passavam. Um malabarista doava a arte de parecer ter quatro braços. Outro cuspia fogo pela boca sem se queimar. Um rapaz ainda novo de cabelo comprido e chapéu de feiticeiro, marionetava um casal de marionetas, embrenhado numa história inventada e encantada. Uma mulher elegante e cor muito morena dançava. Ouviam-se flautas encantadas. Os turistas passam descompassados. O paredão espiado pelo mar e o sal tem mil histórias guardadas. Historias observadas de vaidades e simplicidades. Historias. Estórias.
 
Até para se ser cão é preciso ter sorte!..........Mais logo Kusturica!...

Pensamentos do Cardilium a´nexos II

 

Cheguei agora à minha ilha, vindo do desfraldar dos moinhos empurrados pelo vento. Escrevinhei numa ânsia que me acompanha, questões filosóficas que distam o ter, ser, sentir, ver, desprovido e consumo.
 
· Não ter o que tenho e ser infeliz é renegar o que tenho de felicidade. Ter a ilusão do que tenho é não ter a lucidez do que não tenho
 
· Ser aquilo que não sou e não aceitar o que sou, é ser uma imitação do que não sou. Pode alguém ser quem não é?
 
· Sentir de dentro forte é a singular forma de não sentir o vazio.  É rejeitar sentir o que se sente.
 
· Ver não é olhar. Olhar, é ver por ver. Ver, é ver com o olhar.
 
· Desprovido é ter a audácia de perder para ganhar. É ter congruência, alma e fé.
 
· Consumir é o tapar emotivo do buraco de não se ter, ser, sentir, ver e desprovir.

A falácia complementa-se?

 

A força do que acredito é inesgotável. Desacredito no encantamento de possuir. Encanto-me pelo desprendimento e a facilidade com que a lucidez me enlouquece. Falo neste canto quase anónimo dos meus pensamentos peculiares, naturais e intrínsecos, que não são entendíveis na maior parte das vezes, ao discurso dos meus amigos mais distantemente contíguos.
 
Vivo viciadamente numa individualidade que prezo, mas que sei ter um preço. Dividi-la seria um preço muito alto. A lua meia em crescendo, ilumina a noite tão forte quanto a cheia. É sempre minha a forma com que me olho e revejo. Sou boa pessoa. Sou único, especial e diferente. Não há ninguém como alguém. As diferenças são ou não incompatíveis? Não o são na pessoa do outro, mas são-no na perspectiva individual do admirar e contemplar. Gasto-me como os outros e os outros gastam-se como eu.
 
As pessoas não são coisas que se têm e se deixam de ter. Se se teve alguma vez, ter-se-á eternamente, mesmo não tendo. Se nunca se teve, nunca se terá. Os timbres alteram-se e alternam-se, tal qual as alternadeiras de bandeja não mão, num qualquer sitio onde se vende ilusão. Compra quem quer, necessita ou acredita. A humanidade tem escrito e descritos direitos em artigos. São trinta, e ensinam como deve ser tratado um ser humano.
 
A Bíblia salvo erro também tem, ou tinha ou teve. Como tudo. Ou é, ou foi, ou não foi e será….A velha questão da efemeridade não ser definitiva e vice-versa. Uma mão cheia de tudo e outra cheia de nada. De besta a bestial e de bestial a besta, em breves momentos, distintos, longínquos e próximos. Acreditar e desacreditar é no fundo a mesma merda… É tudo a mesma carneirada …. A falácia complementa-se?

Estou aqui para sempre

 

Uma criança corre verde num prado solarengo no cedo da manha. Sentado, encostado numa arvore dedilho a minha viola e teimo em fazer um poema que não sai….

 

De repente vinte anos desapegam-se. Salta menina linda, a paz ainda é tua, não deixes o teu crescer, furtar-te essa arte de dançar e adormecer. Corre sonho meu, que me dás vida, alucinas e encantas. Sei que está na hora. Vais voar. Vais migrar no teu … no nosso sonho. Sei que estás grande, que chegou a momento.
 
Os dias passam numa correria desenfreada em direcção a outra cidade, outro ritmo, outra experiência. Fico, mas vou contigo, estou lá, estou aqui, para sempre.

Brando ... Brandíssimo

 

É patético historiar vivências de outros entes. Tontaria pegada não calçar os sapatos de quem faz o percurso e refazê-lo. Displicente e anárquico, incoerente, achar saber-se o sentir de uma ditadura vivendo em liberdade. Por esta linha de raciocínio entendo assim os laranjas e os rubros alaranjados deste País. Entendo o pôr à margem a oposição dentro da semi-oposição, para eleger o opositor. Assim sendo Morais Sarmento & CA, Passos Coelho e afins, ficam sossegados antes que azedem o cozinhado que está em lume brando. Brandíssimo. PS agradece na pessoa Socrática.
 
Os poetas irão continuar a escrever sobre o Amor, o sonho, a liberdade e a evasão. As peças de teatro continuarão a ser escritas. Os talentos continuarão a emigrar Europa fora, ou adentro, como se queira. Seremos cada vez mais seres (continuaremos) analfabetos, doentes e ladrões, por analogia com o “infuncionamento” da educação, saúde e justiça. Já nem o futebol anima a malta. E o rock and roll está em vias extinção e a música de intervenção abalou para parte incerta.
 
Este País é um autêntico filme pornográfico onde todos se fornicam uns aos outros sem protecção. Como tal infesta-se a forma de estar, sentir e calar. Não tarda a PIDE tem uma estátua em Santa Comba Dão, lado a lado com a recém erigida e Salazarenta e voltará ás esquinas do vislumbre para nos arrecadar. Os que falam e pensam que se cuidem, pois não terão tratamento de pedófilo ou de burlão quando arrecadados. Porque um preso político é um preso político, uma ameaça activa, neste País de pelintras intelectuais que decidem por nós, em maioria.
 
Borra-se-me a escrita de lágrimas………

“Dai-nos a paz”

 

Refúgio emergente do vento e saudade em fervença. África incendiada pelo gosto escapulido e quente, árduo e vadio, evadido da noite num mar urgente. Invadido, difícil e toante esta alegria de espuma, feita de luz. Encanto e sedução carregam esta lágrima num sorriso ténue e arrebatado. Abjecta pura ilusão o tender idílico e imaterial. O mar revoltoso de bem, fere a rocha que se esbate numa cor cada vez mais escorregadia e verde. Subelevo de admiração intrínseca a imensidão do abismo, visto da ilha que inventei existir. “Santa Maria Mãe de Deus” sussurro. “Dai-nos a paz”, grito. E em enlevos de brilho, peço a Deus que me guarde os que Amo. Em êxtase retiro-me e adormeço, ciente que a liberdade pela madrugada rompera afora os seus pergaminhos. O mundo apregoará o dia. África acasalara o mar com as marés. Estou prenhe de solidão.

Pensamentos do Cardilium a´nexos

 

- Aprender sem pensar não subsiste. Pensar é um acto contínuo no processo de aprendizagem.
 
- Pensar sem sentir, ou sentir sem pensar, é dúbio na forma e no conteúdo. No entanto o conteúdo é implícito na forma de pensar e o sentir explicito na forma de o fazer.
 
- Quem usa o tempo faz dele um aliado, quem o gasta um inimigo.
 
- O que não é vontade acontece primeiro. A vontade será por ultima a primeira.
 
- Deus como manifesta cobrança de desejos, não é nunca a junção de factos e coincidências. Deus como convicção é o reparo dos pormenores.
 
- A minúcia não é um caminho. Ensinamento é errar. Glamorizar é ego. Ego é narcísico, imprudente e vazio.

Pág. 1/3