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Cardilium

Cardilium

"A" grande

 

Ilimitado?
Sem limite!
Extensão,
Marco,
O céu?
O limite!
Amplitude,
Término,
Viagem,
Grandeza,
Largueza,
Apaixonante,
Aparvoado,
Imensidão,
Mistura,
Vastidão…
 
Por ordem de grandeza a inexplicável forma de estar, sentir, entender ou até Amar … Amar de A grande.
 

A perder de vista

 

Assim a perder te de vista,
A perder te de vista assim.
Prendo-me à liberdade inventada,
Invento uma prisão em mim.
 
Num meu peito uma masmorra,
Muitos sonhos… ilusão.
Sinto-me preso ao tempo,
O tempo não tem razão.
 
Viajo deste lugar,
Para um lugar desconexo.
Grades de ausência forjada,
Já não dou… já não peço.
 
Escrevo historia…património,
Gravado em terra sedenta.
Leio o que sinto solidão,
De mim já estou ausente.
 
Tomo uma droga adormeço,
Cansado de ler e sentir.
Caminho feito de pedras,
Castelo por construir.

Raio azul quente de sol moreno !...

 

Incrível a forma como de desprendem sorrisos de bocas vãs. Sobrepõem-se ideias aos ideais. Nesta viagem, mares revoltosos, correntes assimétricas, transportam fantasia e sonho aos dias. Pragmático e usurpado a fantasia faz norma. Num circo, as feras revoltadas são como o Amor adiado. Não me amestro, faço de tumultuosas estradas, caminhos imperturbados de cores invisíveis à alma. 
 
Hoje amanheci a pensar em ti... entrou-me um brilho estranho pela janela. O brilho de um sol azul, quente e ao mesmo tempo gelado. Contemplo o sol. És tu. É grande a distância entre nós. A luz da tua cor morena prende-me. Um fascínio que me deslumbra e aterroriza.
 
De onde vem esse brilho que me prende e afasta?
 
Um brilho indecifrável que penetra a minha alma com uma profundidade familiar. Sol azul, calor intenso que me gela...
 
Vou pegar num raio teu. O mais luminoso de todos. O que abandona os teus olhos quando me olhas e fazer um colar invisível. Só tu e eu saberemos da sua existência. Vou usá-lo sempre no meu pescoço, de forma que toque ao de leve no meu ao coração, para que quando eu deixar de ver o teu brilho azul, o tenha sempre comigo. Aí voltarei a pensar em ti ao amanhecer, raio azul quente de sol moreno.
 

Medo, esperança e coerencia

 

Tenho medo de enlouquecer. Não de uma loucura alienada, mas de uma loucura escrava. Tenho medo de depender do acto de me adormecer e acordar. Não da loucura provocadora da mente, mas sim de uma loucura desassossegada, de não ter o sol para me aquecer. Tenho medo de não saber. Não, de não saber. Tenho medo do não saber, pelo facto de não me recordar. Tenho medo de loucura assenhoreada, não da loucura de ausência de autocrítica.
 
Mas tenho esperança. Tenho esperança da loucura ser o caminho da felicidade. Tenho esperança da inversão do riso pelo choro, do sim pelo não, do querer pelo não querer. Tenho esperança de ver-o-mar bater à minha porta e de tocar o céu com a mão. Tenho esperança de dizer o meu nome sem ter que o dizer.
 
Vivo esperançado de perder a minha idade. Tenho esperança de colorir as estradas, e viajar na A-laranja para o Minho, na A-rosa para o Litoral e na A-violeta para o profundo Alentejo. Tenho esperança de sentir o luar com raios prateados pendurados na minha janela e de ver o sol dançar de mãos dadas com a sombra. A minha identidade é o meu património, tenho esperança de o classificar. O que hoje é um drama amanhã será comédia. A coerência desencaminhar-se-á.

FMM 2009

 

FMM 2009. Mais do mesmo. Cheiro adocicado no ar embrenhado em proporcionadas vontades. O vento prenhe ao final de dia junta acordes que se sustentam. O ar quente e bravio engravida o sonho. Vivos, madrugada dentro, os corpos dançantes transfiguram-se. A música eleva-me e transporta-me mundo fora.
 
 
Adormeço nuns braços inventados de brandura. Acordo a caminho do sal doirado pelo mar. Entrelaçados os dedos seguem os instintos enterrados na areia. Deleito-me em suaves olhares cúmplices. Respiro. Convergente acordo com o teu acordar. Queria porfiar os últimos dias eternamente. As gargalhadas sentidas esboçam-me um sorriso nem sempre fácil de conquistar. Questiono a vida feita de lugares, de dias e horas desencontradas. Momentos de coisa nenhuma e de ninguém. Viver ao lado tem sentido insatisfatório. Luto empenhado em conseguir partir. Um dia sei que partirei numa caravela sem destino anunciado. Que pernoitarei onde habitar o sono. Que me alimentarei mais do que a fome que sinta. Que me enlaçarei num sitio único, vestígio do meu sentir.
 
 
 
Há vida para alem do conhecimento infinito. Quadros esfacelados reconstroem-se de pedaços que junto Alentejo fora. A praia que outrora pensei intocável não o foi. Existe o outro lado por destruir. Existe o fascínio dos momentos, odores, cores e mar desigual. O desigual rotineiro faz parte de mim intrinsecamente. O ritmo vivenciado trouxe de volta o retorno. Usarei os últimos dias no cumprimento do propósito. São escolhas feitas em dias de sonho que já o não são.

O inteligível que é o meu sentir.

 

Embaciam me os olhos da humidade Outonal de Julho. Encerrou outro ano. Estou vazio. Parar não é meu apanágio. Sentido de dever cumprido objectivo alcançado.
 
Férias? Gasto-as à minha maneira, de forma diferente dos demais comuns. Passo-as a trabalhar na mesma, aqui neste sítio, feito de sonhos tardios, ventosos e madrugadores. Ajusto-me aos pensamentos elaborados acerca de Marbella, Portimão ou Costa da Caparica. Assim como assim não sendo Africa, estou melhor aqui. Vou três ou quatro dias a uma Africa que vem até mim. E depois recomeço para dar férias a quem realmente as merece.
 
Está decidido, para o ano por esta altura, depois das madrugadas que aqui passarei, vou ao Mali. Vou numa altura especial e hei-de ir com alguém especial, ou não. Mas vou, é uma prenda que me darei.
 
Enquanto isso penso nas mulheres da minha vida, uma esta para morrer, a outra para partir. Esta coisa das mulheres da minha vida desaparecerem, mexe comigo. Mãe e filha, ambas estão de partida. Uma fez o que pode por mim, outra faço eu o que posso por ela. Uma deu a vida por mim, outra dou eu vida por ela. Tão díspares estas dadivas, tão iguais dentro de mim.
 
Não há mais mulheres. Fugimos uns dos outros de forma igual. Umas fogem de mim, fugindo eu de mim próprio. Outras, fujo eu de mim próprio, fugindo delas também. O mesmo dispare sentir, mas tão igual dentro de mim. Simples este sentir. É meu, estará nele decifrado o inteligível que é o meu sentir.

Vou

 

Bebo-te em palavras que me arremessas aos magotes. Palavras sábias, experimentadas e vividas. Palavras espontâneas não escolhidas. Dos meus dias, fazes peças únicas, esculpidas de desejo e saudade. Sinto as mãos amarradas de uma vontade que não posso desamarrar. Entendo as marés muito mais que a dança das gaivotas.
 
Destruo para criar de novo, e nesse processo criativo / destrutivo habito-me. Não se recomeça o que nunca se acabou. Inicia-se a obra depois do sonho. Visualiza-se o sonho na dissonância cognitiva. Das minhas noites fazes obras de arte. A palavra mais obscena que me disseste, foi “amo-te”. Um amo te baixinho e envergonhado, que sobe de ritmo e tom, à medida que te empolgas na explosão do prazer adivinhado.
 
O vento segreda-me segredos impacientados. Apetece-me viajar, sair de mim, perder o bom senso e as saudações rotineiras e habituais, de quem faz o frete de tão-somente balbuciar um gaguejado e inaudível bom dia. Apetece-me inebriar-me e alienar-me de eufóricas alegorias. Induzidas alegorias. Apetece-me gritar roufenhos brados tranquilos do cimo de uma montanha desfraldada ao vento e sossegar-me. Vou higienizar-me num pinhal, adormecer e acordar com o cheiro a resina e a raios de luar. Vou saber do mar ali. Vou ouvir sons únicos, rústicos e arcaicos. Vou sentir adocicados cheiros no ar. Vou ler um livro e demitir o meu olhar. Vou…

Deambulo

 

O ar fresco da noite aquece-me o rosto. Deambulo numa sinuosa estrada inundada de musicalidade. As curvas que me levam até à vila poema cheiram a silvestre vegetação, o rio agreste, entortado com o fundo de seixo, cantarola misturado com o som da matéria a ceder. Parei, fumei e senti a noite escura. A montanha defronte dançava ao vento, a outra meditava com a lua. Senti vontade de me perpetuar ali. Parar o tempo. Desresponsabilizar-me. Partir sem ter que regressar. Desci á vila. Estava sarapintada de luzes amareladas, imóvel e deserta. Estive por ali sentado a ver o doce encontro dos rios e voltei a fumar. Baforadas densas de fumo suspiram para a noite. A ponte, de quando em vez é habitada por um carro que passa sem direcção. Na outra margem fuma em produção uma fábrica. O motor da mota inundou o silêncio da noite, com um rouco grito que me transportou até casa. Gozei a fresquidão, bailei, amei e dancei com os pensamentos que me avassalam. Quero desnascer e nascer de novo. Em casa aguardam-me uns papéis e um sofá. Uns são contas para pagar, outros contas do meu rosário. O meu peito declara guerra à minha cabeça. Explodem gracejos e raivas em simultâneo. Tenho a sensação de uma charanga dentro de mim, com os bombos de Lavacolhos e a sua tradição ancestral á cabeça batucando. E eu pratico o hábito. Aconchego-me, abraço-me e durmo.

Trinómio causa/efeito/consequência

 

Somos o resultado daquilo que conhecemos, verificando isso logo nos apercebemos da equidistância ao conhecimento.
 
Afastarmo-nos das velhas, poluídas e impostas ideias de pensar e sentir pode ajudar-nos na felicidade?
 
Viver, no fundo é um conjunto de regras socialmente aceites, de nos comportarmos ou pensarmos. Isso afasta-nos muitas vezes da nossa própria essência. Anula-nos a massa critica e “encarneiramos”. Choramos ou rimos pelo efeito catarse. “Emprenhamos pelos ouvidos” como diz o povo. Parar, para nos afastarmos dos conceitos impostos e darmo-nos a oportunidade à diferença, é sempre aos olhos dos outros motivo de julgamento, o que nos atinge e refreia.
 
Somos espontâneos no nascer e no morrer. Nos intervalos afastamo-nos de uma essência que afinal é a autenticidade e a genuinidade. Depois há os acessórios que nos englobam, as marcas, a “boa onda”, o fazer parte de qualquer coisa, sem sequer sabermos do que fazemos parte. Ignóbil esta vivência disfarçada. As respostas ao que necessitamos está dentro de nós, afastarmo-nos da árvore dar-nos-á a visão da floresta. O distanciamento é assim essencial ao intra conhecimento. A incoerência de viver tornará coerentes as nossas decisões. A experimentação por tentativa e erro, fará do trinómio causa/efeito/consequência a segredo da bem-aventurança.

O tempo não me diz nada

 

O tempo não me diz nada. Espero na encruzilhada e não aparece. Fugidias lembranças assolam dentro de mim. Finjo acreditar. Umas a seguir à outra estouram-me no pensamento. Balbúrdia de ideias. Labirinto de desejos. Conspurcação de decisões.
 
E se fechasse os olhos a 180 km hora? Onde acordaria?
 
Insano vislumbre da minha competente poluição. Atormentam-me as pessoas e os ácidos acinzentados que expelem pelo olhar. Ocorrem-me jardins fantasiados. Vejo-me de mãos dadas com uma mulher que não identifico, que desejo que seja o meu prolongamento. Que veja nas mesmas cores e cante no mesmo timbre. Que a solicitude da alma se desvaneça em mim. Que a união dos corpos seja o apêndice apenas do encontro. Que o amor seja antes de o ser. A saudade a presença e o tempo coisa nenhuma.
 
Vejo uma floresta rasgada por raios de sol entre a folhagem. Vejo a lua misturada na fresquidão sôfrega de uma boca salivosa e saciada. Antevejo duas lagoas translúcidas onde depositarei a minha confiança sem reservas. Onde perceba que hoje sou lago e amanha um rio bravio e enrugado. Semearei duas pedras que serão montanhas. A terra castanho escura, cheirosa e húmida, será a minha cama. Imagino acordar ao cheiro das flores e escolher os intérpretes das minhas melodias. A passarada gentil acordar-me-á. O vento de assobio esverdeado e suave adormecer-me-á.

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