Gemo agua
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Estou maravilhado e assustado!
As palavras aproximaram os caminhos que me são familiares. Sinto que não os percorri. A descoberta diz me, o quão difícil é pedir companhia, e deixar fluir de mim aquele olhar que brilha só por te ver. Embacio a vista, escureço o olhar, engrandeço a distancia. Mesmo assim sinto que a alma me atraiçoa, quando me atrevo a olhar-te. O horizonte de contraste não consegue olhar te nos olhos. O arco-íris não é ás cores, sabias? O meu olhar precisa de te oferecer o que a minha alma deambulante aspira alcançar. Os movimentos que te envolvem o andar, personificam o teatro que representas para mim como ninguém. O arco-íris não são cores, são movimento, envolvem-te o andar, as cores são os acordes que entoas numa melodia colorida quando danças para mim. Ofuscas o arco-íris com o teu olhar. Encarnas as ondas do mar, como se uma lança de fogo de um planeta por inventar, te acompanhasse num grito branco e silencioso. És música, sustenido, bemol, sétima, diminuta e dominante. És infinito. És crescente como a lua. Adormece me. Não me deixes dormir. Vou parar e espraiar-me nesse mar. Quero te acordada, quero te a rir e assustada, como velhos carvalhos centenários, que escondem as mais trágicas e belas historias dos amantes. Verdade!...quero te assim, é real. Gosto de viajar contigo.
Estou maravilhado e assustado!
Desenhas e encantas a serra nos mais recônditos recantos. Semeias sonhos. A serra cheira a estorias e adormece de encantos. Pares um filho inventado. É prazeiroso assoar o filhote esfolado de serra. O sol adormece e treme com o breve encantamento de um gesto escondido. As ervas crescem numa púcara fervida como remédio. A serra deita se com o mar e o nevoeiro com o arco-íris. A serra ama o mar mas não o expressa, sussurra. Os caminhos estão apaixonados pelo regresso, os deuses permitem-no.
Sabes de alguma coisa de regressos atempados???
- Sei, sei de uma estoria em que o mar foi visitar a serra.
E pode alguém ser quem não é?
- As partidas são imediatas.
Pode alguém dissimular não ser ou existir?
- Pode, a esperança hipoteca a fé
E o medo, e o medo?
Pode alguém tornar-se noutro nem que seja por um instante?
- O medo é preciso!
O medo faz parte do mistério?
- Faz, o medo é a antítese da fé?
E o que é que comanda a vida?
- É o mistério?
E o medo precisa da fé?
- Adoro o mistério obsoleto do óbvio!
- Adoro o mistério dos deuses e dos acasos!
O óbvio joga ao carnaval com o medo
A fé joga á escondida com as reservas
O conhecimento destroça as brincadeiras
Ah! Estou maravilhado e assustado!
Quando as palavras se trocam por olhares
Os caminhos tornam-se comuns.
Quando sentimos os silêncios
As anti palavras geram desejo.
Quando o mar revolto se torna espuma
A beleza falece às ondas na praia.
As conversas intermináveis
São como caminhos inalterados,
Chegamos lá antes, de saber que chegamos.
As nossas bocas distantes
Percorrem as palavras.
Com cautela, como se de fogo se tratasse.
A presença existe às avalanchas
Queimam-se arrebatados sentires.
Teimosos. somos vontade.
A madrugada rende-se calma ao desejo
De não deter este encanto,
Que denuncia a angustia de te saber aí.
As viagens?
Faço-as, aquando a vontade da possibilidade me permite. Não as faço quando devo ou quero fazer. Há um momento para viajar. O momento certo. Viaja-se quando a alma nos leva do pensamento. Cega-nos um caminho que conhecemos mesmo sem o frequentar. Viajo quieto, acordado, agitado pelos sentimentos mais mundanos, que transformo em epopeias. Esqueço-me das caminhadas para alem das ilusões, esqueço-me de me esquecer dos pronomes pessoais e possessivos. Esqueço-me de lembrar o meu Deus selvagem e secreto.
Leio livros. O conhecimento não pode ser pago. Nunca pode ser pago. A barba por fazer retira o respeito. Os soslaios de olhares acumulam-se aos montes. Agudizam a minha antipatia pelo mundo. Procuro um lápis mágico para escrever um livro, cujo preço vale cada dia que me permito viver, na plenitude de cada momento.
Um dia alguém me sussurrou ao ouvido que os outros não eram mais do que simples espelhos, instrumentos do meu próprio confronto pessoal, do meu bem e do meu mal. Duvidei
Queria matar este sentimento de solidão. Queria confirmar apenas a minha suspeita que sou apenas o que vejo, quando olho para o espelho. Os outros não são mais do que o meu reflexo. Os meses passam, os anos passam. Esse sentimento de alienação, de desilusão, de conquistas esgotadas e transformadas num capitulo. Deixei tantos pedaços de mim. Inteiro, verdadeiro. Fiquei tantas vezes nu enquanto gritava em silêncio. Afundei-me na lama da minha miséria conquistada em lutas desenfreadas. Gostei. Gostei porque acima da lama imunda vi erguer-se um sol. Trocamos saberes e sentires. Já não procuro o que não tenho. Procuro o que de mais há. Os outros tornam-se mais do que isso, por isso mesmo, quando são mais do que apenas outros.Fico feliz pelo alaranjado Setembro.
O fumo denso esfaqueou, o nevoeiro oprimido. Não se fundiu, porque não ensaiou uma valsa enquanto se despia das suas semelhanças. Ambos enganaram a luz, única claridade de um momento ímpar. Recusaram-se a viver por um só momento que fosse. Ainda cheira à erva e palha amontoada e molhada. Corre um riacho que teima em chegar depressa ao seu destino. Ainda estendem os lençóis brancos a cheirar a sabão. De madrugada não se vê ninguém, mas sente-se o coração. Não penso. Esvazio-me de tudo. As memórias são imagens e sentimentos. Posso colori-los de cores e momentos. Nunca serei capaz de assassinar a leviandade do primeiro olhar. Sou único, vejo para além do que os meus olhos alcançam. A minha rua está dentro de mim. Desenho um quadro cheio de palavras, como se de uma verdadeira orquestra se tratasse. Incompreensível este Amor feito de nada. Torno o meu espelho mágico, do qual fujo todas as manhãs. Somente as palavras brotam do pensamento simples, honesto, e impraticável. O contexto foge ás regras. As atitudes são contrárias á vontade. A vontade é presa ao pensamento. O pensamento não é preso a nada porque é livre. Vivo assim num redondo vocábulo, espartilhado pela anti-vontade, do querer nada querer. E assim, resta-me o aqui e o agora, a grandiosidade do meu grito pelo ar que respiro. Sinto energia gerar-me desassossego. Sinto harmonia em estar desassossegado
Cada pincelada ou pedaço com que me presenteias arrastado pelo espírito eleva-me. Leio, releio e tento ouvir. Os títulos invadem o meu espírito de contradição e curiosidade... Qual é a chave da porta secreta? Do palácio? O fim do túnel, na qual se vislumbra, finalmente, para lá do fosso (reserva mais visível a olho nu), um mar infinito e quem sabe, um barco à vela, à espera do timoneiro?
"Detesto a cobardia de não me meter ao caminho"
Adoro...reservas, sinto um brado pela vida sem tréguas, sem mais nada, a não ser o privilégio de termos aprendido a saborear cada brisa, cada ventania ou tempestade, com que a vida nos presenteia.
“Gosto da sabedoria duradoura dos iletrados”
Cada lição que os sentidos guardam, são os filtros da razão, as vozes ancestrais que os livros criam. Cada lição, que empiricamente ouvimos na narrativa de quem sabe encostar-se e saborear. O cheiro que emana das raízes e do tronco dos carvalhos antigos à beira da estrada. Não há reservas, quando numa tarde fria, nos sentamos num qualquer alpendre Alentejano, e nos perdemos a viajar nas historias acerca do amanhecer, e do significado do nevoeiro por cima do sol nascente…
“A sua vida. Segredos Roubados aos amantes”.
Escondem-se na sombra da copa. Perdoam-se. Perdem-se em promessas impossíveis, incapacitados de se fundirem na seiva de uma árvore. A eternidade das palavras é mais pequena que a imensidão do genial e ridículo, Fernando Pessoa. Esgravato no tronco de uma árvore um mísero coração. Amar é hoje… Amanhã é demais…
Dentro de mim existe um gajo com cara de parvo,
Um velho e um novo, um pobre e um abastado,
Um filho único e um bastardo.
Visto uma roupagem séria de um humor exagerado,
Um humor que me faz tão bem por fazer mal,
O estatuto anarquista que me domina é visto de cima, pela loucura..
Isto anda tudo muito certinho,
Muito sossegadinho,
“No silêncio da noite beijar-te-ei um dia… quem sabe!.. homem dos mistérios”.
O meu cérebro estoura em gargalhada de compaixão,
Devia de haver reformatórios e manicómios interiores, que nos purgassem a insanidade,
Devia de haver pacotes de equilíbrio nos escaparates das livrarias,
E sabão especial para lavar a alma nas mercearias que faliram.
Devia de haver abraços à solta para os necessitados de sopa,
E bancos nos jardins com palavras aconchegantes para a solidão.
Deviam haver pessoas em quarta mão e sorrisos em contra-mão.
Devia de haver filhos para alugar e pais para a troca,
Os velhos deviam pintar o cabelo de azul,
Devia-se inventar intra tatuagens.
As putas deviam ser à borla e parte dos nossos impostos,
A bem da saúde mental do povo.
Deviam acabar as putas das conversas,
As colheitas sucederem as sementeiras,
Deus devia rasgar o céu e interceder.
Os mistérios serem desvendados,
E desventrados os donos da verdade e da miséria,
O bom senso devia imperar
Não devia haver preços.
Nem topos de gama, nem moda, nem decotes, nem religião,
Sobrariam os terramotos e os vendavais,
As enxurradas e as secas.
Os segredos, as partituras e os fogos
A musica, os poetas e a liberdade
Os pianos, as marés, e o nevoeiro
E a anarquia para ajustar e diversificar