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Cardilium

Cardilium

Natal ?

 

Esta esquizofrenia colectiva consumista que é o Natal não me seduz. Não me seduz os sorrisos nem as citações. A publicidade “apaneleirada” e as luzinhas. As criancinhas ficam de ar terno e os velhinhos vulneráveis. A crise passa a ser uma retórica de consequências inconsequentes. O Rendeiro e o Madoff, a Felgueiras e o Isaltino, o Oliveira e Costa e o Jardim Gonçalves, o Jorge Ritto e o Carlos Cruz & CA, e mais não sei quantos gajos, são os verdadeiros “Pais Natais” deste País de indígenas. Povo de acostumados e brandos costumes. Ser o ultimo da Europa na Saúde, ou o numero um na taxa de desemprego não interessa nada, porque o que nos entra pela casa adentro ás oito da noite, é que o Cristiano Ronaldo é o melhor jogador do mundo, mesmo que o povo seja miserável, e não tenha dinheiro nem para a merda do bacalhau consoado, para os medicamentos ou acesso ao ensino. E vêm-me falar de Natal. De princípios solidários, de entreajuda, de espiritualidade, quando uma “criança” de dezasseis anos esfaqueia outra dentro de uma escola, e se acha normal o “ajuste de contas”. Não me enfiem mais Natal pelos olhos dentro. Deixem-me da mão, deixem-me em paz mais á merda do Natal. O natal sou eu, a minha filha, os meus Pais e aqueles amigos de todos os dias, menos do dia de Natal.

eu posso!...

 

Se pudesse alternar no meu peito as ordens do coração!... Arrancar palavras que pronunciei, transpor as que não disse. Se pudesse inverter, baralhar e trocar os passos que dei. Manter-me lúcido nesta loucura de falar, desenhar, tocar e escrever….
Vou construir uma marginal azul de onde veja o mundo. Uma casa que tenha alma. Que sinta. Que respire. Que pense e exija, com um quintal, um terreno fértil de ideias, arvores que se balancem em dançares ritmados por melodias inventadas ao pôr-do-sol. Somar ideais. Povoar com cento e cinquenta mil pessoas a minha aldeia. Multiplicar o sol, as montanhas, o mar, as estrelas, o frio, o calor, as marés, os rios e o nevoeiro…. Vinte vezes. Fazer da musica o ruído de fundo do planeta. Trocar os conhecidos por amigos, e dos amigos fazer irmãos. Trocar o sangue a cada seis meses por poesia. Respirar o chilrear madrugador. Adormecer exausto de vida. Festejar a vida como uma viagem e partir…eu posso!...

Pago a conta e brilho

 

Engalanado como se o tempo não existisse, como se no mundo não houvesse mais ninguém, como se apenas sobrasse duas mãos, duas bocas, um desejo, e uma alma, percorro o suave trilho onde me esperas docemente.
De sentir cheio abraço-te como se não houvesse amanha. Vejo a chuva cair em ondas num espectáculo oferecido por Deus em nossa honra, celebrado por nós. Saboreio o calor que emanas como prolongamento do meu ser, do meu sentir. Ontem o sol intervalava em raios o teu cabelo solto e selvagem. As tuas mãos conhecem-me.
A respiração em cadência incerta sopra-me palavras ás cores carregadas de musicalidade, embalo. Adormeço com o sentimento que abandonei o meu corpo, e habito um outro que não sendo o meu, é-me confortavelmente estranho. Canto e adivinho a loucura que eternizo. Quero acertar contas com o tempo. O chão é suave e respeita o caminhar. O caminho faz-se caminhado afinal. Entre as rotas que escolho, deparo-me com a barraca do morro em frente ao mar, onde a felicidade escolheu encontrar-se. As ondas batem ternamente nas conversas e nos abraços que se tornam reais. Harmoniosamente caminho de mãos dadas com a minha escolha, despreocupadamente. Pago a conta e brilho.
 

December !...

 

O frio corta em golpes o meu rosto. Dezembro voltou. Volta a seis o Dezembro. Novamente. Boa altura esta. Um ano concluído. Ficam para trás cristalizados os momentos, os objectivos concluídos e os iniciados. Um ano de sentires intensos. De madrugadas acordadas e concluídas. Um ano de êxito. Em Setembro se concluiu, em Setembro se iniciou. Gasto assim o tempo como outrora meramente o usei. Nada mudou mas tudo é diferente. Mudam os acessórios, não muda a essência. Natais são todos os dias, menos o de natal. Cantarolo melodias em pensamento. Sinto desejo. Um desejo atroz e violento. Roxo como o véu húmido de chagas. Saudade…Relembro pessoas que já não tenho, mas que me habitam. Pessoas suaves. Saudade de desejo. Desejo de ter, de viajar, de ouvir musica, de entendimento, de cumplicidade. Noite de cessante busca da mudança que não existe. Seja operário com o vigor do Abril adiado. Seja sindicalista com a mentira de Maio instalada. Seja lacaio ou senhor feudal, doutor ou mestre…..o bem-estar vem do conhecimento que os livros não escrevem…..vem do sentir…e sinto sempre muito.
6 de Dezembro . . . . . . . . .  esta lá, esta quase.