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Cardilium

Cardilium

Silencio ensurdecedor !...

 

Gritam roufenhos entre os dedos
Acordes que o poeta escreveu.
Miséria, luxúria, risos e choro.
 
Tempestades de palavras assombram o pensamento
A luz transparente.
Cega.
 
O deserto de vontade fica povoado.
Desventrado de preconceitos.           
Alma sublime ao vento, regressa ao útero materno.
 
Calam as sombras inventadas.
Ouve-se Deus, houve?
Os rios serpenteiam bairros.
 
Fogem do regresso atempado.
As mulheres afagam de afectos os homens.
A ética mata o código.
 
Na noite ouve-se do mar a espuma branca
Enrolada, enfeitiçada
Sem coerência, sem sentido.

Esta a caminho! ….

 

Entra o romper do dia pelo quarto adentro. A noite suada de um descanso que não existiu sopra de alívio. A manha rotineira como tantas outras dilacera os sonhos. Sempre igual, vou ter que me erguer e sair. Como sempre os olhares enfeitiçados e fugidios transformam os minutos do meu dia. O meu pai esquece-se da sua existência, baralha, confunde. Não existem horas. As pessoas finalmente são irreconhecíveis. Sossegado rega o jardim para gastar o tempo. Vê-lo, é ver-me agonizado. Cuida da terra a que lançou sementes. Continua de olhar azulado, longe do que o manteve vivo setenta e tal anos. Incrível; como uma noite suada, transforma o resto das nossas vidas. Sinto-o mais perto. Inconfundivelmente mais perto, como se restasse apenas a confirmação. Vejo nas suas mãos o saber dos dias passados. Oiço a sua respiração balançando ente o adormecer e o acordar. Sinto as suas memórias cristalizadas na sua opinião. Amanha mais tremulo… e depois e depois e depois?
Esta a caminho! ….
Esta no caminho!...

Fugidia !...

 

Através das noites
As luas percorrem o silêncio,
Negro d´ alvorada.
 
Jaz em mim
Um corpo despido
Entre as estrelas.
 
A morte é anunciada
Pela vida,
Fugidia!
 
Pinto uma tela
Que baptizo de vida,
Escura, com luz.
 
Esculpo liberdade
Arquitecto a paixão,
Chamo á obra vida.

ponto final !

 

Incompreensível este Amor feito de nada. Somente as palavras brotam do pensamento simples, honesto, e impraticável. O contexto foge ás regras. O cheiro não tem o paladar do comportamento. As atitudes são contrárias á vontade. A vontade é presa ao pensamento. O pensamento não é preso a nada porque é livre. Vivo assim num redondo vocábulo, espartilhado pela anti-vontade, do querer nada querer.
 
As viagens?
Faço-as, aquando a vontade da possibilidade me permite. Não as faço quando devo ou quero fazer. Há um momento para viajar. O momento certo. Viaja-se quando a alma nos leva do pensamento. Cega-nos um caminho que conhecemos mesmo sem o frequentar.
 
Os livros
Leio-os quando os apanho sem que eles me fujam. Os livros têm que ser á borla. O conhecimento não pode ser pago. Nunca pode ser pago. A barba por fazer retira o respeito. Os soslaios de olhares acumulam-se em montes. Agudizam a minha antipatia pelo mundo.
 
Os pobres juntam-se ao vinho, nas frias tabernas aquecidas, pelo apalpar das mamas da Florinda. Os amores mudam em cada novo dia de bebedeira. A Florinda cambaleia pela calçada, apalpada depois de um jogo de sueca. A Florinda faz falta, não tem aparecido na tasca.
 
Os ricos
Os ricos ricos são pobres e ponto final. Ser rico não é viver desmedido em bens. Ser rico é ser viajado, letrado ou não. Ter a sabedoria do estar atento, da experiência, da observação, que faz do conhecimento riqueza, do entendimento do ser humano generosidade. Ser rico é poder apalpar as mamas á Florinda.
 
 
O Sonho
O sonho é fazer da lucidez insanidade. O sonho é acordado sonhar. O sonho é acordar de um orgasmo. O sonho é correr na montanha. È rir com os amigos. È chorar com os camaradas da revolução. Sonhar é não querer crescer. Sonhar é projectar uma morte louca e gloriosa. Uma morte em cheio.