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Cardilium

Cardilium

Vagabundo de afectos

 

Sobrevivo á esperança que me atormenta

Vagabundeando pelos afectos.

Os afectos não têm labirinto.

 

Não se habitam contrários,

Vivem-se sentires

Incontroláveis.

 

Vivem-se compostos

Mistos, misérias

E conjuntos.

 

Vivem-se lágrimas,

Prantos de risos.

Ocupam-se lugares.

 

Sobram os amigos,

Ombros solarengos,

Palavras e abraços.

 

Perdem-se amores,

E encontros.

Sobra o tempo.

 

Tempo forjado

Quente e caustico

Tristemente esgotado.

Sem tempo

 

As tuas mãos têm cem anos

Que abrigam mil encontros

E arquivam mil segredos.

 

A tua boca tem palavra

Beijos, alquimia e cor.

Respiram os teus lábios pelos meus.

 

O teu silêncio é doce,

A tua luz suave.

Prende me a tua cintura.

 

Os teus passos ,

O teu olhar,

A tua ventura .

 

Na madrugada

Iluminas o meu sonho,

Que se desfaz ao acordar.

 

Corre em mim ,

Um rio azul de desejo

Revoltado e bravo.

 

Os teus seios ,

A tua tez,

O teu perfume.

 

O teu encanto,

A tua luz,

O teu fogo.

A existência

 

A vida vista com olhos alaranjados ganha o encanto que a existência real retira. A vida é um local único de celebração. As crianças são intelectualmente honestas. São espontâneas e livres. Pesam-me os olhos que me cegam. Pesa-me o corpo em que jazo. Anseio a lucidez sobrenatural para me sentir normal. Curioso, como hoje entendo a diferença entre mar e praia. Gosto de mar e gosto do mar. As praias estão cheias de vaidade. Gosto das madrugadas na praia e de praias desertas. Portugal é hoje a soma de vários países para alem de Lisboa e Porto. Ser surrealista é ver ao contrário, é ver de pernas para o ar. È ser visionário ao contrario. Anseio por mim em sentido contrário ao abismo. Anseio que o mar seja o meu sangue e a montanha o meu libido. Que as ruas que frequento me reconheçam e vagueiem de braço dado comigo. Que o alvoroço da chegada se perpetue no presente. Que a razão chame á utopia emoção e lhe seja devolvida alegria. Que os homens parem de matar e se abracem. E as mulheres se bem tratem. E que os dois juntos façam a raça humana. Amo tão baixinho que não oiço. Mais breve que a passagem pela existência, só a existência do Amor.

Alienado por uma droga que não meti

 

Estas palavras moram nuns degraus ondulados e gastos pelas passadas. Geme água sombria entre as frestas. É sombrio. O sol não abunda mas invade a noite de vento. Não faço parte da sociedade, frequento. Não colaboro. As palavras coloridas e escuras que saltam da tua boca fascinam-me. Pedes-me para mentir. Colaboro. Tempestades de brilho iluminam os teus olhos. Falta-te tanto e queres tão pouco. As estações habitam os teus lábios. Generosa, cuidas dos teus sonhos. Tudo o que podia ser, não é. O amor tem olhos que entornam maresia. Os beijos são palavras dilaceradas na pacatez do silêncio. Os dedos são movimento, são caminho. O toque é fresco e suave. As palavras são a madrugada. Floresço em cada sonho. Dispo-me de mim e roubo-me um sítio a que não pertenço. Atrai-me. Seduz-me. Assusta-me. È vida e morte:

- Pertenço? Frequento?.. alienado por uma droga que não meti. As colinas dançam azul. A floresta tem a cor doce do teu cabelo. O por do sol esbate rubro o novo dia que se levanta ardente. O teu olhar pertence-me. Não pertenço a esta sociedade….mas frequento-a. Ancoro num porto por construir e adormeço o meu olhar.

Valem os sonhos e a cobardia de um ser assumido

 

Fujo do meu ser em direcção da alma. A solidão invade-me dentro da multidão. Hipotequei o meu sentir pela a razão. Não sinto vontade de mudar, tenho medo de arriscar. Em nome da liberdade sou submisso. Submisso à razão que não me fascina. Sei que a emoção me gere. Sou encruzilhada, sou dois mundos, sou fome e sede, nascente e abundância. Sinto correr nas veias mil beijos que não dei. Sinto o respirar gasoso dos abraços. A minha liberdade enlouquece espartilhada. A minha prisão é inventada, mas existe. Sou o carcereiro de mim próprio. As semanas de sonhos adiados são adiadas pelas semanas. Os dias não têm noites. As madrugadas florescem como os girassóis, num movimento rotineiro, que acompanha o mundo pelo movimento das batidas do meu peito. A esquizofrenia apodera-se mais de mim em cada acorde que solto na minha viola. As palavras ficam presas nos poemas inacabados em ré maior sem cair em si bemol. Ficam cristalizadas em pensamentos e nos escritos, sem nunca serem luz. Troco-as comigo mesmo e recebo o retorno em crescendo. A mudança é proeminente. As montanhas de lágrimas transformam-se num rio selvagem, que não tem foz. Um rio desaguado. Um rio fantasma que corre perseguindo um mar de abraços. A luz incandescente cega a chegada sem nunca sequer ter partido. Partiu assim a esperança para parte incerta. O vazio estremunhado calou-se definitivamente. Valem os sonhos e a cobardia de um ser assumido.

Pedaço moreno de mar !

 

No final da tarde o vento levanta-se, espreguiça-se, e vai á sua vida. Cantarola ás folhas das árvores e assopra-lhes. Entretêm-se assim nos solarengos fins de tarde de verão, refrescando-os. Os barcos com vela encantam-se diante desta atitude fresca e arejada. As palavras desprendem-se ao vento com ideias. Rajadas de pensamentos são presas por serem políticas, inadequadas. Presas. Não encarceradas. Presas pelo sufoco. Pelo medo. O medo de arriscar. Ao meio do dia já a luz balança e é positiva. O vento virá. A sombra aguça o niilismo que me desgasta. Em minutos renasço. Terra vermelha semeada de solidão é fértil. Jorram torrões de silêncio da terra arada pela fantasia. O norte esta a sudoeste. As rochas emparedam com o mar que escreve com espuma branca momentos que o vento dirá. O universo encontra-se ali. Perpetuo a minha visão naquele cabo de terra. Naquele cabo de mar moreno diante de africa que vislumbro. Por vezes tenho medo da raiva que me invade. Do desrespeito de quem não conhece as noites amargas de frio. Das noites de solidão da distancia. Do medo da esquina seguinte e do adulterado. De um qualquer casal ventoso inventado. Do medo da vida mais que a morte, de ser amado mais do que amar !...