Os olhos
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Sonho a preto e branco sonhos longínquos e coloridos. O tempo pintado de madrugadas e letras traz vagarosamente o sonho. A cada seis meses esfumaram-se os dias. Senti que o dia ia chegar. Dias ansiosos e compulsivos. As noites passaram pelas estações. Entre Setembro e Fevereiro fumei o nevoeiro entre o virar de cada página. De Fevereiro a Julho respirei o cheiro das flores após cada livro que li. O sonho sentia-o. Aproximou-se á medida que o tempo se esfumou cada vez mais. Estonteante e apressado. Comi fruta e bebi agua enquanto percorri os conceitos que me trouxeram ate aqui. Cheguei. Praticamente cheguei. Não ao fim, mas ao início de mais qualquer coisa que irá acontecer. O mágico é não saber precisamente o que vai acontecer. Não tenho medo. Estou sereno e com uma sensação agradável e normal de dever cumprido. Valeu a pena a travessia. Valeu a pena as pessoas, os amigos. Guardo Tomar no coração. Guardo o convento, o rio, a barragem, as madrugadas de pão quente, a estrada da serra, a corredoura, a levada, os bares, o jazz. Guardo a praça e tudo o que senti. Guardo a mata e a luz. Guardo o cheiro. Guardo o início, guardo o meio, o três de Maio e o fim. Guardo cada recanto, cada olhar. Guardo o medo como desafio. A timidez como aventura. A ansiedade como batalha. Guardo os do sul, do centro e do norte. Deixo cada passada marcada na calçada. Deixo os abraços e os sorrisos. Deixo guardado o trajecto. Guardo cada um de vocês com muito cuidado. Obrigados companheiros, voltei a ser feliz em Tomar.
As pontes do rio juntam as margens. Nas encostas salpicadas de relva e flores. Choram os salgueiros. Ao domingo as canas são atiradas mortiferamente aos peixes. Numa luta desigual, fogem á morte fitando o isco. Os domingueiros passeiam a trinta e cinco quilómetros hora pela estrada nacional num exercício de paciência familiar. A sogra dá opinião e alvitres. Os miúdos repetem-se com perguntas acerca, “do que é isto?” Exercício de paciência agradadora. A sogra, o genro, a nora, a filha. É domingo finalmente. O mar enche-se de pessoas e o sol brilha com luz domingueira. Do mal o menos, os museus e centros culturais ficam habitados. Os cantores e poetas são ouvidos, e os cinemas povoados. O Colombo tem mais gente do que a nau quando chegou á América. O Vasco da gama tem tantos indianos como na Índia. Somos um País de navegantes ponto final. Navegamos ao sabor dos ventos e dos mares. Mas não somos estúpidos somos um País de poetas. Assim sendo Dra. Leite e Sr. (Eng.??????????) Sócrates e afins parem de nos enfiar este belo País pelos olhos dentro.
Porque anda Dra. A perder tempo a dizer que isto esta tudo mal?
È obvio que está tudo mal. Constata-se. Todos o sabemos.
E o Sr. Eng.???????????????? Porque anda a dizer que isto esta tudo bem? Todos sabemos o tamanho da sua mentira. Parem com isso e gozem o domingo. Não tarda, e estão a trocar de lugar e de discurso, e nós continuaremos como sempre, de domingo em domingo, a trinta e cinco quilómetros hora de alegre passeio. Afinal temos o fado para chorar e o Pinto da Costa para rir. Esse sim, esse é que a leva direita. O Porto afinal é uma Nação e o resto é conversa. Ali ninguém põe a pata em cima, que o Rio que divide a malta não deixa. Por isso não se aborreçam e deixem estar os domingos!.....
Galopam gritos de alerta através do dia e da noite. Fascínios azuis pedem ordem para se ausentarem. Danço de roda em roda com os pares trocados. O dia já leva muitas horas e a noite ainda se esta a pôr. No refúgio, o alento dá-me vida. Misturo as gotas que transpiro com o cheiro a pele. Os lençóis encharcados pedem a dose para acordar. Os cavalos soltos nas veias pensam em partir. No sussurro embriagado alucino. Perco de vista o pensamento. Durmo em sobressalto com a angústia de acordar. Adormeço solenemente após a última dose. Foi assim que partiu mais um conhecido. A cena do costume encontraram-no roxo. Linda cor. Roxo alilesado. A cena do costume. A onda moralista do: “no fundo era boa pessoa”. Dividiu a vida entre a liberdade, a liberdade condicional e a prisão. Escolheu mal nesta vida. Desejo amigo que acertes na próxima.
Pertenço a um lugar. Viver é ter no horizonte o limite. Vivo. Pertenço á natureza que me rodeia. Não pertenço necessariamente ao sítio onde nasci, vivo ou vivi. Pertenço ao sítio donde sou e onde me sinto bem. Dentro do meu continente ou não. O mar na verdade não é igual em lugar nenhum. O céu tem tons diferentes em cada milímetro quadrado. A fogueira que acendo jamais grita o mesmo som. A luz ao amanhecer nem sempre é alaranjada esverdeada. O solstício é vitalício e eterno, mas não encerra sempre a mesma verdade ou verdades. O luar é doirado e imprevisível. As ruas empedradas que desço com a noite, e a sombra, fazem me viajar. Sei que em cada esquina existe a mudança. Mudo de rua, de princípios, de vontades. Os putos que chilreiam nos jardins estão ali existem anos. A velha vedação que toco com os dedos não apodreceu, e as arvores são altas e largas. O vento que corre entre as ruas foge-me, não o apanho. Sento me no degrau gasto. O nevoeiro passa por mim e nem me vê. O bairro recebe em si mesmo, o sono. A música apenas existe em mim como um silêncio, misturado do sítio onde afinal existo. Oiço o gemer da matéria, a ceder. No pátio da igreja vazia, as folhas caem arrumadas. A torre dá-me as horas do silêncio. Aproveito a noite e a paz para carpir as minhas mágoas. Lavo a cara com lágrimas que guardei tanto e tanto tempo. Questiono a natureza, as decisões, a forma de existir, as escolhas. Desvalorizo para logo de seguida valorizar. Faço musicas e pinto quadros num delírio metafórico. Alegorizo a existência e cedo. Mudo de degrau e encosto-me á ombreira como outrora me encostei ao sonho. O sonho ainda lá esta. Barbeado e com bom aspecto, a enganar os que nele não acreditam. Bem aventurados os que crêem no sonho. Um dia “ele” será real. Será realizável como sempre. Afinal o sonho esta mesmo mesmo…. Ali ao lado.