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Cardilium

Cardilium

Os olhos

 

Os olhos não vêm o que vê o coração,
Facadas rudes rolam rua abaixo,
A miséria foge á miséria juntando-a.
 
Falam seres ásperos,
Numa surdina ruidosa,
Dos outros, da vida dos outros.
 
Seres perfeitos,
Intocáveis,
Emocionalmente desgraçados.
 
Nos jardins, crianças e velhos
Povoam de flores os sorrisos.
Os olhares julgam o alheio.
 
Escasseiam poemas…
Escasseia vida…
Escasseia o conceito auto crítico.
 
Pincelam-se de vida,
Quadros inacabados,
Pobres e podres.
 
Ser poeta afinal
É ver sem ser visto,
É amar, sem ser amado.
É conhecer, sem ser conhecido,
É voar, sem ser pássaro.
É ser vida, morte, estrofe e vento…

FMM 2008

Trago a noite no peito. A lua misturada com o mar revolto acena-me. O Céu, o vento, as estrelas, e o mar. Sinto o cheiro a musica nas mãos. Sentado numa praça que não conheço, mas onde me reconheço adormeci. O perfume e a música teimam em não me retirar a noite, o céu, o mar, as estrelas, o vento e a melodia. A imagem real do tempo está desocupada num banco. Pertenço ali. No fundo vivo num constante ajustamento a um sítio onde não pertenço. Vivo num sítio onde não conheço pessoas. Onde as pessoas não me conhecem. Tenho os três ou quatro do costume. Não gosto do bom gosto. Não gosto do bom senso. Esgotarei noutro continente.
Visitei o FMM – Festival Musica do Mundo. Sobressaiu a minha pequenez defronte a tanto talento. Viajei pelo Mali, Senegal e/ou Trinidad Tobago. As noites de fumo adocicado encaminharam-me pelas manhas. A areia foi o meu leito. As ondas o meu balanço. Resta-me ler e viajar com as palavras. Basta-me não colaborar e pensar por mim. Pensar é ok !... Melides está lá... Modificado, mas intocavel !...

Obrigados companheiros , voltei a ser feliz em Tomar.

Sonho a preto e branco sonhos longínquos e coloridos. O tempo pintado de madrugadas e letras traz vagarosamente o sonho. A cada seis meses esfumaram-se os dias. Senti que o dia ia chegar. Dias ansiosos e compulsivos. As noites passaram pelas estações. Entre Setembro e Fevereiro fumei o nevoeiro entre o virar de cada página. De Fevereiro a Julho respirei o cheiro das flores após cada livro que li. O sonho sentia-o. Aproximou-se á medida que o tempo se esfumou cada vez mais. Estonteante e apressado. Comi fruta e bebi agua enquanto percorri os conceitos que me trouxeram ate aqui. Cheguei. Praticamente cheguei. Não ao fim, mas ao início de mais qualquer coisa que irá acontecer. O mágico é não saber precisamente o que vai acontecer. Não tenho medo. Estou sereno e com uma sensação agradável e normal de dever cumprido. Valeu a pena a travessia. Valeu a pena as pessoas, os amigos. Guardo Tomar no coração. Guardo o convento, o rio, a barragem, as madrugadas de pão quente, a estrada da serra, a corredoura, a levada, os bares, o jazz. Guardo a praça e tudo o que senti. Guardo a mata e a luz. Guardo o cheiro. Guardo o início, guardo o meio, o três de Maio e o fim. Guardo cada recanto, cada olhar. Guardo o medo como desafio. A timidez como aventura. A ansiedade como batalha. Guardo os do sul, do centro e do norte. Deixo cada passada marcada na calçada. Deixo os abraços e os sorrisos. Deixo guardado o trajecto. Guardo cada um de vocês com muito cuidado. Obrigados companheiros, voltei a ser feliz em Tomar.

Os domingos

 

As pontes do rio juntam as margens. Nas encostas salpicadas de relva e flores. Choram os salgueiros. Ao domingo as canas são atiradas mortiferamente aos peixes. Numa luta desigual, fogem á morte fitando o isco. Os domingueiros passeiam a trinta e cinco quilómetros hora pela estrada nacional num exercício de paciência familiar. A sogra dá opinião e alvitres. Os miúdos repetem-se com perguntas acerca, “do que é isto?” Exercício de paciência agradadora. A sogra, o genro, a nora, a filha. É domingo finalmente. O mar enche-se de pessoas e o sol brilha com luz domingueira. Do mal o menos, os museus e centros culturais ficam habitados. Os cantores e poetas são  ouvidos, e os cinemas povoados. O Colombo tem mais gente do que a nau quando chegou á América. O Vasco da gama tem tantos indianos como na Índia. Somos um País de navegantes ponto final. Navegamos ao sabor dos ventos e dos mares. Mas não somos estúpidos somos um País de poetas. Assim sendo Dra. Leite e Sr. (Eng.??????????) Sócrates e afins parem de nos enfiar este belo País pelos olhos dentro.

Porque anda Dra. A perder tempo a dizer que isto esta tudo mal?

È obvio que está tudo mal. Constata-se. Todos o sabemos.

E o Sr. Eng.???????????????? Porque anda a dizer que isto esta tudo bem? Todos sabemos o tamanho da sua mentira. Parem com isso e gozem o domingo. Não tarda, e estão a trocar de lugar e de discurso, e nós continuaremos como sempre, de domingo em domingo, a trinta e cinco quilómetros hora de alegre passeio. Afinal temos o fado para chorar e o Pinto da Costa para rir. Esse sim, esse é que a leva direita. O Porto afinal é uma Nação e o resto é conversa. Ali ninguém põe a pata em cima, que o Rio que divide a malta não deixa. Por isso não se aborreçam e deixem estar os domingos!.....

“no fundo era boa pessoa”

Galopam gritos de alerta através do dia e da noite. Fascínios azuis pedem ordem para se ausentarem. Danço de roda em roda com os pares trocados. O dia já leva muitas horas e a noite ainda se esta a pôr. No refúgio, o alento dá-me vida. Misturo as gotas que transpiro com o cheiro a pele. Os lençóis encharcados pedem a dose para acordar. Os cavalos soltos nas veias pensam em partir. No sussurro embriagado alucino. Perco de vista o pensamento. Durmo em sobressalto com a angústia de acordar. Adormeço solenemente após a última dose. Foi assim que partiu mais um conhecido. A cena do costume encontraram-no roxo. Linda cor. Roxo alilesado. A cena do costume. A onda moralista do: “no fundo era boa pessoa”. Dividiu a vida entre a liberdade, a liberdade condicional e a prisão. Escolheu mal nesta vida. Desejo amigo que acertes na próxima.

Barbeado e com bom aspecto

 

Pertenço a um lugar. Viver é ter no horizonte o limite. Vivo. Pertenço á natureza que me rodeia. Não pertenço necessariamente ao sítio onde nasci, vivo ou vivi. Pertenço ao sítio donde sou e onde me sinto bem. Dentro do meu continente ou não. O mar na verdade não é igual em lugar nenhum. O céu tem tons diferentes em cada milímetro quadrado. A fogueira que acendo jamais grita o mesmo som. A luz ao amanhecer nem sempre é alaranjada esverdeada. O solstício é vitalício e eterno, mas não encerra sempre a mesma verdade ou verdades. O luar é doirado e imprevisível. As ruas empedradas que desço com a noite, e a sombra, fazem me viajar. Sei que em cada esquina existe a mudança. Mudo de rua, de princípios, de vontades. Os putos que chilreiam nos jardins estão ali existem anos. A velha vedação que toco com os dedos não apodreceu, e as arvores são altas e largas. O vento que corre entre as ruas foge-me, não o apanho. Sento me no degrau gasto. O nevoeiro passa por mim e nem me vê. O bairro recebe em si mesmo, o sono. A música apenas existe em mim como um silêncio, misturado do sítio onde afinal existo. Oiço o gemer da matéria, a ceder. No pátio da igreja vazia, as folhas caem arrumadas. A torre dá-me as horas do silêncio. Aproveito a noite e a paz para carpir as minhas mágoas. Lavo a cara com lágrimas que guardei tanto e tanto tempo. Questiono a natureza, as decisões, a forma de existir, as escolhas. Desvalorizo para logo de seguida valorizar. Faço musicas e pinto quadros num delírio metafórico. Alegorizo a existência e cedo. Mudo de degrau e encosto-me á ombreira como outrora me encostei ao sonho. O sonho ainda lá esta. Barbeado e com bom aspecto, a enganar os que nele não acreditam. Bem aventurados os que crêem no sonho. Um dia “ele” será real. Será realizável como sempre. Afinal o sonho esta mesmo mesmo…. Ali ao lado.