Antítese é uma forma de vida. Nascemos em sentido inverso. As estrofes não são simétricas. Carregamos decisões irreversíveis. Somos um projecto iniciado e inacabado . Exportamos beijos por exportar. O caminho inverso é a antítese. Não nasci para fazer o que faço. Não nasci para morrer. A morte não existe. A morte é a recordação da vida, nada mais. Abri um túnel na montanha para não a escalar. Acampei no fundo do mar e abri janelas nas árvores. Dos quadros fiz a minha casa. Comprei nuvens para alugar. Guardo num escaparate um frasco de cheiros. Frasco de momentos quentes pintados de imagens. A música dança ao vento como uma maluca. Pela manha saiu de casa a saudade. Ainda não voltou. Fica pela madrugada fora a falar com estranhos. Fica presa ao pesar do tempo. Não se pode encher a alma de palavras. As palavras esvaziam-na. A alma enche-se de momentos. A poesia já não é uma prenda. Já não descreve o caminho. A poesia pintou Abril. O Abril converteu-se em antítese, como a existência. Grandes vagas embatem de encontro á vida. Não sei se me vou pôr a caminho. Se me perco. Se me encontro. Se me deixo ir pelo beijo, pelo abraço, pela contradição. Sábado três de Maio esta aí….Bem vindo. Fica o sonho de me revisitar.
Vivo desencontros que sei não serem reais. Tenho saudade dos brindes e dos olhares de soslaio encostados ao balcão do bar que frequento. Fico com saudade dos cúmplices olhares e do abanar ritmado dos acordes saídos dos corpos das miúdas que se passeiam por ali.
Disfarçam absortas a ligação ao meio! Gosto deste jogo do não reparo! Gosto porque reparo. O que me mantêm incorporado ao balcão é ter uma mão cheia de tudo e outra cheia de nada. Gosto do cheiro a álcool com perfume e cigarros. Gosto das imundas casas de banho e das conversas. Aprimorar a maquilhagem é o segredo que guardam os espelhos. Mantém-se o dia no dia. Vive-se obstinado pelo que não se sente. Escolhem-se os especiais para se continuarem solenes encontros. O jantar das quintas é enorme, o da sexta é recatado.
E as noites???
As noites alteram-se uma a seguir á outra. As rotundas são inundadas pela seita. Na madrugada é ver os pedaços moribundos da velocidade. Chamam-lhe Tunning ou Chunning ainda não assimilei o termo. Sou a favor de uma sala de chuto também para estes. Matem-se. Não tem problema. È uma escolha. Respeito. Não tenho nada a ver com isso. Mas na rotunda da minha casa não por favor, a minha filha ainda não chegou. Encontro-os roufenhos á porta do bar donde saio. Em exposição soltam-se latidos misturados com risos. Trouxe do bar o ritmo abanado em crescendo pelos corpos das miúdas que fingem não existir. Trago uma mão cheia de tudo e outra cheia de nada!...
Os lobos comunicam com o uivar. Encaminham sinais pelas estrelas escritas no céu. Amanhece cada vez mais tardiamente. O encontro fugidio dos amantes é mais espaçado. Geme água das pedras solidárias. O frio gélido invade a alma. O espírito desassossegado e insano não pára de projectar encontros. Encontros que tardam em apagar o fogo da alma do desejo. O desejo de um rio que se mistura com o mar feroz na foz. A lua é testemunha dos amantes. As gaivotas apanham as ondas do mar num baloiçar que invejo. Resume-se a vida aos desencontros. Adormeci hoje pleno de paz. Mais um dia em que olho para o lado e me apetece fugir sem me carregar. Desaguam de mim ideias em desalinho. Sinto-me vagarosamente agitado e cerebral. Inquietante este estar. Está cravado em mim aquele telhado esquinado do mar da Gelfa. O vento que levanta a areia fina e a torna numa neblina sedutora e envolvente sobrevive. A velha ponte de madeira que range ás passadas incertas passa pelo Inverno sem ceder. Não penso mais nisso que o destino há-de abonar. Assim vivem em sentido proibido os amantes. Os arautos do Amor.