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Cardilium

Cardilium

Pior do que morrer é viver-se morto

Ontem pensei na morte e na vida. A morte é a continuação da vida. A vida não é a sequência da morte. Pior do que morrer é viver-se morto. È estar morto na vida. Quando alguém que eu Amo parte, sei que fiz o possível em vida para guardar os momentos os afectos. Já subi uma montanha em conjunto. Já vi o mar. Já discuti as notícias. Já me zanguei e reconciliei. Já perdoei e fui perdoado. Já chorei e já ri. Já abracei e disse que sentia saudades. Já fui ao futebol. Tento em vida dar e permito-me receber. Quero nessas horas não chorar por não ter feito ou dito. Quero nessas horas sentir o que juntos passamos. Quero sentir na morte a vida que vivemos. Não quero chorar perda, quero somente chorar saudade. A mesma saudade que senti na vida por vezes. Enquanto existir a recordação a morte não existe, porque esta viva com ela. Quero estar cheio de regressos atempados na partida. Quero abraçar cada minuto enquanto vives. Quero saber de ti. Ouvir-te. Festejar os sucessos e as preocupações. Não quero dizer: - “podia ter feito” Quero fazer, dividir contigo a vida…….

O meu porto seguro

A diferença entre o mundo e o meu mundo é enorme. No meu mundo não é preciso jogo de cintura. Não é preciso chave para entrar, os convidados não usam convite. No meu mundo não preciso de estar, para os meus amigos se encontrarem. No meu mundo basta estar por estar. Basta sentir. No meu mundo não há truques nem ilusionistas. O meu mundo é temperado. Nunca faz demasiado frio ou calor. Chove sempre que apeteça ao tempo chover. Os dias não têm intervalo. O amor acontece porque as pessoas se amam, apenas porque se amam. Ficar vulnerável não tem mal, tem bem. A proximidade mistura-se com abraços. Os abraços têm cheiro. No meu mundo não há camas, o chão é forrado de felicidade e momentos. As paredes têm um ar sereno e calmo, o telhado é feito de céu. As nuvens são convidados habituais dos festins inundados de toques, olhares e gargalhadas. As roupas são largas e os pés são descalços. A música é de todos. A dimensão é una. O timbre é ameno e aprazível. As vozes entram por ordem. Ouve-se a sinfonia embalar as crianças que adormecem num sorriso de cansaço festivo. O ar tem fumo de cigarro dilacerado pelas conversas que não param de acontecer. O toque suave das nossas mãos, as pernas cruzadas, os dedos que ajudam as palavras a terem sentido são elegantes. Empurram-se tempos remotos para o dia. Chamam-se as ilusões e vivem-se. A lucidez neste mundo não é importante, porque mais lúcido que a lucidez, é a loucura do destempero. Fico descompassado quando a ansiedade me enche de nada. Fico em paz quando a agitação me faz sentir vontade de ir, de procurar, de abraçar, de roubar um beijo e fugir entre as ruelas de volta para o meu mundo. O meu porto seguro.

Esta feito

Dividi uma imensa alegria comigo. Festejei e dancei com a saudade. Partilhei a minha música e as minhas palavras. Celebração simples mas sentida. Fiz de grego previsível. Soube-me bem. Gosto das pessoas que têm a liberdade de me dizer o que sentem. Gosto de astutos de fácil e limpo raciocínio. Soube-me bem aqueles dois sorrisos e uma gargalhada. Foi a festa que fiz. Eu que tive a tangente do limite mínimo. Soube-me a máximo. De dentro de mim brotaram horas sozinho de raciocínio oleado de vontade. Leio a ultima folha de um livro. Sei que depois de o iniciar sofredoramente, quando chegar o fim, as duas metades que o constituem se unem, como se fossem minhas também. È somando as partes que os ensinamentos se tornam porosos e respiráveis. Suporto as noites fumadas na varanda. Suporto o vento que me limpa as bactérias. Oiço a lua passar antes de dar por terminado o meu período pós e laboral. Há coisas fantásticas não há. Os meus dias têm muitas horas. Anoitece mais tarde e é dia ao mesmo tempo. Está feito. Doem-me os ombros do peso. Mas está feito…por agora, esta feito. Nota dez.

“Não há machado que corte a raiz ao pensamento”

Espelha a baía os cardumes que a percorrem. O pensamento não tem fronteira, não tem limite. Atenuo quilómetros aos que hei-de palmilhar nesta vida. Acompanham-me inevitáveis sons que oiço no rádio.Entre as noticias e o trânsito que está a sul porque esta nebuloso, e a norte que esta solarengo. Penso: “vento de sul não é bom agoiro”. Mas não desvio a minha rota, não é uma nebulosidade que me faz desviar. Se já vivi tempestades, não é por o sol estar dissimulado que me vou desviar. Nem pensar. Ate porque dissimulado é apenas um estado de espírito. Passará com o correr das horas. Analisando assim o tempo, e os roufenhos sussurros que balbuciam no meu eu, de mim para mim, explico a forma como me relaciono. É isto, pensamentos. Não passam disso mesmo. São incertezas. É o desrespeito completo pelo tempo. São sólidas mentiras e terríveis verdades. Os quilómetros vão desaparecendo vagarosos. Os pensamentos a quem não peço para existirem, são velozes e numerosamente falíveis. Chego sempre antes do destino e depois da partida. Penso por que penso. Gosto de não entender. Gosto do que percorro com o pensamento. Gosto das memórias que guardo e dos assaltos sem permissão. Gosto do ingovernável e do incontrolável. Gosto dos suores frios e do calor descontrolado do meu sorriso. Gosto da vergonha e de mandar os olhos de encontro ao chão. Gosto da luz que sinto no pensamento. “Não há machado que corte a raiz ao pensamento”