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Cardilium

Cardilium

Extase

Entre as brumas
Outrora
As palavras foram subtraídas
Aos sentidos.
A soma das raízes
Juntaram pétalas
E assim se fizeram
As flores.
Ofereço-te uma flor.
Flor
Giesta
Madrugada,
Sol
Sal
Mar
Terra
Poesia.
Entre o fogo que a agua não apaga
A tua transpiração nos meus lábios
É doce,
A tua respiração sufocante
Acalma o vento
Que me conduz.
O frio que me afaga
O cabelo,
Os teus lábios
Sabem me bem
A tua língua dita o segredo
Do êxtase
Que de mim sugas,
Em trocas prolongadas
De beijos sem fim
Do limite que não existe
Tenho a alma acesa

Sonhos

Por vezes sonho com uma existência irreal. Sonho com planícies ás cores e aos quadrados. Cada quadrado da sua cor. Quadrados laranjas. Quadrados rosas. Quadrados violetas. Sonho com um mar de arco-íris. Mar com ondas ás cores e de diferentes formas geométricas. Sonho com ondas em triângulos dourados e em círculos prateados. Vejo um gigantesco areal a abraça-las, e sentadas, ali ficarem em alongadas conversas, a falar dos versos que as juntaram ali. Vejo o céu curvar-se educadamente ao sol e a ceder passagem á lua. Vejo os pássaros assobiarem melodias ás garotas e vejo as garotas esboçarem um sorriso feliz e tranquilo. Vejo a sedução ficar inteligente. Vejo o destino sem preocupação. Vejo as raças viverem em igualdade. Ás vezes tenho este lindo sonho. Sonho com a harmonia dos números e das letras. Sonho ver os cheiros dançarem antes de o semáforo cair de verde. Sonho com um burburinho agradável e com os respeitáveis silêncios. Sonho ver a justiça de braço dado com a lei, caminhando pela marginal das noites estreladas. Sonho com piqueniques de emoções e as sombras frescas das colinas. Sonho com o sofrimento da minha sanidade mental. Sonho com a loucura a governar o mundo. Sonho com corredores intermináveis de beijos. Sonhos com sons rudes e melodiosos. Sonho com a frescura prolongada das madrugadas. Sonho como eterno nevoeiro. Sonho ser. Sonho sonhar, num sono de não acordar. O sonho comanda a vida.

Assim mesmo

Cortei as correntes e fugi

Antes de cortar as veias.

Não me encontro mais aqui, morri!...

Morri de nojo pelo que vi

Morri de nojo pelo que senti.

Levo comigo recordações que trago no peito,

Ontem no meio de uma esquizofrenia

Suicidei três tipos ,

Tipos cultos e responsáveis

Tipos desatentos,

Distraíram-se

Foi á queima-roupa.

Depois passei a ferro uma camisa,

Que levarei vestida para outra morada amortalhada.

Clara como a alma e o espírito que provo existir.

Vou de chinelos, calções e camisa.

Fui,

Sem abrigo emocional,

Desportista ocasional,

E escriturário comercial,

Assim mesmo.

Como a serra se põe na noite,

O azul planície esconde-se no horizonte.

Vejo da cruz alta

As luzes da cidade .

Tremulas de distância

A paixão eleva-me!...

Teus lábios de seda !...

Teus lábios de seda
Rosa púrpura desafiam-me.
Teu olhar claro e calmo desvia-se.
Cruzo a noite numa rota que desconheço.
Num azul de incenso baldio, inútil
Perco-me em vagas de emoções,
Na sombra que me segue.
Perseguem-me passos de vento,
Penso em morrer e nascer de novo!
Morre por dentro o passado,
O futuro é colorido quando te vejo,
Em passos lentos de dança.
Teus ombros elegantes
Sobem e descem
Em cada olhar meu
Ao teu passar.
Sento me no sofá e oiço o teu coração,
O teu respirar visceral.
A tua tez,
Os teus lábios de seda rosa púrpura
Fogem-me!....
Cheiro as estrelas
Quando o sol acorda!...
 

Jorge Palma !....

Ontem vi o Jorge Palma. Enche-me. Enche-me a sua inadequação, a dependência ser uma maluca, saber quanto vale um beijo. Enchem-me os lábios de silêncio, vento, mar e solidão. Ambiente impróprio, com a praia ali tão perto e fogueiras por atear. Enchem-me os acordes falhados e as frases esquecidas. Enche-me cada trago de cerveja, com que comemora cada música. Sei o quanto vale há anos. Não tenho a certeza absoluta se parte daquela gente saberá quanto vale um homem, sem saber exactamente quanto vale a decadência que declara. Gosto o suficiente, para me agradar na mesma a sua escolha. As palavras encadeadas com os acordes não têm segredos. São lúcidas e luzidias. A forma como murmura fora da lei, como pinta um bairro de amor, como trata as nódoas negras sentimentais, como define a alquimia das estações. Gosto do sotaque envergonhado, do olhar, do sorriso prateado e das breves interrogações. Gosto do desprezo com que trata o seu virtuosismo. Gosto como fala do mar e das marés. Gosto como sente. Gosto como me faz sentir. Tenho recordações que me traçam a alma. Lembro-o da Alcadaria do Castelo há mais de vinte anos. Lembro-o do areal de S.Pedro de Moel, onde o rio desagua de tal maneira que não se consegue dizer quando se mistura com o mar “Porra finalmente o rio desaguou”. Lembro o dia em que o baterista lhe fugiu. Tocou apenas o seu talento e um violino a embalar. O mesmo Jorge de hoje. Que  sente e toca, como se não houvesse amanha, e á sua roda existissem amigos que se reúnem para tocar cantar e beber. Adorava apenas saber, o que pensa um homem assim, do casino do Estoril (risos). Provavelmente pensa o mesmo que eu (risos) Mais uma obra-prima este Voo Nocturno. Gracias por tudo Jorge. Palmas para o Palma!......

dias desabafados

Viver assim nao custa
entre dias desabafados
divididos e partilhados...
Medo da felicidade ?
da experiencia passada ?
mas o futuro é ali !...
agarro-o sem medo
porque me sei merecedor.
porque sou louco e atinado,
porque sou cancao, poesia....
...e ajudante de feiticeiro.
sou lagrima e riso
sou paixao
o Amor ainda me gere
o Amor ainda nos gere

O relógio de sol da torre

Soube pelos meus olhos. Segui os teus passos em direcção oposta, seguravas os teus cabelos. O mar imóvel esperava-te, As ondas deixaram de existir. O teu olhar misto de dor, não me queria ver. Não me vias. Não te vês. No teu andar de medo, assustadoramente fugias. Não se esquece com a cabeça, o coração. Sabes disso depois de cada copo. Adias a vida como se as horas se esfumassem. Mentes ao sentir ilusão Não me olhas. Um olá, um bom, dia um até logo, são as longas conversas que temos. No cimo da colina olhas cada esquina, como se ao dobra-la, a felicidade se esquivasse. Mas o abraço que teimas desperdiçar está na madrugada. De agora em diante Deus e o diabo são a mesma coisa. Os dois têm a mesma forma mas conteúdos diferentes. Complementam-se. Como a verdade e a mentira. A ilusão e a desilusão.
        O enamoramento é coisa vã. O relógio de sol da torre marca as horas com a natureza. È de sol. Não pára com o vento ou nevoeiro. Não adianta com as marés. Tem letras romanas que marcam as entradas e as saídas da porta renascentista. Três saxofones e uma bateria tocam as horas. Tudo negro, muito negro. Uma luz encandeia. A natureza não faz parar o tempo. A paz não se foi com a tua chegada, nem partiu com ela. Os momentos lúcidos assaltam-me. Travam as minhas vontades. Converso de pernas trocadas sentado no chão. A maresia espalhou a caruma onde adormeci. Acordo embalado com o silencio. Vi um olhar num corpo que conheci, que se transforma boemiamente. A pele não é cetim como a alma. A luz é turva. A barriga cresce. O fumo escurece após os anos. O envelhecimento acontece. O amadurecimento não. Os dias são dolorosamente gastos, na ânsia de os liquidar apenas. Isso, matá-los para eles não nos matarem a nós.