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Cardilium

Cardilium

Pós FMM 2007

Luxuriantes embalos escondidos da poluição que patrocina o fmm / mecenato galp ecoaram do castelo para a praia, e da praia para o castelo. Gosto dos sons rústicos e da festa em si. Estava seguro, confiante, entre amigos daqueles com quem ouvimos musica há anos. Estava com a minha menina. Estava onde gosto de estar com quem gosto de estar. Mar, lua e serra. Continuo a ser feliz por aquelas paragens. Que bem me soube Melides e Santo André. Que bem me soube a Arrábida, a Figueirinha, o Portinho e a Praia das Bicas. Que bem me soube a viagem. Descanso merecido depois de mais um ano de trabalho e de escola. Fui sem preocupações. Tudo resolvido na minha vida. Dancei, conversei e ri. Dormi bem. Bebi água para não inchar. Ainda não percebi se é a musica que promove os aromas doces que andam no ar, se são os aromas adocicados que tornam a música doce. Vi gente conhecida. Só isso, gente. Protegi o meu rebento. Falei-lhe da natureza, e da essência humana. Explique-lhe o que as drogas fazem ás pessoas. Falei-lhe do irreconhecível. Falei de Amor e desamor. De entendimento e desentendimento. De aceitação. Tudo isto precisou de entender. Falamos de música e dançamos. Dançamos muito. Nadamos, apanhamos sol e lua. Tiramos fotos. Corámos juntos. Falei-lhe do essencial ser invisível aos olhos. Abracei-a. Não gosto de Sines, é poluído. Gosto do castelo e das músicas do mundo. Gosto da cor das cores. Gostei muito de algumas coisas que ouvi. Gostei do que li. A harmonia faz a poesia. E foi a harmonia que fez o regresso. Guardo imagens dos recantos e dos pescadores. Guardo a musica.

Pré - Sines 2007

A esperança arde entre brisas incandescentes e multidões em silêncio. Espero pelo fugaz encontro. Encontro marcado por um cruzar de olhares. Profundos olhares. O dia ainda não nasceu. Já se põe o mar. Corro na areia para a foz. Misturo as pegadas e perco-me. Perco a esperança adiada e os sítios que não guardei. Troco beijos com as gaivotas que me assobiam com voos rasantes ao entardecer. As escarpas onde me debruço em silencio dançam comigo. Troco ideias que não param de me assaltar. Sinto-me roubado pelos pensamentos que solto. Sinto-me tão bem. Perdido nos encontros da viagem que começo. Vou hoje para o castelo. Vou hoje para o mar. Vou á boleia do sol. Viajo com a lua e as músicas do mundo. Vou para além do Tejo. Do outro lado do rio. Do lado de cá de mim. Espero amigos, embargado na ânsia da chegada. Adio o regresso na areia molhada de sal. As marcas guardam os momentos. As casas vestidas de branco olham imóveis viajantes dançantes. O Castelo envolto de luz revive fartas festas principescas. O luar aparece escondido do mar. As nuvens sombreiam os meus passos. Abraço a minha filha e caminho pelo mundo

“ai louvado seja Deus” !......

Tenho algum medo de opinar acerca do que o Sr. josé sócrates. Eu que fui iludido por ele. Pareceu-me sério, genuíno, educado e civilizado. Não me pareceu o trouxa corrupto e ditador que afinal se revela. Não me pareceu um seguidor convicto do cavaco. Enganou-me claramente. O meu medo é apenas um. Temo que mova influencias para me despedir, ou processar disciplinarmente. Temo que não me deixe terminar uma licenciatura, sem ser a favor. O alberto joão do continente é como o classifico. È sonso. Desconfio sempre de sonsos. É no que dá uma revolução de cravos. Onde é que já se viu isto? Revolução de cravos. Lembra-me uma marcha gay de camisolas de alças, de armas aos ombros, com baionetas de cravinho na ponta. Está na hora! Esta na hora de fazermos uma revolução a sério. Com bombas a sério, ligadas á ignição dos carros topos de gama, comprados com o nosso dinheiro. Que se lixem os carros. Estafermo. Temos que recomeçar. Fazer tudo de novo. Com convicção e motivação. Plantar arvores. Regenerar. Educar e cuidar. Sem compadrios. Que se lixe o tgv a ota e as ostentações injustificadas de grandiosidade. Basta-nos o suficiente. Ter pensões e saúde. Ter mar, vento e sol. Peixe e agua. Livros para ler e canções. Pão e progresso. Basta respeitar o ritmo a cadência. Basta podermos fazer humor sem vir um qualquer cabrao filosofo pidesco entalar-nos. Basta-nos o 25 de Abril sempre. Treze candidatos a uma câmara sem futuro? Esta eleição não é humor, é pura ironia e um atestado de burrice passado em nome colectivo, a um milhão de portugueses que vive em Lisboa e arredores. Chega vão “barda merda”. Os treze mais quem os proteje. Razão tem o Saramago quando inventa um Ensaio lúcido sobre o boicote ás eleições. Deviam embargar esta palhaçada e entregar a gestão da nossa Lisboa á comissão social e recreativa de melhoramentos e integração social da cova da moura. Devíamos mudar de padroeiro que este não esta a resultar. Mandávamos o Santo António para o Porto e trazíamos o São João para Lisboa. Já que estamos em época de transferências. Se o Nani vale 25 milhões quanto valerá o Santo António? Como dizia a minha sábia avó Nim “ai louvado seja Deus” !......

Pat Metheny & Brad Mehldau

Ao campo Grande numa sala cara com gente bronzeada. Duas horas e meia de Pat Metheny & Brad Mehldau bem medidas. A sala não estava cheia como convém. Três plantas enormes em crescendo e uma diminuta. Altura houve em que não me senti ali. Embriagado entrei pelo virtuosismo adentro. As drogas nunca me fizeram sentir tão bem. Fui á cidade de fugida como gosto. Sitio pacato e discreto para um domingo á noite. Na avenida do Brasil quis deixar o meu companheiro destas andanças. Destas andanças da vida. Não quis ficar. Disse-me: “um dia quem sabe”, lembrei-me da Gelfa. Sitio adequado para o mesmo fim. Ainda estou cheio daquela música que me elevou. Como é possível fazer tanto bem á música, com música! Como pode um contrabaixo, dar-se tão bem com um piano, e uma bateria subjugar-se assim, a uma viola? Como podem as luzes, serem cúmplices do silêncio? Como pode a subtileza da despedida não deixar mágoa, e deixar a alma cheia, a acreditar no encontro seguinte? Como pode coexistir assim a poesia? Não distingui os doutorais dos outros. È esta a magia da musica, igualdade. Em cada rosto um amigo. O azul clorofila projectou-se na luz que me cegou. E assim respirei mais duas horas e meia de vida. A minha pele ainda se sente arrepiada. As minhas mãos trauteiam o compasso. O meu andar é melodia. A paz cristalizou em mim. Só por ontem, de oito para nove de Julho de 2007. Adormeci atordoado de sentir. Adormeci fascinado pelas palavras trocadas. Autenticas.

Festival Africa 2007

Chove uma brisa suave, que não é chuva nem é brisa. O ar incrédulo seca a respiração do mar. Escrevo saudoso este beijo. Trato mal o meu coração. A música enche de lua o rio. Junto á torre chega a noite. De Africa vem quente a brisa. Não gosto da cidade. Conheço-a. Não vou ali porque vou. Vou ali porque não vou. Amante dos acordes menos elaborados. Seduzem-me. Fascinam-me. Sinto menor o número de pessoas que deliram com o rústico e espontâneo da festa. O festival Africa invade-nos. Não se ouve musica na cidade, os prédios e os eléctricos atrapalham. Para quem me ler oiçam: Sally Nyolo, Baaba Maal, Ali Farka Touré, Tinariwen. Dias antes uma super produção. Os acordes batem nos decotes e nas madeixas feitas de moda. Horas depois a festa, como foi inventada. Simples. Descalça. Sem preconceitos. Sem imagem. Com toques e cheiros. Com sorrisos e corpos. Movimento. Festa negra colorida. Rendo-me. Vergo-me a ouvir a simplicidade  passar. Trato mal o meu coração porque não gosto da cidade. Mas gosto. A maior liberdade que tenho, é poder escolher a prisão em que vivo. Escolho a de um sábado á noite junto á torre de Belém do outro lado do rio, da Lisnave em plena laboração. A liberdade passou por ali. E assim quinze intermináveis noites obsessivas e académicas se foram. Voltaram as palavras que me purgam.