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Cardilium

Cardilium

Negro olhar olharento

Subo ao monte

Grito.

Palavras que me entalam.

Me consomem diariamente,

Massacram.

Negro olhar olharento !

 

 

De agora em diante

No solstício,

do céu negro e azulado,

Espero pela noite,

Sozinho espero.

Negro olhar olharento !

 

 

Com letras quentes

Construo as palavras.

de sílabas que fervilham

dos corpos dormentes.

que se agitam,

Negro olhar olharento !

 

 

 

Caminho acorrentado

Na ansia de me libertar.

A morte ? já a prefiro !

Que a falsa liberdade

de por ti estar vivo.

Negro olhar olharento !

 

 

Um minuto bastou

Um simples minuto faz a recordação. Lembra-me o mar a sul. Viagem inventada sem destino por acordes de sudoeste. Rumo a sul. Viagem cega, sem porquês! Risco total. Quanto mais difícil mais feliz. Mais sucesso. Acordo as manhas com beijos. Almoço vento e sol. Passo pelo estreito e volto. Danço com os perfumes de “Colónia de Hierba” de nuestros hermanos. Viagem calma pelo burburinho. O mar bate de madrugada á porta. O fogo queima-me as vísceras. Volto ao templo, disposto a continuar a caminhada iniciada. Desgastei com insucessos a viagem cega. Do outro lado, nos montes marroquinos, ecoam orações lilases aos defuntos. Colo-me pálido á parede, para os ver  passar. Oiço rezar. Um rezar brando e choroso. O chorar da entrega de um corpo lilás ao castanho da terra. O mar bate de encontro á muralha, onde os “putos” aspiram fome e solidão. Os turistas guardam momentos de miséria, em troca de uma moeda. Vou fazer uma trova. O tempo urge e o regresso é feito sem pensar. Apenas sinto vontade e desejo. Sinto fé. Regresso de Africa. Pelo Sul. Subo até casa. Pela costa. Finto os meridianos e espero. Os dias seguintes são amenos. O vento empurrou as dunas reboladas. O regresso nunca foi um dia por acabar.

Ergo os olhos acesos!

Ergo os olhos acesos! Encandeio-me. Cega-me uma luz densa e fria, que me gela. Sinto ferver o sangue de não me querer dar! Não entrego a minha alma assim de madrugada. Guardo-a numa simbiose egoística e apavorada. Finalizei um percurso labiríntico. Os rios e os ventos povoam-me o pensamento. Confundem-me. Fico amarrado ás horas de fogo amaciado. Como um rio seco, quente, árido e desaguado. Esplendoroso. Pesam-me as pálpebras de espertina. Sonho com um País parado, imóvel como um quadro. Reflicto! Antes fosse uma árvore que te tocasse. Arvore larga e oca. Oca de interiores habitados e cheios. Há dias em que fico tão cansado que imagino um ser no meu sofá para me embalar. Há dias em que quero envelhecer devagar. Mas sei que nunca vou entender. Então que seja livre a ter o demónio na alma. Mudo de sorriso. A cor dos olhos. Preservo a alma. Comemoro festejos antigos e remotos. Assobio à janela. Não sei para que porto navego. Nem sequer sei se navego. Travo a respiração pelo prazer de sentir o cérebro atordoado. O prazer de me sentir alucinado. Durmo pouco pelo prazer de tremer. Gosto de estar exausto. Gosto de resistir. Resistir para desistir nas oito horas que mereço. Guardo as tempestades como se a saudade não existisse. Guardo os nomes que escrevi na areia escaldante. Apagam-se as ondas enroladas na areia.