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Cardilium

Cardilium

Enquanto houver ventos e mar !

De coração embelezado cortado pelo vento do sul espero-te. Espero pelo dia da coragem. Espero pela noite dentro, sonolenta e prazeirosa, o convite. Não me apresso, gosto assim. Gosto de não te ter. Gosto de te ter perdida, sem encontro. Temo o fogo incandescente incontrolável. Apago-o. Ateio-o. Volto. Fujo. Regresso sem sentir que regresso. Acredito. Desacredito. Analiso, sem querer saber. Mas sinto. Sinto os músculos tensos, e a barriga fria. Domino o medo sem dominar a ânsia de me ligar a ti. Aguardo. Espero. Espero por um dia, que não quero que chegue. Basta-me o que tenho sem me chegar. Quero enrolar-me a ti. Ver o rio a passar e os peixes a bailarem, sentado na relva que imagino fresca. Conversar letras quentes e palavras que escaldem. Palavras que ditaremos um para o outro. Palavras escritas. Palavras ditas. Palavras confirmadas pelos gestos e olhares. Confirmadas pelo timbre. Os dedos enroladas nas mãos que entrelaçamos, dedilhados pelo luar do castelo altaneiro, que se ergue na ilha do meio do rio. São quatro os sentidos. Norte, Sul, Este, Oeste. São quatro, os ventos. São muitas as madrugadas. Sentado, oiço passos silenciosos nas minhas costas. Vejo de relance a tua sombra fugidia. Vislumbro um cheiro que não me é familiar, mas que reconheço. Sinto que me observam, sem me saberem ali. Enquanto houver ventos e mar, a gente vai continuar, enquanto houver ventos e mar!...

Porque tudo é tudo

Sete dias depois voltaste. Trazes no rosto a pele pálida que o sol não queimou. Caminhas sensatamente pela luz. Mudaste. Referes hoje as forças que gastaste com a mudança. O chão de quadrados pretos e brancos, são o tabuleiro de xadrez com que preparas o xeque-mate. Trocas o peão pelo cavalo. O cavalo põe a rainha em cheque. O Rei vai se escapando. Tu sabes que não vai conseguir escapar-te. Estás a preparar o ataque. Tomas precauções, calculas. Irás pela certa, certamente. O cerco cada vez mais se aperta. O Rei está fraco e denuncia os seus súbditos. A rainha transforma as rosas em pão. O teu tabuleiro esta cada vez mais vazio de figuras, mas cheio de tudo. E tudo é tudo. A tua vida não é um jogo. Estás prestes a derrotar figuras assegurando tudo. E tudo é tudo. Estás em separado a separar-te. A desprender-te. Estás finalmente de viagem de encontro ao começo. Os recomeços não existem. Tudo começa e tudo acaba. É no durante que habitas. É no durante que decides acabar. É antes de acabar que decides começar tudo de novo. Sim, porque tudo é tudo. O Rei morreu. Vive entregado. Entregou tudo o que não lhe pertencia. Vive morto. Não suporta viver morto. A alma fugiu-lhe em pequenos diamantes para um rio serpenteante infindável. Um rio grande e veloz, cheio de arvores que sombreiam as suas margens. Um rio que não desagua. Um rio que não tem nascente. Um rio presente de aguas transparentes como os sonhos. Um rio que grita. Um rio que chora. Um rio que adormece e acorda. Um rio de peixes coloridos e felizes. Um rio de prata. Um rio de ouro. A lua é cúmplice do rio. O sol canta para o rio, e cega-o. De degrau em degrau o rio sobe escarpa acima. Desce devagar, quase que parado nas frescas madrugadas. O rio é simbiose. Equilibra a alma que não tem, com o que os amantes lhe deram a espiar. Os beijos que trocaram ao vê-lo passar. Guarda tudo. Porque tudo é tudo......

Quase medo !...

Cada ruga que te causei marca me. Almoço e janto bem, assim como os nossos. Cada dor que sentes eu sinto. A tua pequenez enche de grandeza aquela casa enorme. O Inverno é aconchegante. Os cheiros com que perfumas aquela casa são únicos, são especiais, são diferentes. As tuas flores estão regadas. Estão sossegadas, como se num sono profundo te esperassem, para voltarem, a ser felizes. E são muitas como sabes. São muitas as flores do teu jardim. O jardim que plantaste com vida, com entrega, com carinho. A minha alma escureceu. Escurece pelo pânico de te perder. Escureceu de saudade. Escurece dentro de cada minuto. Ilumina-se a cada minuto de fé que consigo sentir. O teu sorriso esta cristalizado dentro de mim. As tuas penosas preocupações. As tuas aborrecidas preocupações, são hoje saudade. Os teus gatos estão tristes, sem vontade. Já não fogem á minha presença. Estão á tua espera. Serenos. O teu marido enrola-se pelos cantos. A tua neta vai-nos cuidando. Nos vamos cuidando dela. Tu vais cuidando de nós. As camisas estão passadas. O cheiro a hospital instalou-se no meu nariz. Abomino. Não te preocupes. Volta depressa. És flor, sol, riso e música. És as paredes e a cor da tua casa. És a luz da nossa vida. És referencia, és caminho. És o meu poder superior. És a minha mãe. Beijo.

Maxime !

Recuo uns anos e revejo-me. É nas diversas visitas que me faço, que avanço. Recuo para avançar. Nunca percebo que estou a avançar. Vejo-o depois, quando me revisito. Inteligência é gostar de pessoas. É ter uma boa alma. É tratar bem. Ser e estar presente. É caminhar pela verdade, pelo coração, na poesia que é a vida, ter tempo para viver a Natureza. É nela que existem as respostas. Forçar não é Amar. Abrir mão é respeitar, admirar, não tendo á mão o julgamento. Julgar que faríamos sempre diferente, é não nos igualarmos, a alguém que vive com as mesmas necessidades básicas. É julgar o essencial e o acessório. É diferenciar. Na diferenciação nasce a hipocrisia, a ambição desmedida, o lucro fácil. A vida encarregar-se-á sempre de sinalizar, de ensinar. Nem sempre se recolhem ensinamentos. A vida não é a praça da alegria, mas é nas praças, que fazemos alegria. Ontem tentei em plena praça da alegria ter alegria. Não naquele programa televisivo. Vi uma fila de pessoas iguais, tentarem entrar num bar, não moderno, mas da moda. Fazia-se uma selecção apurada á entrada. Entravam os amigos do porteiro, do dono, quem acusasse maior teor alcoólico por milímetro cúbico de sangue, ou quem se tivesse drogado há menos tempo. Cinco portas acima num bar anti moda, estava a começar a tocar, três dos melhores alunos de uma velha e primeira escola de música em Portugal. Traduzido quer dizer, Quente Club. Vazio. O porteiro deixa entrar pela alma. Agradece e sorri. Não frequenta ginásios de embrutecimento. Tem que se gostar. Tem que se admirar. Estavam os do costume. Os da casa. Á saída a praça estava em paz para quem saia. Cinco portas abaixo tudo na mesma. A incapacidade de sentir era geral. A moda e os decotes ditam as lei. Vendo bem não se vive na grande cidade. Sobrevive-se. Que bom é estar longe, e ter acesso quando me apetece. Vai-se porque se quer e para onde se quer. Não se vai pela obrigação de ter que se ir. O velho e quente bar cheira a jazz. O bar da moda, promove o “despensamento” , a gestão é engraçada, é de um ex candidato á presidência da republica, que gosta, e, pode  brincar aos presidentes da republica. Faz uns acordes, arrota e diz palavrões. Acredita que pode mandar alcatifar Portugal. Deus proteja o “pobrecito” e faça com que as adegas nunca sequem.