Entre o deve e o haver fica inscrita a estatística. Manipulo os resultados. Planto a arvore que não plantei. Baloiço o filho que gerei. Passeio-me nas margens, onde não te encontro, sabedor do desencontro. Saber-me desencontrado fascina-me. Intelectualmente trocado pela razão. A membrana que separa o coração é ténue. Dilato os vasos sanguíneos. Troco o ar respirável pelo irrespirável. Sou metano poluente. Sou ar venenoso. Reajo á química e purifico. Sinto as artérias na barriga. Descompenso. Esquiziofrenizo. Destaco-me em burburinho na multidão. De soslaio sinto-me invadido pelos olhares que me cruzam. Cruzo a praça para o outro lado. A solidão afasta-me da alma. Escrevo em passos largos uma prosa sem nexo, invisível. Purga-me. Alivia-me ter que viver. Alivia-me das esperas, quando te espero. Pior, quando sei que te faço esperar. Acho injusto. Saber-te aí desse lado, da ânsia que sinto. Mas não venho. Não vou. Não volto. Espreito da praça para o castelo através das nuvens. Os meus gestos são pesados, estou preso, estou pesaroso. Emagreci ontem. Adormeci num sorriso tranquilo. Enfrentei-me, mas receio. O meu nome é estranho. E se o marido descobre? Escondo-me na margem do rio. O meu Amor é fugidio. Raro. Incolor e insonoro. E se o marido descobre? O meu Amor é agnóstico e ateu. Sou transparente. E se o marido descobre? E se eu acordo a Amar? Salto do castelo para a praça. É alto, mas antes de bater, voei. Voei longe e não voltei. Voltei na migração seguinte rejuvenescido. Africa é logo ali…. Era para lá que eu fugia. Num regresso atempado, para regressar. Desnascer será viver?
Aproximei-me lentamente. Calmo, frio e lúcido. Já antes o mar invadira o paredão. Estava a lua á janela. As trocas de sílabas ajustavam os nossos gostos. Líamos o mesmo autor. Ouvíamos o mesmo compositor. Mesmo sem estar nos mesmos sítios encontrávamo-nos. Falamos dos sítios que haveríamos de visitar. Sonhávamos juntos em camas separadas. O firmamento iluminava o nosso astral. O mundo parecia parar quando nos ligávamos. Eram verdades benditas misturadas com mentiras de sonho. Os fios ligavam a nossa existência. Os satélites espiavam as nossas conversas em devaneio. A nossa espiritualidade era soprada pelo vento, que fazia lá fora. Os vidros das nossas janelas humedeciam por estar quente. Trocávamos música e poesia em silêncio. Trocávamos quadros, pareceres e amigos. A vida encantada tornava-se real. Real era o sentir do encantamento. Esperávamos pelas trocas, horas e dias a fio. A música era a companhia no trajecto. Eram conduzidas. Ouvidas e escutadas. Re-ouvidas como um re-tratamento. Uma historia de verdade. Com sujeitos e predicados.
Silêncios. A mágica atitude de dividir silêncios incomodativos é uma arte. Dividir silêncios é como enviar um olhar colorido e cúmplice. Os olhares e os silêncios podem ser terrivelmente próximos ou arrasadores. São quentes e gelados. São ódio e Amor. São vida e morte. Pode ser começo e final. Ser orquestra. Ser silêncio, afinal. Ontem senti um olhar envergonhado, silencioso e cheio, de encontro a mim, no final da tarde. O sol já se escondia na serra. Já de madrugada, o silencioso sorriso teimava em acompanhar a lua erguida no céu. “Dentre” as estrelas balançam sons que se ouvem em silêncio. “Dentre” os sons bailam cometas incandescentes, num encadear minimalista. Na madrugada admiro este bailado denso. Turvo pelo fumo que aspiro de um cigarro, e expiro de encontro ao céu. Silêncio que partilho com o fresco do varão onde me encosto, debruçado pela noite dentro. Oiço aqui e ali a matéria a ceder. O barulho quieto da matéria. Tudo se transforma. O mar bate de encontro ao rochedo que cede. Tudo cede, mais tarde ou mais, cede. Cedem as palavras. Cedem as acções. Cede o temperamento. As horas mudam a cada estação. As horas são ditadas pelo tempo. Adiciona saber. Junto ao mosteiro quinhentista, sinto a empatia brotar de uma canção. A melodia junta-se ao silêncio de um abraço. O abraço magico que retempera as horas do sono acordado. Tenho sede. Oiço a água bater na pedra da fonte. Vislumbro o beco dos parasitas. Sitio, onde jaz quem não Ama. Acordado sinto a imaculada febre de viver. O Abril guarda a Liberdade. É tão difícil dizer Amor. È bem mais fácil dizê-lo a cantar. Em silêncio me recolho, observado pela felicidade efémera do desejo. Em silêncio………….Na Tertulia.....
Preconceito é um conjunto de pensamentos, afirmações, julgamentos ou insinuações feitas a nós próprios dentro de determinado contexto efectuado com determinado ajustamento.
Quero dizer:
- Quando catalogo determinada característica a um qualquer ser, que na minha forma de ver, é desajustado, promovo eu mesmo o preconceito. Logo o preconceito começa por eu achar que alguém é preconceituoso. O preconceito não parte dos outros. Achar que alguém vale pelo que aparenta, e não pelo que é na sua essência, é o preconceito. Eu vivi meses, não, anos. A ténue fronteira entre o ideal e o real é ver aquilo que queremos ver. Lutei para manter a cortina da ilusão. Senti o esforço do lado oposto, que me fez ver que ainda posso confiar. Quando existe a dúvida, nada posso fazer para recriar a cortina da ilusão. Mentalmente cego e convencido da minha grandeza, jamais serei capaz de evoluir. Eu criei um halo e idealizei pessoas. Perdi!... De repente, percebi que todas as falhas que senti ao longo dos tempos, não eram falhas ao acaso, apenas se deviam a uma falta de flexibilidade mental e capacidade de adaptação e aceitação a mim próprio, não aos outros. Houve coisas que aprendi, outras que talvez volte a errar. Houve feridas que vão ser difíceis de sarar, houve danos permanentes. Quando gosto de alguém, entrego o meu coração todo,embelezado, não sei dar uma parte agora, outra amanha, depois não dar nada, fazer jogo político e negociar. Quando descubro que confiei na pessoa errada, ou choro, ou luto. Já chorei demais, agora vou lutar pelo despreconceito...
Fosse o que fosse que entrasse jamais saia daqui de relance. Relancei-me porque voltei a lançar. Da madrugada nascem pegadas. O ouro com que pinto incandescente os meus olhos, cegam o traço com que desenho o meu rosto cinza. De madrugada fiz um filho. Filho que nasceu de mim. Filho que levarei ao morrer da vida. Pelo caminho esqueço-me das sementes. A chuva há-de apanhá-las. Hão-de se gerar. Tudo se cria. Sinto um frio cerebral abraçar-me. Figuras sociais celebram á volta da mesa, numa romaria que tem vinho. Vinho com cheiro a adega, desempacotado, e sem rótulo. Oiço ao de leve, o borbulhar da fermentação. O suspeito do costume contrai-se. Circulo em contra mão. Não há trânsito nem sinais. Não há sinais evidentes que me forcem a parar. Vou continuar pela madrugada fora, ultrapassando cada cruzamento em contra mão. O esforço rebelde da saudade do tempo que ainda não tive, existe. Figuras incandescentes trespassam-me como equações por resolver. Por resolver continua a contínua desordem instalada na multidão. O fogo de artificio continua por estoirar. Estridente. Fragmentos sociais ferem-me. Resisto. Continuo em contra mão, atropelando o tráfego. Não respeito os sinais. Nem os Divinos. Vou por entre as tempestades e bonanças balançando-me. Cada vez menos conheceremos a Natureza Humana.
Cada vez mais o mundo me faz sentido. Cada vez menos sou requisitado. Eu decido. Ganhei o poder de decidir. Escrevi muito neste ultimo mês e meio. Escrevi muito pouco aqui. Passei dias a arejar. A lufada de ar fresco, é uma corrente de ar benigna. Doeram-me os dias últimos de Fevereiro. Passei-os sozinho, menos um. Já lá vão. Está tudo bem. Sou um "Paizão"como diz uma “amiga amiga”. Soaram-me acordes sensíveis. Não consegui desligar. Palavras abruptas jorram entre as sílabas. Algumas clandestinas, outras teatrais. Todas secretas. Quanto mais só, mais cheio. Sinto a vitória aproximar-se. Cresci. Não tenho medos. Confio em mim. "O essencial é invisível aos olhos" Nem mais… Sorrio…. Esboço "dentre" os lábios um sorriso acanhado. Conheço-me mais. Cada vez me conhecem menos. Não existe culpa. A culpa foi mais uma mentira que inventaram para me culparem. Como o pecado. Para me dissuadir vontades. Amei quem me Amou. Amo quem me Amou. Amarei quem me Amou. Mas não sou culpado. Sou um guerreiro que desce em socorro. Sou um ser pensante e errante. Vou voltar aos livros que não li. Aos pensamentos que não escrevi.
Se me tivessem avisado, não teria sacudido a poeira, que enevoava o caminho. Não teria desfolhado as paginas do jornal, teria-as folheado. Não as teria assim arrancado, como pétalas de um malmequer. Como quem arranca o coração da paixão, que não se sente, mesmo teimando sentir. Querer arder de paixão não é uma escolha. Não é um acto. Não é uma graça. Muito menos é uma decisão. É como passear no Cairo, e rebentar uma granada na esquina que se vai dobrar. Imprevisivel. Sem escolha. Gosto de não receber, nem ter que enviar sms. Acho estupido e irrita-me. Adivinho o sol desempoeirado. O Março já passou na França e esta aí. A Noite esta mais quente. Os dias vão mais longe nas horas que aguentam. Aguentamos dias e noites, como se irrepetiveis fossem. Dias somados ao saber do envelhecimento. Particulas de nevoeiro carregadas de brisa transparente, adormecem o passeio que teimo em dar na marginal. Fim de semana marginal. Marginal com margem. Avisto a outra margem, onde chamines fumegam a produção. Existe sentido na ponte que liga os marginais. Gosto de quem não conheço ainda. Quem conheço não desgosto. Mas não gosto de quem conheço e é martir. Aos martires não devia assistir o direito de chorar. Gosto de ensopado de enguias. Gosto de sopa e de fruta. A agua sabe-me bem é incolor. Neste Verão nadarei sem direcçaõ pelo mar adentro. Apanharei pelo fresco a madrugada. Hei-de subir á serra. Cantar, tocar e dançar. Hei-de ler. Hei-de entrelaçar os passos com a vida. Afinarei pelo timbre o cavaquinho.