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Cardilium

Cardilium

A saudade é como um lago celestial

Quando de ti floresce esse olhar admirado fico cego de ver. As montanhas debruadas no teu peito das minhas mãos não se cansam. Em ti, está aberta a mudança. A minha criatividade rebenta em palavras que imagino e torno-me adjacente de mim mesmo. Aproximo-me de mim de cada vez que te avizinhas de mim também. Ontem, de noite e já tarde, verifiquei que discursava sobre a emocionalidade da inteligência, e dentro de mim outro discurso paralelo se debatia. Dois discursos constantes e desiguais, rodopiavam tão cá dentro em igual e vertiginosa sintonia. Um, era escutado em silêncio por quinze pessoas. O outro foi vociferado e gritado num silêncio intangível que rebentou em mim, e de mim não se excluiu. Duas verdades distintas de um mesmo momento, de uma mesma essência, de momentos distantes feitos da mesma presença. Não se ouvem gritos mudos, mas sente-se a trovoada no olhar, nas marés, e na cacimba que a saudade traz, bradada e desaustinada. A saudade é miserável. A saudade é como lagos paradisíacos no meio do verde paraíso, afeiçoados por caminhos sinuosos, e por trilhos inconsolavelmente inacessíveis. A saudade não existe num sítio que se possa alcançar. A saudade é quente como um vulcão, e só de longe se alcança feita de recordação. Não me posso deitar com a paz nas margens do lago da saudade. Não se pode lá chegar porque fica há mesma distância da proximidade da memória existencial. A saudade é inacessível, sangrenta e gemida como quando se faz amor. A saudade nunca falece, é eterna. A saudade fica cravada com mesclas de património. A saudade é como um lago celestial, belo e inacessível de alcançar, frio e persevero.