Sabe-me a sangue esquartejado esta boca
A noite desventrada. Embargo massivo numa aldeia distante pronuncia a minha presença. A noite é sempre mais dispendiosa, carece de mais presença e companhia, luz e sotaque, sonho e desalinho, acerto, terra e lua, sol e nevoeiro. Para lá de mim próprio a calçada esbate-se no prolongamento dilatado das palavras. Noites nascem em que o afago me quebraria o pensamento e um olhar aliviar-me-ia desta travessia só e pungente. Sei o que é estar de boca cosida e as palavras abalarem no sentir, e num desabafo encontrare-me só. Magnifico exercício à ironia sublimada. Não pertenço a nenhum lugar fora de mim. Pertenço aqui a este, isento de mãe configurado de pai, com tantos anos, que pai poderia ser duas vezes.
Sabe-me a sangue esquartejado esta boca,
Penso na reacção sólida de transformar líquido os alimentos,
Penso em me cuidar cuidando,
Nas horas e nos remédios,
Nas contas adornadas da soma de minutos,
Que quero ver desgastado e gasto este tempo,
Penso que poderia aqui não estar,
Sem saber se em lado algum me afiguro,
Sabe-me a sangue esquartejado esta boca,
Reconstruída de sorrisos que irá herdar,
Deixei esquinas e amargos,
Presença de solidão ao largo,
E vim,
Vim sozinho
E sozinho me acompanho e cuido.