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Cardilium

Cardilium

A ultima

Rei posto, rei deposto. Assim se afigura cada mês antecessor sucumbido pelo seguinte. Não sou de euforias só porque de um minuto para outro, tudo muda. Na verdade, nada muda. O melhor que tem a ultima semana do ano dividida pela fé e pelo pecado, é que passam como as outras, e demora o mesmo tempo a passar. A primeira festa da última semana é de fé e suposto recatamento, para ganhar forças para pecar, na pro-sequente de forma consolidada e memorável. Numa alienação colectiva revejo os olhos, ora baços, ora vazios, ora esgazeados de trevas e purgas adiadas. Enfeita-se o país mais que as almas. Os dias não se sentem e as noites são bocados miseráveis de palavras que se soltam, banalizadas. Os abraços não se dão, emprestam-se por breves segundos, desculpados de um ano novo, usado e igual. Os sorrisos são alterados e induzidos, e a névoa atraca no porto de mar embaciando e adiando a realidade por umas impensadas horas. De manhã não está tudo igual, está tudo pior, mais roxo lírio agreste.  Mais viva, está a crueldade da solidão que se pintou de presença mentirosa. Os meus dedos vagueiam por uma escala e inventam uma musica de três acordes e parcas palavras quase defuntas de tristeza. No meu âmago sobrevive o caminho que tracei, as escolhas com que sonhei, a forma e o conteúdo do amor de sangue e dávida adjacente a quem amo. Não sou de muitos amores, sou de bons amores. Sólidos, revoltados de tempestade e vida em mim. Estive comigo, logo estive com quem escolhi estar. O melhor que tem a última semana, é que tem as mesmas horas que as outras. As mentes podem-se descontinuar e há mil formas intencionais ou não de o fazer, agora o tempo, esse tem o mesmo tempo de todas as semanas do ano.