Ladrões do tempo
Ladrões do tempo, seres ausentes que passam pela nossa vida e nada acrescentam, apenas roubam a preciosidade rara do um período irrecuperável, essa predisposição para a felicidade, que nos torna votantes de uma abstenção violenta mas construtiva. Inocência, ingenuidade, desencanto. A infância é o que nos molda e nos rouba pedaços de vida, fragmentos da alma. Necessito contar os contos da minha infância. Ora elixir, ora abstracção e castração. Psicodrama do menino que habita em mim. Jogo de fazer ressurgir comportamentos. Fantasias e afectos. Modificação e desenvolvimento de personalidade. Criança que ri e dança e se sossega, como se de um auto terapeuta se acolhesse. Continuo a entender e a sonhar junto com as crianças, esse mundo de fantasia e astúcia. Esse bando de alegria a caminho da tristeza e responsabilidade. A caminho da mudança da frescura, pelo azedo negro e defensivo do medo da angústia da idade. Gosto tanto de ler como de escrever, mas leio melhor do que escrevo. Abençoo-me e parto nesse dia ultimo, inicio de primeiro. Ladrões do tempo. Ausência consciente da medida fecundada, de partículas que não escolhi ou assinalei. Tenho tempo, não tenho o tempo. Tenho o meu tempo.