Saltar para: Post [1], Comentar [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Cardilium

Cardilium

Crise em si, em ti, em nós e em mim.

Definição de crise:

Crise (latim crisis, -is) 1. Mudança que sobrevém no curso de uma doença aguda. 2. Conjuntura perigosa; momento perigoso e decisivo. 3. Falta de trabalho. 4. Embaraço na marcha regular dos negócios. 5. Desacordo político que obriga o ministério a recompor-se ou a demitir-se. Crise nervosa: ataque de nervos.

 

Crise em si, em ti, em nós e em mim.

 

A crise pouco me diz. Ainda se fosse meramente económica, vá que não vá. Mas não, ela é intrínseca em nós. Recordo-me do meu professor primário, parca referência de identidade que guardo. Era de Santa Comba Dão e não me tratava pelo nome. Chamava-me pelo apelido, o que até nem me desagradava de todo, já que puxava ao meu pai. Mas sentia-me assim a ter nome de senhor, era estranho, não tinha nome de menino. Ignorância dele, beatismo e castração da minha liberdade individual. Uma crise.

 

Lembro-me da crise que era não gostar dele ou admira-lo. Da crise que eram os julgamentos da irreverência própria de ser adolescente. Da crise que foram os meus relacionamentos juvenis e adiantes. A crise em dizer não e dizer sim, mais a crise de não dizer nem não, nem sim. A crise da descoberta e da afirmação, mais a sexual e a opcional. A crise que eram os dias de chuva e os de sol também. A crise de não ser crente. A crise de ser pensante. A crise das ideias e dos ideais, mais a da negação e da aceitação. A crise do desajustamento e da inadequação. A crise pela crise, somente pela crise, e a existencial similar.

 

Em nome da crise e das crises, abri janelas onde nem paredes havia. Afoguei-me num rio e salvei-me no mar. Cresci num vulcão. Descobri-me num tufão. Caminhei no nevoeiro sem saber da luz. Encontrei-me imóvel onde tudo à minha volta rodopiava alucinante. Girei imóvel no carrossel da crise. Da ironia fiz o meu alento. Ri e chorei das mesmas lágrimas. Amparei-me em seres escassos e carentes. Fiquei mais forte do que a crise e esta ficou mais pequena do que a ilha onde habito, das nuvens onde me balanço, do alto de onde me ergo, do céu de onde me pinto, da terra de onde me escavo, da miséria de onde me encanto, da loucura de onde sobrevivo, da vida, e das sete cores de um barco de íris atracado num porto, na espera feita de partida segura no seu velejar seguinte.

 

Gosto do desassossego desta crise transformada em quietude e feitiço.

Comentar:

Mais

Se preenchido, o e-mail é usado apenas para notificação de respostas.

Este blog tem comentários moderados.