Surpreende-me com antigamente, pedi.
Surpreende-me com antigamente, pedi!
Mas a criatividade da surpresa já não se tinha de pé. Não se sustinha. Tinha-se perdido com os anos. Até as palavras e a soma da raíz quadrada estavam adulteradas. Já não havia mais noites sábias ou acordardes surpreendentes. O mar já não habitava irrequieto o meu peito, a lua não espelhava a sombra do meu caminhar. A comunicação afundara-se na difícil subida da montanha. Se as palavras não encaixavam mais, os conceitos eram outros. Apenas a contradição nos alimentava. Estava na hora dolorosa da partida. A partida é uma decisão. A partida sendo uma decisão pare a resistência. Por ser uma decisão, não por ser uma partida. Isso, ambos o reconhecem.
Sei, que acordando assim, todos os dias sem assombro, é apenas uma questão de contraposição a partida. Somos um País de viajantes. De desacautelados viajantes. Partir assim sem rumo, sem maré ou poiso certo, é apenas dar existência há minha vida. Só me sinto vivo perto da morte, ou semi-perto dela. Partir, é sair deste estado moribundo, é apenas dar-me direcção e rédea. Melhor assim não resistir e partir. Pior assim, resistir e ficar.
Quero partir com o teu sorriso, com o reconhecimento de quem te guarda e leva. Quero sair sabedor da tua importância, do farol que me iluminou em tantas angústias, o peito que me secou as cascatas de lágrimas, o ombro que acolheu os meus sorrisos. Mas tenho que ir, para sempre, só por hoje vou. E hoje é sempre, e o sempre é o passado, e o passado somos nós. O amanhã não existe ainda. Só existe a noite passada e hoje.