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Cardilium

Cardilium

O rio como testemunha

É bom estar ali de madrugada com o rio a passar-nos por trás, a ver as luzes do bar e os roufenhos gritos existentes. Dádiva esta noite de amigos. Como de costume madrugada fora e por desistência sobramos eu e tu. Começamos lá atrás e devagar atracamos no hoje. E tanto que já vivemos. E tanto que já passámos, e tanto que nos zangamos e abraçamos. Rimos cúmplices de conhecimento. Falamos dos nossos pais e filhos, das nossas mulheres amantes. Da nossas viagens recentes como esta que aqui sentados fazemos. Falamos nas nossas músicas e poesias, dos nossos tratados como património emocional, da debandada que foi o passado e do prazer do momento. Mais à frente ouvem-se as roulottes abafadas de gente esfomeada, e nós ali serenos, agasalhados do frio das quatro da manhã. Sítio mágico este, o rio, o açude, os bares lá em cima, as pessoas movimentando-se e nós ali no muro pertença das nossas conversas. Preciso de um noite destas de seis em meses pelo menos, não é que não a tenhamos, mas assim, só eu e tu, sem mais ninguém, de madrugada, e com o rio como testemunha. Abraço amigo.