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Cardilium

Cardilium

Vou até ao Mali. Já venho.

As palavras aveludam o delírio de eu querer voar. Ter asas e não voar, é como ter sonhos e não os praticar. Quem sonha alcança, quem persiste encontra. Um dia virá, em que o espaço e o tempo serão uma oferta de mim, a mim próprio. Estou na praia onde o teu cão correu desalvoradamente e onde eu, no meio de mais de um milhão de finos grãos de areia, encontrei o teu brinco perdido e, achado no meio daquele abraço contínuo. As ondas estão calmas neste mar turquês. Perco-me num cigarro prazeiroso. Roufenho o rádio toca uma musica que me parece longe e distante, nostálgica e profunda. As notícias dizem o mesmo desde as sete da manhã. O mundo está parado. Não existem novas novas, nem boas ou más novas. Chove uma ventania de sul que me beija a face. Retrospectivo o tempo que me tem aqui, o que me deu, o que fiz para me dar. Nunca trabalhei nem sozinho, nem tantas horas. O mar sobrepõe-se agora à roufenha voz em frequência modelada de encontro às rochas onde as gaivotas se juntam em convívio, onde se balançam nas ondas, como crianças em baloiços nos jardins coloridos da cidade. Do outro lado da baía o sol ilumina dourada a areia e rompe as nuvens em raios que ostentam confortabilidade. Vou até ao Mali. Já venho.