Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Cardilium

Cardilium

Sou um homem persistente

Sou um homem persistente comandado por ideais, sonhos e liberdades. Não é fácil para quem me quer bem, viver despreocupado comigo. Tenho nas mãos dedos que reagem ao toque e regem a minha vida. Tenho uma guitarra deitada a meu lado que tem cheiro a sótão. Não é um sótão escuro, soturno e empoeirado. É um sótão preservado de relíquias, de fogueiras com chamas a arder, de músicas cantadas nos montes assobiados pelos ventos e faces rosadas como tangerinas. No fundo de mim, um lago tem nas margens flores penduradas, como cachos lilases de uvas amargas que germinam um vinho, doce e único. Um olhar terno, embaciado e escusado, escusa-se ao meu. Dou umas boas noites tímidas e refugio-me. Bastas vezes me bastam ali sentado na margem. Margem de mim. Pego numa estrela e baptizo-a. Dou-lhe um nome e rogo-lhe que dali não se exclua. Juro-lhe fidelidade com um olhar. Como a lua está crescente e a estrela vive mesmo ali ao lado, temo que a lua a ofusque, e que eu amanhã não a vislumbre.

 

Como posso eu explicar a alguém que a estrela é a minha casa e a lua a minha luz?

Como poderá alguém entender que se jure fidelidade com um olhar sem palavras?

Como será entendido que um lago seja a minha alma e a margem o meu leito?

 

Qualquer criança entenderá que sou um homem persistente comandado por ideais, sonhos e liberdades, qualquer adulto se desmarcará de ridículo pensamento. Sou uma criança e um homem persistente. Não é fácil para quem me quer bem, viver despreocupado comigo