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Cardilium

Cardilium

O tempo é: as passadas que desenho.

O tempo rasga de água o que dele esperamos. Faz da pedra dura água mole. O tempo preenche em vagas os girassóis que se plantam na planície e que rodam em volta da terra ou do sol. O tempo abraçado na água é vida. O sol é adubo. O tempo é mutável e transformista. Converte-se a ele próprio nele mesmo. Reduz o nosso tempo em vida. O tempo não existente é inimigo, mas o tempo não é desistente, logo é concilio. O tempo é paciente. Nós somos impacientes com ele. Nós somos dele e ele é feito de nós. O tempo não nos retira, adiciona. Anexa o que gostamos e não queremos e subtrai o que não queremos e gostamos. O tempo é um exercício. É duro e escasso, suave e longo.

 

O que já fiz eu com o tempo?

 

Já fiz com o tempo dedicação que julguei não ser a tempo. Já me senti existir no tempo e não era tempo para existir. Já caminhei pelo tempo adentro, afora e fora de tempo. Já fiz do tempo lágrimas, sorrisos e fui aprendiz de alegria. Fui viajante sem tempo e no azul do céu fiz um astrolábio, que me indicou o caminho depois das colinas se terem refugiado no mar. Fui bailarino, cantor e escritor, embuçado e diamante por garimpar. Fui fortuna e insolvência religiosamente medida, o tempo não tem medida ou imposição. O tempo é hoje. O tempo é já. O tempo não urge ou se abandona. O tempo não sendo coisa nenhuma é o aqui e agora. O tempo sou eu, és tu, somos nós e um mar plantado de girassóis de ondas suaves e eleantes, sem pressa, sem noção, disfarçado e aderente.

 

O tempo é: as passadas que desenho.